Fonte: Blog Substantivu Commune |
Tem feito sentido a determinação do Supremo de pôr fim à obrigatoriedade do diploma jornalístico. Boa parte de bem dizer todas as pessoas têm se auto-medicado com o que chamaria de jornalismo do futuro, no qual as notícias não são impressas em papel nem na virtualidade do ciberespaço. A plataforma de impressão das notícias passa a ser o próprio ser humano.
Neste novo tipo de jornalismo, as pessoas fazem umas das outras manchetes. E, como boas manchetes (?), declaram o outro culpado até que a verdade se canse de provar o
contrário. Onde há mistério, a manchete estampa terror. Onde há contradição, a
manchete estampa perversão. Onde há manchete, mesmo não havendo palavras,
estampa-se o crime.
Transformadas em manchetes, as pessoas se tornam absurdo
condensado, pronto para ser degustado pelo medo, pela preguiça, pela crueldade,
pelo delírio, pela tirania ou pelo fanatismo: uma das seis motivações que dão
razão de ser ao esforço humano de fazer resumos.
Quando as pessoas têm um pouco mais de boa-vontade, em vez
de fazer das outras manchetes, transformam-nas em leads, o texto inicial que abre a maior parte de todas as
reportagens. O lead pode ser descrito como a tentativa de transformar em
informação automaticamente digerível algumas das mais difíceis perguntas já
inventadas: quem, como, quando, onde e por quê?
Diferentemente do jornalismo tradicional, o jornalismo que
faz das pessoas reportagens ambulantes, dispensa a entrevista ou, no máximo,
contenta-se em pintar um retrato pleno do outro com base em algumas míseras
perguntas. Como se fosse possível pintar o mais perfeito quadro depois de
observar, por meio das brechas da vontade de julgar, o modelo posar tão somente
meia vez.
Esse tipo de jornalismo confia mais na assessoria de
imprensa realizada pela empresa disse-me-disse, cujos membros se formam na
faculdade da desconfiança e da raiva, tendo sido diplomados antes mesmo de
passar no vestibular.
Assim como o jornalismo tradicional, o jornalismo do qual
estamos falando protege suas fontes. Protege tanto que tenta fazer da fofoca
uma ilustre senhora vestida ora de “justiça implacável”, ora de “verdade
austera”.
A obrigação jornalística de narrar os fatos, com base em
depoimentos dos dois lados envolvidos na questão noticiada, também é seguida à
risca. O mais importante para os que buscam fazer dos outros reportagens de
carne e osso é forjar um encontro entre os pontos de vista opostos; criar
consensos como Frankenstein cria amigos.
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