18 de abril de 2012

Quando meu amigo cantou para me ajudar a patinar no gelo

Charlie Brown and Snoopy - By Charles Schulz


Um menino que era apaixonado pelo próprio cobertor. Outro menino que em vez de doces ganhava pedras nas festas de Halloween. Uma menina ranzinza que é apaixonada por um menino que toca piano e que não está nem aí pra ela por ser apaixonado por Beethoven. Essa mesma menina vive medindo forças com um cachorrinho e sempre é derrotada por um beijo dele. Outra menina que gosta de brincadeiras "de menino", mas surpreende a todos, mostrando ser uma exímia bailarina durante um concurso de patinação artística.

Ao menos uma destas descrições acima deve permitir ao leitor acionar em suas lembranças a turma do Charlie Brown, o dono do cachorro Snoopy. Criadas por Charles Schulz, as histórias de Charlie Brown, ou Peanuts (Mindoim), falam sobre a difícil arte de optar entre estigmatizar e acolher com base na idealização que se faz das pessoas. Nesse sentido, são histórias sobre como a amizade floresce de maneira surpreendente nos terrenos mais inesperados. Não uma amizade fundada em idealizações tolas, mas no dom e prazer de temporariamente se cegar e, no outro, aprender a enxergar o mundo com outros olhos.

De maneira cifrada, o desenho aborda temas profundos como a solidão, a indiferença e questões de gênero. Mas, não confere a isto o peso de uma batalha ideológica ou de um tratado moralista. Demasiado humanos, os personagens transitam entre a inocência e a crueldade. Contudo, sem recaírem na idealização. Em Charlie Brown, o ser humano não é uma causa perdida, nem também a crença ingênua no progresso indefinido. Encarar estes personagens significa  pensar sobre como coabitam em nós a doçura e o amargor, sem que nenhum destes seja fator decisivo. Talvez, por isso, o desenho apesar de contundente não perde a suavidade.

De alguma maneira, o desenho do Snoopy fala sobre o mundo da moda. Fala sobre o interminável desfile de novas tendências em máscaras do politicamente correto e sobre como as pessoas fazem de seu idealismo uma licença para exercer informalmente o papel de juízes. Exigem o ideal, tirando do outro (e de si mesmas) o direito de frustrar qualquer expectativa. E, em vez de fazer da frustração uma oportunidade de reorganizar horizontes, preferem optar pela estigmatização. Tentam magoar indefinidamente a ferida alheia e, assim, inutilmente curar a ferida aberta de suas próprias ambições.

A seguir um dos mais emocionantes episódios da série quando Patty Pimentinha, a menina com vibe de garoto, revela-se uma bailarina. Ela é salva por seu amigo, o passarinho Woodstock, de ser desclassificada num concurso de patinação no gelo. Não deixe de ler o texto que deu origem a esta postagem aqui.


5 comentários:

  1. Gostei muito do blog, parabéns, tá limpo e diversificado e bastante interessante.

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    1. Que legal que tenhas gostado, Vera! Superobrigado pela atenção. Abraço grande!

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  2. Na condição de Garotinha Ruiva, bailarina, apaixonada amadora de patinação no gelo e amante incondicional de Peanuts, eu digo que esse foi o post mais LINDO que li num blog ao longo dos meus (poucos) 21 anos de idade, :)




    P.s.: O vídeo onde (finalmente) a Garotinha Ruiva aparece, é o final de um dos filmes de Charlie Brown. O filminho todo vale a pena!

    http://www.youtube.com/watch?v=jjWxzKwic0c

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    1. Depois, vou fazer uma postagem sobre as garotinhas ruivas na ficção, incluindo la petite sirene ;) Fazendo minhas as palavras de Herbert Vianna, a lua mereceria a visita não de militares, mas de bailarinos. Aliás, linda é você, chère amie ;)

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    2. Agora, me diz se Charlie Brown e a garotinha ruiva não são demais de tri? ;)

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