29 de junho de 2013

Nobre Obi-Wan Kenobi


Não apague seus escritos
Pois as tábuas da Lei foram quebradas
Mas o amor, Deus o inscreve
Na terra infirme do coração, sem utilizar as mãos

Nobre, não pense que não quero desistir de ti
Por causa de orgulho ferido ou de teimosia cicatrizada
Tu és a inspiração para meu não-desistir
E o não-desistir que teu lindo rosto me traz
Não é composto de obsessão
(de um pouco de aflição, certamente talvez)
O não-desistir de ti é feito de silêncios de cabelo assanhado,
Do prazer de poder esperar pelo retorno de quem quer retornar pra mim
E meio que não sabe como
E da timidez mais cativante que já se exibiu nos palcos do meu sortudo destino
E dum abraço onde podes esquecer os engenhos, as heranças
E encontrar a riqueza do minifúndio de um cheiro bem apertado nesse rosto Nobre e encantador

Como esquecer facilmente quem me ensinou a amar em silêncio?
Por que me sinto importante para ti
Quando a evidência trazida pelas opiniões dos amigos e dos não-tão-amigos-assim
Insiste em me fazer crer que sou pra ti um nada e que és pra mim uma ilusão despropositada?
Nessa hora, entra em cena a fé
Porque a crença no invisível me traz nítido e brilhante um Eu-te-amo
Que nenhuma opinião alheia consegue ofuscar
Mas, isso é tranquilo
Porque se eu estiver enganado,
Deixo que a esperança continue sua viagem na garupa das minhas solidões
Que não são só minhas, mas de tantos olhares sem pouso que vejo gravitarem pelos Recifes
E pelos mundos adentro

Nem acredito em vidas passadas
Então, por que a saudade que mora nos meus descampados
Traz nas mãos uma procuração assinada por vidas mais antigas
Que os desertos dos quais foi tirado o amparo do dilúvio?

Não me envergonho de trazer um abraço que é teu e não pode ser de nenhum outro,
Meu Nobre
E a lembrança de teu rosto me ajuda a enfrentar
As intempéries da mesmice que se precipita sobre minha poesia
Quando tiveres um tempinho, conversa comigo
E, não viaja sem que eu te dê um abraço
Pois não importa as mentiras ou verdades que tenham te dito a meu respeito
Ou que me tenha dito eu a teu respeito
Ou que tu te tenhas dito a meu respeito


Porque te amo a despeito de bússola, atestado ou veredito.

21 de junho de 2013

Recife pediu licença para protestar em paz com ajuda de Zélia Duncan




Foto: Cláudio Eufrausino (20/06/2013)

Ouvi muito frases do tipo: Ontem todos no Recife eram um só coração, uma só voz, uma só luta!

Não, a beleza do que aconteceu ontem não está numa suposta homogeização coronariana da população. Bonito foi ver apenas vinte centavos tornarem-se uma fortuna, desfiados como contas do rosário das diversidades.  

Geraldo Vandré foi o grande homenageado, pois sua profecia se concretizou: as flores, não só venceram como fizeram murchar os canhões. Outra homenageada foi Jan Rose Kasmir, que ameaçou as forças armadas do Pentágono com une petite fleur blanche.

E a inteligência subestimada dos pernambucanos-brasileiros-latinos-americanos fez conexões que, há muito, mereciam ser feitas: como a de que não se pode pleitear a democracia num país em que se propõe que o ser humano seja curado do direito de existir. 

Quanta tristeza assistir desavisados apoiando a extinção da homossexualidade, enquanto seguem tomando no cu imposto atrás de imposto, assalto atrás de assalto, engarrafamento atrás de engarrafamento, Upa atrás de Upa: centavo atrás de centavo.

Eram vários corações batendo em ritmos os mais diversos transformando em trocado os impulsos fascistas de uniformização das atitudes que alguns canalhas querem acrescentar ao absurdo rol de impostos que oprimem a nação. Se rasgar dinheiro é coisa de doido, então eram muitos doidos que estavam ali, porque rasgaram vinte centavos e, com os destroços, criaram alimento para 50 mil (?)

Che Guevara tremeu de alegria em sua morada celeste, pois seu lema era texto implícito de todos os cartazes que povoaram o protesto. Havia ternura na atmosfera. Não havia pensado que viveria para estar numa manifestação onde as pessoas pediam licença umas às outras. Não houve rendição nem à violência nem à tendência, à brasileira, de transformar tudo em carnaval para, no dia seguinte, retornar ao conformismo que nos reduz a cinzas de uma apática quarta-feira, que acha normal não ter o que comer, mas afirmar que dez centavos é nada.

Um rapaz foi espancado por um infeliz. Mas foi amparado por um cordão de isolamento composto de manifestantes, que não abandonaram o cenário do crime, como é nosso hábito fazer, entendendo que a violência e a miséria não teriam nada a ver conosco a não ser quando arrombam a porta de nossas casas.

Cantou-se o hino nacional. Não em memória do fascismo do Movimento Integralistas, mas sim para desintegrar as memórias dos fascismos que, centavo a centavo, são destilados em nosso dia a dia e, disfarçados de atitude banal e corriqueira, ancoram nossas mentes à mentira de que é nosso destino sermos uma pátria de degredados, condenados à miséria, ou de degradados, condenados a almejar como mérito a vantagem escusa e o compadrio. Ah,meu amigo, pegue seus vinte centavos e coloque no SUS!

Encontrei um grupo de amigos do Aikidô, no caminhar pela Boa Vista rumo à Aurora. Não era mera coincidência, visto que Aikidô é uma luta que abre mão da violência para vencer o “adversário”, ensinando-o o melhor jeito de cair. Sentia nas pessoas essa vontade de ajudar uns aos outros a cair, transformando a queda em plataforma de voo: Seria este o traje que a esperança desfilava naquela tarde efervescente de véspera de inverno.

Tive o desejo egoísta de converter aquele momento em eternidade, mas não seria justo, pois é muito lindo sonhar que as pessoas têm o direito de construir seu próprio caminho com direito aos descaminhos que dele brotarem.

Seis da tarde: a hora do Ângelus. No furacão dos meus pensamentos, o Nobre Alguém era uma brisa ranzinza que protegia meu caminhar (e que, talvez e infelizmente, não tornasse a ver). Eu não trazia cartaz, não pintei a cara, mas o meu coração trazia escrito um pleito que pedi emprestado de uma música de Zélia Duncan: “Por favor, não vá ainda. A noite é linda: me espera adormecer”. Queria que este Alguém não deixasse de fazer parte da Nova Aliança. Mas, o que mais quero mesmo é que, onde quer que seus passos estejam, seu espírito traga um cartaz onde a felicidade estampada seja tão grande que não tenha palavras para se expressar.

Fotos: Cláudio Eufrausino







































16 de junho de 2013

O método hiperestético paranoico-crítico de Salvador Dalí aplicado de forma dantesca nas manifestações paulistas contra o aumento da passagem

Foto by Domingos Peixoto - O Globo

Guerreiro, vândalo, terrorista, herói. Estes termos têm se confundido no imaginário da população, reduzindo o valor dos esforços humanos a triviais metáforas bélicas costuradas a referências ultrapassadas do comunismo e do totalitarismo. É um tipo de surrealismo às avessas.

Manifestantes e policiais de butique compõem um quadro surrealista em que a liberdade traz numa das mãos gás lacrimogêneo, noutra vinagre, noutra a herança que tenta desesperadamente combinar a “cordialidade brasileira” ao “autoritarismo colonizador”.

Gilberto Freyre chamava atenção para esta tendência ao mencionar como, na Casa Grande, num instante a Sinhá era íntima da mucama e, logo em seguida, arrancava-lhe todos os dentes, com um alicate e a ponto cru, movida pela suspeita de que a referida mucama pudesse lhe querer roubar o marido.

Salvador Dalí - The Dust of Souls - Releitura de O Inferno de Dante
Coisa semelhante, dada a devida proporção, passa-se no episódio de São Paulo. Tanto policiais quanto manifestantes encontram seu desejo de liberdade pousado na areia movediça do autoritarismo.

O pior é que, diante da indecisão entre a cordialidade e o autoritarismo, instala-se a covardia e abrem-se às porteiras para as mais terríveis pulsões inconscientes, como a tortura e o linchamento. A violência, nesse tipo de manifestação e, independentemente de que lado parte, deixa de ser regida pelo tradicional binômio ataque-defesa e passa a ser regida pela lógica do carcará: “pega, mata e come”. É uma violência, por um lado, com um quê de vingança contra as carências e as estiagens impostas pela existência, e, por outro, nutrida pela arrogância e “auto-suficiência” dos senhores de engenho que desejam eliminar, de uma vez, a ameaça para poderem retornar para a rede e lá ficarem comendo, peidando e sendo abanados (adulados) pelos escravos: Foi Gilberto Freyre quem disse...

E nem o pobre cachorrinho escapou, sendo atingido pelo spray de gás lançado por um policial que deu vazão à parcela autoritária de nossa herança colonial...

A vanguarda surrealista tinha por vocação descondicionar a razão de seu potencial autoritário. Fazia isso por meio do que Salvador Dalí chamou de método hiperestético paranoico-crítico. Isto porque, como um tipo de antena paranoica e também parabólica, procurava conexões de sentido que desafiassem a ditadura dos logicismos institucionalizados pelos poderes e pelos pudores.

O surrealismo d’aujourd’hui  continua sendo um método paranoico-crítico, mas, abrindo mão do potencial estético que confere doçura à paranoia e sensibilidade à crítica, acaba por se tornar uma máquina criadora de monstros que são uma hedionda mistura de razão e desrazão.

Assim como Dalí recriou o Inferno de Dante, por meio de sua paranoia crítica, as manifestações de São Paulo fizeram algo semelhante. Mas, parece que contentaram-se em ter como paraíso um estranho vaivém entre  um dissimulado purgatório e um mascarado inferno.

Na próxima postagem, falaremos sobre a releitura de Dalí para o Inferno de Dante, conjunto de imagens que está em exposição no Recife, no Centro Cultural Caixa Econômica até julho.

A complicada fronteira entre amor e obsessão trabalhada pelas artes

Taça-crânio, de Lord Byron


Na narrativa de Saint Seiya, a deusa Atena é perseguida pelo restante do panteão grego por ser considerada uma obsessiva. Motivo: compartilhava dos valores do Romantismo, como a ideia de tirar um dia na semana para amar sem querer algo em troca ou acreditar que a humanidade não deva ser destruída: oferecida em sacrifício em homenagem a Malthus.

Os demais deuses, em particular Hades, acham que os seres humanos devem ser destruídos e que se deva criar uma nova humanidade do zero ou, melhor ainda, que o cosmos passe a ser habitado somente pelos deuses num apoteótico rendez-vous.

Por trás da ficção, um conflito ideológico que assola a contemporaneidade “dos dias de hoje”: ser o plausível ou ser o sensível. Certamente talvez, estas não são opções mutuamente excludentes, mas, muitas vezes, têm sido tratadas como se o fossem. Neste caso, considera-se plausível não ser sensível ou, considera-se que o amor e seus derivados são distúrbios enquanto fechar-se em si mesmo seria razoabilidade.

De qualquer forma, os limites entre o sensível e o plausível são matéria-prima indispensável para as artes e a literatura. Nesta postagem, veremos alguns casos em que a arte explora, ora com humor, ora com seriedade, o conflito entre obsessão e razoabilidade, tendo o amor como fio condutor desta “disputa”.


Romeu e Julieta - Emblema máximo do conflito entre amor romântico e obsessão



Dalida - Bang Bang


Nancy Sinatra - Bang Bang


No mito,  temos Narciso e Eco, Cupido e Psiquê
Narciso y Eco, pintura de John William Waterhouse

Selena Gomez – Humor noir e cáustico para abordar a questão do momento em que o amor romântico descamba para a obsessão

Clarice Falcão e sua Monomania também levam para o lado do humor a tendência contemporânea de considerar os gestos de amor como distúrbios obsessivos


Piaf 



Razão e Sensibilidade – baseado no livro homônimo de Jane Austen. Trata com leveza as fronteiras entre estes dois sentimentos, buscando os momentos em que tais fronteiras se tornam borradas. Pela milionésima vez sou levado a citar Gramisci, para quem não há sequer a razão. Para o pensador, a razão seria uma paixão tão intensa que abriria mão de sua própria chama em nome de seus propósitos.

A escrita de Haroudo Xavier, no blog Devoras, aproxima RPG, literatura Fantástica e cultura Cyber Punk e mistura tempos "díspares" como Idade Média e Grécia Antiga para falar sobre o diálogo entre amor e obsessão.

O Único Jogo

"No, I don't wanna fall in love
No, I don't wanna fall in love
With you"
- Wicked Game, Chris Isaak

O sorriso fácil, a voz doce.
Era tudo tão óbvio.
Ela jogava com as peças brancas, sem sequer estar definido o jogo.
E4.
Ela sentou-se na mesa com uma amiga.
Elas sequer olharam para mim. Mas tudo começa assim, ninguém conhecendo ninguém.
C5
Não sou tão fácil, acho. Sento próximo, mas não olho para ela. A amiga, essa é a presa. Ela, ainda sem olhar para mim, conversa com a amiga, distraindo-a. C4
Chamo o garçom, falo alto.
Ela olham.
Me arrisco, mas o jogo realmente começa.
F6, E5
Olho para ela. Prestam um mínimo de atenção, e voltam a sua conversa.
Não vai ser uma noite fácil.
E6, Qh5
O garçom chega. Decido forrar o estômago, peço uma comida antes da cerveja.
Tento escutar o que elas conversam. Ligo para um amigo, não quero ir ali solo.
G6, exF6
- Fala, Cabra - Béé! - Tudo bem, Eric? - Tudo, e aí? - Aí que to vendo duas gatas. Mas não quero chegar sozinho, e aí? - Não dá, Roberto. Celina tá vindo aqui hoje. - Beleza, beleza. Até mais então. - Até, boa sorte aí. O destino jogou por ela. Qxf6, Nc3
E mal.
Percebo quando ela me olham ao telefone, mas, tenho certeza, não me escutam.
Ainda estou no jogo.
Gxh5, Nce2
Vou abrindo o jogo.
Olho para a loira. Mas sempre, sempre preferi as morenas.
A minha comida chega e peço a cerveja, e percebo, agora ambas olham.
Bh6, Ng3
Há uma dança de olhares, sem posições fixas.
Há uma certa confusão, cada um se protegendo como pode.
Qh4, a4
Elas comem e bebem.
Minha cerveja chega.
Outros homens também olham para elas. Eu devia ter notado eles antes, fui amador.
Agora, tenho de ter paciência. Ou não. Estou confuso.
Maldito Eric.
Nf6, a5
Há muita gente jogando, cada um se guardando.
A banda começa a tocar.
b6, d3
Me arrisco. Me levanto e vou até lá.
Os caras olham, eu os ignoro.
A meninas me olham com alguma expectativa.
0-0, Nxh5, Nxh5
- Tudo bem? Posso sentar com vocês?
Meu melhor sorriso, a voz adestrada, o olhar com grau certo de interesse e até, fome, mas sem exageros.
- Pode.
A loira diz, fingindo desinteresse e cortando a morena, que sei, ia rejeitar.
Nh3, Kg7
É um momento difícil. O cotidiano que tem de ser interessante.
A luta contra o som alto.
E ouvir, ouvir. Sempre ouvir.
axb6, Nc6
Elas são simpáticas. A morena, vai cedendo.
Talvez seja a bebida, talvez seja eu.
Mas nesse jogo, não sou de contar as bênçãos.
Be2, Kg6
Ambas são bonitas, inteligentes.
A loira mora perto. A morena, não, mas eu moro.
A noite desliza, suave entre os sorrisos.
Bxh6, Kxh6
Ambos fazemos concessões.
Uma verdade aqui, outra ali, em meio aos disfarces, as máscaras.
Elas sabem onde moro, que tenho um filho, minha idade, alguns gostos.
E vou, devagar, avançando.
Rxa7, Nxa7
É um jogo ganho, sem surpresas.
A loira vai ao banheiro. A morena, quase vai.
Discreto, pego sua mão. Ela fica.
O beijo só termina quando a loira senta.
Nf4, Nxf4
Conversamos mais.
A loira, esta visivelmente decepcionada.
A vela queima a mão.
Lembra de um compromisso, nos deixa a sós.
Bd1, Nxg2
A morena é linda.
Com ou sem óculos.
Com ou sem roupa.
Com ou sem... Tudo.
Kf1, Qxf2
Cheque-Mate.
Mas me arrependo.
Tanto esforço, para ganhar e só agora percebo.

Quem ganhou, foi a Rainha.

Procurando Nemo – Clássico infantil, que também brinca com as fronteiras entre insistência e desistência que tornam nebulosos os limites entre procura e obsessão.

Em Algum lugar do Passado – Um filme (também livro) que acrescenta ficção científica ao conflito entre amor romântico e obsessão

Pollyana – O jogo do contente é uma forma sutil e requintada de pensar a relação entre obsessão e amor. Pollyana  é obsessiva, mas sua obsessão, estranhamente trabalha para que suas “vítimas” sejam livres.

O Pequeno Príncipe – O triângulo amoroso Pequeno Príncipe, Rosa e Raposa reflete, de maneira alegórica, sobre a dança dos lugares no conflito entre razão e amor. Em relação à rosa presa numa redoma, o Pequeno Príncipe pode ser considerado “obsessivo”.  O jogo se inverte, porém, quando pensamos na relação entre o Príncipe e a Raposa.


Vestígios do Dia – Soma-se ao debate sobre as fronteiras entre amor e razão, o debate sobre a relação entre satisfação e covardia, entre sentido e conveniência. O filme (que também deriva da literatura) trabalha a pergunta-limite: É possível viver a vida sem sentimento?, que pode ser feita de outra forma: É possível viver sem abrir mão do sentimento?

I will love again (Lara Fabian) –  Caso clássico  onde  o repertório do amor romântico pode ser confundido com o repertório da obsessão


Serge Gainsbourg, Roberto Carlos e Julio Iglesias falam por si mesmos

Na pintura, a fronteira entre o amor obsessivo e o amor romântico perpassa toda a história, indo da pintura sacra à pintura “pós-contemporânea”.


Na escultura, um bom exemplo é a “maldita” Camille Claudel


Na poesia, podemos citar Byron e García Lorca

Gazela del amor desesperado - Lorca

La noche no quiere venir
para que tú no vengas
ni yo pueda ir.

Pero yo iré
aunque un sol de alacranes me coma la sien.

Pero tú vendrás
con la lengua quemada por la lluvia de sal.

El día no quiere venir
para que tú no vengas
ni yo pueda ir.

Pero yo iré
entregando a los sapos mi mordido clavel.

Pero tú vendrás
por las turbias cloacas de la oscuridad.

Ni la noche ni el día quieren venir
para que por ti muera
y tú mueras por mí.


Byron - A uma taça feita de um crânio humano - (tradução de Castro Alves: Bahia, 15 de dezembro de 1869)

Não recues! De mim não foi-se o espírito…
Em mim verás – pobre caveira fria –
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.

Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!… que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.

Mais vale guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
– Taça – levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do réptil.

Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
…Podeis de vinho o encher!

Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.

E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor ai repousa?
É bom fugindo à podridão do lado
Servir na morte enfim p’ra alguma coisa!…

Byron - Lines Inscribed Upon A Cup Formed From A Skull

Start not – nor deem my spirit fled:
In me behold the only skull
From which, unlike a living head,
Whatever flows is never dull.

I lived, I loved, I quaffed like thee;
I died: let earth my bones resign:
Fill up – thou canst not injure me;
The worm hath fouler lips than thine.

Better to hold the sparkling grape
Than nurse the earthworm’s slimy brood,
And circle in the goblet’s shape
The drink of gods than reptile’s food.

Where once my wit, perchance, hath shone,
In aid of others’ let me shine;
And when, alas! our brains are gone,
What nobler substitute than wine?

Quaff while thou canst; another race,
When thou and thine like me are sped,
May rescue thee from earth’s embrace,
And rhyme and revel with the dead.

Why not – since through life’s little day
Our heads such sad effects produce?
Redeemed from worms and wasting clay,
This chance is theirs to be of use.



15 de junho de 2013

A vela solar e a alegria de, vez por outra, não ter certeza.

A abertura da vela solar está marcada para a madrugada desta quinta-feira, às 03h31 no horário de Brasília. Nesta ilustração é possível ver o corpo do NanoSail-D no centro da vela.[Imagem: NASA]


Não tenho bem certeza do que vai no coração de quem gostamos,
Acendo, então, a primeira vela do bolo
Não tenho certeza de, se aos olhos de quem gosto, sou o que espero ser
Acendo, então, outra vela
Não é certo que não estou sendo gravado,
Por isso, aceno mais uma vela e sorrio, mesmo sem estar sendo filmado
Certeza não tenho, mas, mesmo assim, escuto a fé dos anjos ascender mais uma vela para quem quero tanto bem
Não estou certo se o salto é alto ou elegante o bastante, mas o que desejo para quem me é importante
É que o voo seja sonho o bastante...
E o sol, então, será mais uma vela acesa num bolo em forma de planeta azul

Não tenho a mínima dúvida de quão incerto é saber se sou querido como quero
Ou qual a fronteira entre o útil e o inútil, quando se trata do carinho
Ou se me querem, diante de mim, e me desquerem atrás de mim
Não importa, pois a chama invisível do coração continua ardendo
Mais do que todas a velas juntas, mais do que todas as miríades juntas
E, diante disso, todo perfume e toda rosa e todos os sentidos são um tatear cego e barato,
Talvez...

Não tenho certeza de se sou lúcido o suficiente
Ou louco na medida certa
Pois, pra mim acender uma vela para celebrar a vida desmedida
É mais importante que comprar uma régua com tecnologia Androide
Não tenho certeza se serei trocado ou preterido,
Ou pior: se serei aceito (e haja responsabilidade daí por diante)
Mas, estar com o Nobre Alguém e presenciar o tempo se somar a seus dias:
Isso não há certeza que pague ou incerteza que apague.
Quando soprares esta poesia, faze um pedido
O meu, eu já fiz, em segredo: é continuar tendo a chance de te ouvir feliz e te ver feliz, por trás da porta, que, dia sim dia não deixa a chave do lado de fora.

P.S.:A falta de certeza não é capaz de me impedir de gostar e de amar o fato de tua vida existir
Pelos anos afora

Celebremos, então ;)


13 de junho de 2013

O Nobre rosto e o "impagável" preço do resgate de Santo Antônio do cativeiro da simpatia

Hoje, pela manhã, o Recife não parava de chover
E meus poros eram uma narrativa em braile cuja dor cega
Os olhos d’água perdidos na atmosfera tentavam derramar
Curando a tristeza que alagava os desertos de mim

Havia tempos que não ia pro trabalho que não fosse vestido de automóvel
Resolvera tomar um ônibus na Integração, eu e meu eu fragmentado de saudade
Não conseguia ver nada, pois ondas de gentes se acumulavam entre o começo e o fim: do ônibus

Foi quando começaram os gritos e mulheres choravam, fazendo chover também do lado de dentro
“Eles estão armados”, gritavam!

A partir de então, fui sendo meio que esmagado, sentado na cadeira que fica numa brechinha, lá na frente do ônibus.

As pessoas pediam que as portas do ônibus fossem abertas e imploravam que permanecessem fechadas
Calmo estava, calmo fiquei. E pensei: vou morrer bem no dia dos Namorados, antes de rever meu Nobre Alguém que não me pertence...  Sem Aliança, sem Aikidô: só com um cansaço dolorido que amornava em mim a fé.

Ainda ouvi as pancadas de tijolos sendo jogados contra as paredes do ônibus.

Por um lado me senti até feliz, pois os habitantes daquele lugar não se abandonaram uns aos outros. E ainda eram capazes de se indignar com os insultos que os homens armados desferiam contra a honra alheia.

Graças a uma ligação para o 911, fomos salvos. Niguém saiu ferido. Pela janela, vi um rapaz que, na contramão, andava com uma bicicleta arranha-céu, daquelas de antigamente que tinham a roda da frente bem pequena e a de trás bem grande (ou seria o contrário?): a esperança retornou e meus poros foram tomados pela visão linda de um futuro luminoso.

Mas,não sabia que este futuro estava tão próximo. Quando cheguei e vi o Nobre Alguém conversando com aquele garotinho (a beleza não se contenta com pouco e trazia na mão dois pássaros voando...).

Quando o Alguém se permitiu ser visto por mim: meu Dia dos Namorados estava ganho. E pensei: não namorava Alguém, mas Alguém era meu namorado, visto que um dos sentidos deste termo é: “pessoa admirada, encantadora e que exprime amor”.

Os sintomas eram claros: depois de rever Alguém, fiquei com vontade de convidar o mundo inteiro para fazer o amor e deixei que alegria ilimitada estacionasse em mim: enfeitada de nova oportunidade e de hora da salvação: Eis a questão: mostrava-me Santo Antônio, depois que paguei, com a alegria de ter revisto o Nobre Alguém, o seu resgate do cativeiro das simpatias. E, demoraria um ano inteiro para ele (Santo Antônio) ser achado novamente...

Simply Red - For your babies
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