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Toda vez que vou falar sobre algum filme de Woody Allen,
lembro que só assisti a aproximadamente* cinco filmes dele. Ou seja, segundo os
padrões do INMETRO, eu não deveria nem ousar tecer algum comentário sobre esse
cineasta que as pessoas elevam ao status de gênio porque as pedras atiradas no
topo proporcionam um “efeito estético” tipo assim mais “manero”.
Antes de começar a escrever lembrei também de um desabafo do
escritor Paulo Roberto Pires, o qual ainda não li, mas que me permiti coletar
no Facebook de uma amiga (alguém tem de fazer o "trabalho sujo")**.
Dirá Pires em bom português: “Por isso, nunca mais a
escrita de resumos cretinos de livros cretinos, cretinos ainda que importantes.
Nunca mais as leituras de quiméricas propostas de livros que não existem, nunca
mais as histórias medíocres que misturam partes de outras histórias medíocres
em busca do sucesso medíocre. Nunca mais, para resumir, a caftinagem consentida
do mundinho literário.”.
Resumo da ópera: não tenho “propriedade” para falar sobre Woody
Allen, mas falarei assim mesmo. Assumirei o risco de causar um infarto em
Pires, quando ele me ler...
Ah, esse risco não existe... Se eu ainda não vi todos os
filmes de Woody Allen, que é unanimemente considerado um gênio, que pretensão a
minha de querer ser lido por Paulo Roberto Pires: o entediado...
Lembrei agora de outro amigo que afirmou , durante um jantar entre amigos, que boa parte da crítica é feita
com base em livros não vistos e filmes não lidos. Não sei se seria tão radical ao afirmar isso.
Principalmente, levando-se em consideração o conceito de leitura vigente, que
se baseia na ideia da leitura como a ilusória capacidade de captar e estender o
resumo do absoluto gravado nas retinas de Deus.
Minha crítica é suspeita porque achei muito bom o filme (mas
confesso que, depois que a película se consumou, apalpei-me para averiguar se
tudo estava em ordem. Afinal, não é todo dia que se escapa são e salvo da
experiência traumática de ser submetido à performance dramática de um indivíduo
da família Baldwin).
Contudo, o filme é menos melhor que Meia-noite em Paris. Minha análise é suspeita porque, além de ser uma análise, não conheço a obra do cineasta e, portanto, corro o risco de comer ktsch
de miragem como se estivesse a beber a última Pepsi Twist do deserto. Mas, é
assim mesmo: algo sempre será mais inédito do que outro algo mais repetido...
Chamou-me bastante atenção a atriz Ellen Page, que já foi
indicada ao Oscar e ao Globo de ouro, mas que a mim traz como lembrança primeira
sua atuação como Lince Negra, no filme dos X-men
(mas ela não tem culpa das minhas memórias...).
A personagem de Page é uma típica militante do Movimento Eu Sou
Cultural (MESC). De tudo ela conhece... algumas frases. E consegue convencer
até mesmo um Nietzsche de que o mito de Sísifo é um texto capaz de revolucionar
o sistema solar.
Fonte da imagem: UOL entretenimento |
A personagem é atriz de fato, mas filósofa de direito. E,
como boa “advogada”, sabe, com base na citação do menor inciso, dar a impressão
de conhecer todo o ordenamento jurídico, deixando os que a ouvem tão
boquiabertos que se chega a enxergar até mesmo o siso já extraído. Daí para
despertar a paixão de um homem e dragá-lo para a cama é um pulo.
A personagem faz juz ao mito de Sísifo. Seduz (de
preferência o namorado de alguma amiga porque o capim do vizinho é mais gostoso),
faz o carinha sacrificar tudo e, quando ele chega ao topo do sacrifício,
puxa-lhe o tapete e não lhe dá nem o gosto de ficar para assistir à pedra
esmagando o besta.
Woody Allen trabalha fórmulas já esgotadas? Sim... Mas, o
talento do cineasta, na minha imprópria opinião, é preparar um leito de enfado e
tédio onde o clichê se deita para fazer amor com a audiência. Mas, na hora H,
quando levantamos o véu para beijar o clichê, somos surpreendidos (inquietados?) seja pelo
riso, pela ternura ou pelo desconforto.
Até o gesto mais comum de cantar no banheiro se torna, no
delírio de Allen, algo surpreendente. E o diretor dá continuidade à estratégia (adotada em Meia-noite - de fusão entre passado e presente – sem nos dar o direito de optar
decisivamente onde começa o antes e termina o depois. Esta estratégia aparece
escorada numa exploração da encruzilhada entre o que é o personagem, o que são
suas memórias e o que é a voz de sua consciência, colocando-nos em dúvida sobre
o que é de carne e osso.
O cineasta afirmou que Para
Roma, com amor é um dos piores filmes feito por ele. Este e os demais
feitos por encomenda para prestar um tipo de homenagem a cidades-luz espalhadas
pelo mundo, a exemplo de Paris e do Rio de Janeiro, cidade que será a próxima
vítima do talento de Allen.
Ah, com relação ao filme... Longe de qualquer ironia, se Para Roma, com
amor é um dos piores filmes de Woody Allen, tenho medo dos melhores, que
fatalmente me obrigarão a utilizar algum superlativo, coisa que não gosto.
Os superlativos são associados a algum tipo de
êxtase, mas pra mim são entediantes. Ótimo, maravilhoso, péssimo: essas
palavras aguçam meu desconfiômetro, embora eu saiba que muitas sinceridades de
ouro 25 quilates brotam de superlativos.
O problema dos superlativos é que eles me soam como um tipo
de ante-sala do abandono. Lembro de Cristo entrando em Jerusalém ao som de “Hosana
nas Alturas!”. As pessoas se rasgaram em superlativos e depois o abandonaram ao
som do não menos superlativo “Crucifiquem-no!”. Sim, talvez com certeza as pessoas te recobrem de superlativos para, em seguida, abandonarem-te nu na medina.
Se um de nós dois morrer, Paulo Roberto Pires ou Woody
Allen ou eu (Deus nos livre e guarde!), espero que os críticos e os senadores nos
concedam ao menos a indulgência plenária...
* ;)
** :D
Trailer do filme
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