12 de junho de 2017

Santo Antônio e os fogos de arte e cio


Photo via VisualHunt.com


Dobrei um pedaço de vento e guardei
Do lado de fora de um poema lido por todas as gerações
Por todas as solidões

Juntei mais um nunca
E plantei-o às margens da fogueira
Passado um século de minuto,
A simpatia revelou o nome de quem não precisa mais chegar

Se eu soletrasse corretamente o nome daquela estrela de chuva
A fusão nuclear não precisaria mais ficar dizendo que sente muito
Eu sinto muito e o pouco arrependimento que trago
Foi absolvido por meus pulmões

Fiquei te esperando até agora em 2020
Mas, tinha muito futuro esperando por mim em 2017
Onde as entradas do meu cabelo não atrapalham
O aterrissar dos beijos

Santo Antônio apagou a fogueira
E todo artifício dos corações

Entrou no cio

11 de junho de 2017

Poema de um Segura Vela


Strasbourg



Vela

Se o motivo for celebrar a vida de pessoas que amo
Não me incomoda parecer um segura vela
Aliás, topo segurar a vela, o barco e a tempestade

Meu irmão mais novo completou 30 anos
Que bom saber que ele tem um grande amor
Saúde, paz, competência
Dizer que ele é inteligente não é elogio
Porque contra fatos não há Photoshop

Balzac se permitiria ser editado por ele
E Adam Smith ser repaginado
Duvido que ele seja ateu
Porque ele é de todos nós que desejamos
Que a profecia de Lulu Santos se cumpra
E chegue enfim um novo começo de era
Além do mais: onde o amor e a caridade, Deus ali está

O futuro é uma onda de agoras que avança mar a dentro
Por mais algumas várias décadas,
Quero poder te ajudar na travessia desse oceano
Que brinca de desertar
No meio da batalha

Se bem que, com meu amigo, gosto de brincar de aposentar
As metáforas beligerantes

Deus abençoe a linda moça Renascida
Que ama te aguentar
E que emoldura o prazer que temos todos de te aguentar

Este porra nunca me curtiu no Facebook
Nem me adicionou num grupo do Zap
Meu querido, você é lindo

Não gosto de ficar agradecendo
Porque o agradecimento é muito protocolar
E prefiro Pentecostes

Como te disse, minha falha trágica é acreditar em Deus
Então, peço a ele que encontre lugar para recostar sua luz

No travesseiro do teu peito

Cada dia, possas fazer uma vela
E soprar um pedido
Acendendo um mar de graças
Com ou sem uma mãozinha de Adam Smith


A Andreas Vieira e Renata Bandim


2 de junho de 2017

Porque Bolsonaro e Trump não assistiriam a Mulher-Maravilha


Cena do filme Mulher-Maravilha


Qualquer defeito que eu inventasse para o filme da Mulher-Maravilha não causaria um arranhão em seus efeitos.

Um filme superior aos mais recentes produzidos pela Marvel Comics, rompendo com a aparente sina da DC Comics de gerar adaptações cinematográficas com roteiro enfadonho, com exceção da trilogia encabeçada por Batman, o Cavaleiro das Trevas, e da leitura feita para o Homem-Morcego por Tim Burton.

A atriz Gal Gadot foi esculpida para o papel, conseguindo equiparar-se a Lynda Carter (que imortalizou a Mulher-Maravilha no seriado de TV do final da década de 1970) no que diz respeito ao potencial de traduzir o arquétipo. O quê de latinidade da atriz israelense coopera para associar à personagem a fisionomia dos países periféricos.

A própria Lynda Carter, apesar de criticar os tons fechados da nova versão do uniforme da Mulher-Maravilha, responde às pessoas que criticam a escolha de Gal Gadot, por não ter características arianas: "E quem disse que ela [a Mulher-Maravilha] é branca? Eu sou meio-mexicana. Gal Gadot é israelita. A personagem é uma princesa amazona, não americana. Eles estão tentando colocá-la numa caixa, e ela não está em uma caixa".

A construção da Mulher-Maravilha equilibra os apelos de dois modelos de super-herói: um onde se combinam a resiliência e a grandiosidade (física e ética) de um épico revisitado pelo idealismo romântico; o outro apelo é o da humanização do super-herói, expondo-se suas inseguranças, vaidade e egoísmo.

Se bem que este segundo apelo aparece em doses homeopáticas em comparação com a leitura que vem sendo dada à personagem, nos quadrinhos, onde a doçura e ingenuidade tradicionais da Mulher-Maravilha cedem espaço a uma brutalidade e calculismo à moda de Batman.

Na minha opinião, a origem da personagem poderia ter permanecido como na leitura dada após a saga Crise nas Infinitas Terras, onde Diana é encarnação de uma das almas de crianças frutos de violência sexual contra mulheres.

Também acho que deveria ter sido preservada a versão dos quadrinhos para a explicação dos poderes da personagem.

O desfecho concebido, nas HQs, por Marv Wolfman e George Perez para o duelo entre a Mulher-Maravilha e o deus da guerra, Ares, é mais interessante por retirar o deus da zona de conforto da divindade, indo buscar nele sua porção demasiada humana. Porém, a solução da película  também tem qualidade.

O choque/encantamento cultural vivenciado por Diana ao entrar em contato com o “mundo dos homens” é instigante. E a inserção da personagem no contexto da II Guerra Mundial ultrapassou as expectativas do meu sonho de criança de ver as HQs em “carne e osso”. 

Gal Gadot e Lynda Carter (da esquerda para a direita)
Fonte da imagem: Cinema News

Os mais exigentes e que foram cativados pelo realismo cru do quadrinho Mulher-Maravilha: Espírito da Verdade, podem achar o filme ingênuo. Contudo, tanto a ingenuidade quanto o realismo têm maneiras peculiares de caminhar na corda bamba entre encantamento e desilusão.

O melhor do filme é sermos cúmplices de como a Mulher-Maravilha se esforça para entender a tragicomédia humana, deparando-se com os dilemas do livre-arbítrio e com a ligeira e frequente oscilação entre altruísmo e egoísmo extremos no caráter humano.

Donald Trump e jair Bolsonaro se remexeriam nos seus túmulos/poltronas assistindo ao filme, que já teve o aval de boa parte da ala feminista.

Os cenários e efeitos especiais, super-fantásticos amigos, tornam-se menores diante do efeito-humanidade da história.

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