26 de janeiro de 2016

Maktub: o Último texto e o texto original




Um erro cometido por quem traduz é preferir o paratexto e os comentários ao original

No caso dos seres humanos, surge um complicador. Não se pode traduzir pessoas com base em textos, mesmo que sejam originais. As pessoas são original e cópia de si mesmas.

Quem ama ou odeia ou deseja ou desdenha é quem escreve e quem lê, não os textos. O texto é pista e não crime. Talvez seja um erro preferir o texto em vez da atitude.

Leitor e escritor não são juízes nem réus. São cúmplices. Mas, fechado o livro, a postagem, o e-mail e outros derivados da galáxia das letras, encerra-se a sessão. Os amigos se fazem fora do tribunal e a amizade é extratextual.

Para construir a imagem de um amor, pinçamos características de amigos, pais, avós, inimigos e até de pessoas que nem existem.  À escrita, como lugar de sonho, cabe o amar todas essas pessoas numa só e, ao mesmo tempo, nenhuma delas. Mas, quem no texto é nosso amor, fora dele é só um amigo porque as palavras são passageiras e a amizade, sim, é a viagem.

Insisto: as atitudes valem mais. Os indícios contidos nas linhas mal traçadas do texto não substituem uma conversa franca. E quem se prende a eles corre o risco de virar um quiromante que finge que sabe ler.

Algum Karl Marx uma vez disse que a tragédia quando se repete deve ser chamada de farsa. Faço minhas as palavras dele. Basta dizer que os Eu-te-amos não perseguirão mais ninguém e a saudade de quem quer que seja não me perseguirá também nunca mais (somente duas vezes por semana). Frases e declarações impulsivas podem, por favor, naufragar no último gole de bebida. Deixo a farsa para os poderosos e os indiferentes. E o seguir em frente será sempre um agradável jantar entre amigos.

Está escrito que a palavra tem valor, mas não é o valor. Ela fala, mas não é a voz. Ela é o Sou, mas não é o sendo.

O estar escrito é encarado por alguns como destino, por outros como desatino. Só a presença tem o sabor do acaso, do risco e da surpresa, que fazem novas todas as coisas. Surpresa, risco e acaso são temperos que não se podem escrever.

23 de janeiro de 2016

Um novo févereiro

Foto: Karla Vidal



Um novo févereiro 

Um dos lotes do carnaval de 2016 é feito para que me gostem não pelo que escrevo
Nem pelo que digo
Ou pelo que calo
Sim pelo que eu sendo
Sim, eu danço
E sei sorrir
E chover

Nesse carnaval, gostar é suficiente
Menos declarações
Um bom e novo silêncio amigo
Mais distanciamento
Menos abraços (menos mal-entendidos) 
Uma boa conversa que poderá ficar pra depois que a fênix cansar de ser cinzas
E a quarta-feira de ser ingrata

Mais tele-empatia
enos mal-entendidos

E paz para ambas as partes

Menos pensar em voz alta
Menos olhar nos olhos
Menos que achem que reencontro é sinônimo de fazer amor
E o toque a (des)cura da hetero-homossexualidade

Na folia deste ano, poliamor e poliomielite serão antônimos

Pontes destruídas não pertencem à marcha deste carnaval

Fevereiro está chegando como um novo dia
Em que Face, Zap e congêneres não precisarão ser velados


Ver a fé ferver será o codinome de fevereiro

21 de janeiro de 2016

Um poema lindíssimo e modesto

Foto: Karla Vidal

Arabesco
Por Kenirdo Amã

Queria ter vontade de dizer que tenho vontade de ver teu rosto longe,
Onde a velocidade da luz desfaz a curva
Mas não é verdade
E você bem sabe
A verdade é a solidão que nos faz companhia na tempestade de oscilações e complexidades

Talvez, acordar sem a memória de dez vidas passadas fosse o suficiente
Pra não pensar em ti nesse momento
Lembrar-me de você algumas vezes por semana desentrava os trevos de quatro folhas
E escrever sobre o que sinto me ajuda a fazer companhia a mim mesmo

Neste mundo calamitoso, toda sorte e bênção pra ti
Você mente, mas diz a verdade
Tantas vezes ignora, mas é atencioso de um jeito que eu nem mereço
Obrigado

Cheio de pantim, alguns, misturados com um jeito incrível: uma receita com cheiro de distância
E sabor de proximidade
  

Roubei emprestado de uma amiga uma história pra te dar de presente: falava de uma pessoa que juntou todos os vinhos nascidos na data do aniversário dela pra lhe dar de presente

Pois bem, quero comprar todos os vinhos nascidos no ano em que você nasceu pra te dar de futuro
(Por enquanto, não vai ser possível porque meu cheque especial ainda pulsa)
  
Conto tantas coisas pra minha poesia
E quanto mais conto, mais secreto se torna o que sinto

O desabafo poético tem por função suavizar
Qualquer agressão, na poesia, flui através da palavra
Como uma imagem que escorrega em arabescos
No fim, a agressividade se torna leve
Até a leveza se torna leve
Só o desprezo nunca consegue ser leve
Por isso, todo desprezo que aparece em poesia é mentiroso

Praticar a indiferença não consigo: nem tentar
Porque sinto vontade de consolar teu nascer do sol
E apagar a ruga de preocupação na testa do teu crepúsculo

Me pego rezando pra que você que amo
Esteja imune a qualquer dardo da minha alma
E abro meu flanco
Sou atingido por meu próprio escudo
  escudo do medo
De que tenhas medo de mim
Estou cascavilhando nos sorrisos
Uma luz forte e singela
Pra acender-te cada vez mais a esperança

E ajudar teus faróis a não se perderem no oceano da existência.

19 de janeiro de 2016

As sete "vergonhas" de dois apaixonados


Fonte da imagem: Imgur


Sete "vergonhas": dois apaixonados 
Por Clistarco Sepúlveda




Você tem café?







- Não sei fazer café, mas posso fazer uma água pra você








Ele percebeu que eu percebi a bobagem que ele havia dito. Pra diminuir seu acanhamento (o seu rosto dava indícios de que ia ser varrido da face da terra depois que um rubor atômico floriu na sua maçã esquerda), emendei com um raciocínio pirata:

Em vez de água prefiro que você me faça uma dose de rum.

A vergonha não passou porque não era bem pela besteira dita, mas sim pela paixão interdita, que o pássaro mudo não conseguia manter em segredo

E ele, com as mãos feridas por uma gelitude traduzida pelo olhar cabisbaixo respondeu:



- Unhum




Acho que ele esperava por um beijo com margem de erro de uma noite de amor pra mais e dois abraços para menos. Mas, minhas estatísticas estavam tímidas demais naquele momento.







- Um convite chegou endereçado a mim, mas quando o apresentei na entrada da casa de recepções, ouvi: “Desculpe você não está na lista dos convidados”. Ainda tentei apelar mostrando a senha, mas, de forma surreal, ela trazia a data de dali a dois anos. Quando eu ia chorar, senti teu olhar desfocado se esforçar para me alcançar e traduzir aquele mal-entendido. Minha carência escolheu uma interpretação para desacreditar. Ele havia predatado em dois anos o momento de me reencontrar. Havia sido convidado para o futuro dele?




Ele me fez uma dose tripla de água e eu não sabia como respirar perto dele. Meu círculo de Krebs tinha furado e eu estava sem estepe. Mesmo assim, meu coração, como uma pradaria, com pés e mãos amarrados, estava a mercê da língua dos ventos. Meu coração se percebeu vestido e teve vergonha porque não entendia o que aquilo significava. Mas, aqui é o lugar de expor as vergonhas dele e não as minhas.


- Meu rosto era bonito, mas tudo estava no lugar errado. Meus olhos tentavam falar, meus ouvidos ver e minha palavra tentava a fina força ser tato. Meu abraço estava a dois centímetros de você e minha coragem a dois trilhões de anos-nuz.





Tenho certeza de que ele se perguntava como faria pra fazer um sexo oral diferente dos que eu já havia recebido. Como a língua dele traduziria meu sexo taciturno?

Mesmo sendo poliglota, ele provavelmente não conseguiria me demover do vício do tédio






- Posso tocar no seu colo com sua mão em cima pra evitar o risco de tocar alguma melodia inapropriada?



Quando a mão dele me perguntou isso, não acreditei que ele pudesse ser tão tímido. Os pensamentos dele se perguntavam se era mais errado beijar meu corpo sem ou com roupa? Mas o problema não eram as roupas, nem os beijos. O problema era que ele havia me beijado sem lábios, me abraçado sem abraços e eu havia chegado ao ápice assim mesmo.

Ele jurava que conseguiria continuar amando-me em segredo sem que eu soubesse. Jurou no pé do meu ouvido enquanto meu beijo pedia para ser brinco em sua orelha.





- Quando termina o prazo de validade do teu Nunca Mais Me ligue? Ou, reformulando a pergunta: Quando teu Nunca Mais vai mudar de telefone?





Ele insistiu, uma, mil vezes. Não tinha vergonha do que todos achariam uma vergonha.
Continuou insistindo, três, duas vezes, -1 vez...

E eu o deixei chegar bem na margem do abismo do desistir. Ri dele um pouco, porque seu destemor desmantelado era um convite antecipado ao gracejo. Mas o riso disfarça sua habilidade de ser frágil disfarce do medo e da dor (de vê-lo mergulhar no Desisto). Não queria vê-lo imerso no Desistir de mim.

Fazia tempo ele não me telefonava. Meu estar nem aí não conseguia roubar de mim a horrível sensação de seguir afogado de oxigênio como acontece com quem não sabe assumir a saudade que sente.






- Cheguei na hora, dessa vez? Segui o que estava subscrito na senha ao pé da letra, mesmo não sabendo traduzir com exatidão tua língua.




- Você teve coragem de vir, depois de dois anos, seu imbecil? Você teve coragem de vir, depois de dois anos, meu imbecil?



- Vim porque o futuro me convida e pra entrar na festa dele tive de jogar fora a senha

- Onde fica o carinho que quer te nocautear até eu não ser mais capaz de vencer?


   
- Do lado de fora do nojo, do medo e dos paratextos.






- Chega o menos longe de mim que você puder
- Chega o mais perto de mim que você não puder
- E se a festa não me quiser nela?

-E se ela quiser?

16 de janeiro de 2016

O Anjo burocrata e a renovação do porte de Amas


Foto: Cláudio Eufrausino


O Anjo burocrata

Por Linardo Kleto


É seu o meu segredo mais secreto
Você está no sonho onde posso olhar e tocar quem amo
Sem me arriscar a ser preso pelo crime imprescritível de escrever poesia
E pelo inafiançável de causar medo
Nojo ou

Estás na realidade onde posso continuar a ter tua presença
Depois de acreditar que minha presença teria o privilégio de dormir
Abraçada com o teu “Prefiro estar sozinho”

A vontade de te rever faz de mim um péssimo entendedor
Que procura fingir que tuas meias promessas e meios silêncios
Não são uma forma codificada de gritar que não me queres por perto

Fico triste por ser sempre remetente e nunca destinatário
Mas, abro minha garrafa de whisky 35 anos
E tomo uma dose de deserto
Pra afogar um Nilo de mágoas

Depois, emendo com uma diabética taça de dúvida
O pior da dúvida, no meu caso,
É que ela ao se olhar no espelho me culpa
Por se ver refletida na minha cara de bobo, iludido
De niilista degustador de miragens

A dúvida renova meu passaporte
Para a terra onde os gestos de carinho são pena
E os anjos burocratas respiram fundo
Quando têm de registrar na folha de ponto
A obrigação de fazerem sua caridade anual
Tolerando a presença dos que precisam de presença

A palavra escrita, depois de um tempo,
Torna-se o cimento que chuvidifica o esquecimento da voz dos que amamos
O esquecimento e a distância
E o calor humano preso nesse concreto armado
Sente que os outros têm vergonha de demonstrações de amor

- Será que deves renovar o teu porte de Amas?
Indagou-me o serafim burocrata

- Fugir da prisão parece ser a sina das demonstrações de amor. Mas, fique tranquilo. O meu Amas não tem pretensão alguma de violentar o Não te amo de ninguém.

14 de janeiro de 2016

Hoje eu quero sair só, mas tá difícil!

Foto: Karla Vidal


Sair só tem lá suas vantagens, embora, neste momento eu só consiga detectar a vantagem de poder ir ao cinema depois de meia-noite e não precisar assistir filme dublado porque sua companhia não gosta de ler as legendas.

Lembro agora outra vantagem importante para a manutenção do equilíbrio psíquico: a de não precisar fazer coincidir as agendas e os desejos dos dois lados da equação (inequação?) chamada Encontro.

Mas, o debate aqui é outro, minha cara Fátima Bernardes!

O objetivo é recordar os casos em que o invisível, inaudível, porém gritante, sinete da vergonha é colocado no pescoço de quem se aventura a exercitar a flânerie.

Emblemático o caso das praças de alimentação dos shoppings que, até pouco tempo, obrigavam os sozinhos a disputar vagas em mesas de quatro ou mais pessoas. Dificilmente o sozinho irá topar ser bombardeado por olhares de raiva, ocupando um lugar numa mesa em companhia de três ou mais cadeiras vazias e ociosas. Não é assim que funciona na brincadeira da Dança das Cadeiras, ao menos que a música de fundo seja a da vergonha alheia.

Quando o sozinho dá sorte e acha uma mesa disposta a abrigar exilados, tudo bem! Porque não tem coisa pior do que ficar com a bandeja na mão enquanto as maçãs do rosto esquentam e ruborizam.
Tem também o caso mais raro de encontrar uma mesa perdida com dois lugares. A parte de vergonha que cabe ao solitário nesse minifúndio é menor quando ele é obrigado a dividir a refeição com um único lugar improdutivo. E se aparece outro sozinho e o sozinho número 1 o chama pra dividir a mesa, melhor ainda.

Lembro do caso de uma senhora que chamei pra dividir a mesa de dois lugares comigo na praça lotada. Ao final da refeição, ela se despediu e comentou: “Não desista nunca de ser gentil”.
Pois é, e então?

Sobre essa questão da mesa arquitetada para dois habitantes, os paisagistas parecem tê-la concebido para os recantos esquecidos do “bosque”, onde somente os garçons de boa-vontade visitam. Se bem que o sozinho que consegue conquistar a simpatia de um garçom terá nele um aliado fiel.

O sozinho também tem de enfrentar a síndrome do Foi namorar perdeu o lugar. Falo isso por experiência própria. Pense no constrangimento que é o indivíduo ir ao banheiro  fazer um mísero pipi e quando voltar encontrar o maitre colocando um casal à mesa em que você estava, sendo que você havia comido simplesmente uma fatia de pizza.

O sozinho tem de carregar sobre si também o peso da desconfiança. Mais ainda se desfila sua solidão com recorrência pelos lugares. A suspeita de que se trata de um mau elemento recai insistentemente sobre o sozinho, além daquela velha desconfiança de que o sozinho que olha para os acompanhados lhes quer roubar ou é algum tipo de tarado. Mas, felizmente, esses casos são mais raros.

Em todo caso, o estar sozinho tende a ser visto como algo contagioso. E, por isso, os sozinhos são tacitamente convidados a permanecerem em suas casas, a serem lembrados anualmente. Mas, este é só um dos lados da moeda. Isso porque o sozinho pode também ser encarado como um lugar de passagem, como uma estalagem, uma estação de trem ou um albergue espanhol, onde as pessoas desembarcam seus problemas, confissões, mágoas e depois se vão.

Costuma-se também confundir o sozinho com o solitário. E acontece como já presenciei de o sozinho entrar numa sala de cinema e ter de aguentar o comentário de um impertinente que diz: “Deus me livre de ir sozinho pro cinema. Coisa mais depressiva”.

Bem, se repararmos bem, despindo-nos do preconceito no qual a ideologia do amor romântico nos molda, o estar sozinho é parte de nossa rotina. Paramos no meio do trajeto para caminhar sozinhos, para ver o mar e a natureza e compartilhar de suas solitudes, pra ver a lua. Sei lá, pra ter o prazer de fazermos companhia a nós mesmos.

Como diria Sartre ou Camus ou outro dos filósofos existencialistas, mesmo acompanhados estamos sós e os momentos decisivos – o nascimento e a morte – são eminentemente de solidão.
Estar sozinho e sentir-se à vontade. Estar acompanhado sem medo de estar sozinho. Eis algo pelo qual este século merece lutar com as armas do carinho e do respeito.



4 de janeiro de 2016

As Selmas Reis francesa e cubana


Foto: Paula Nascimento


A Selma Reis francesa foi a grande responsável pelo pontapé inicial na sua carreira como cantora.  Trancou o curso de Comunicação na metade e foi estudar Letras na França, mas, chegando lá, a música falou mais alto e Selma começou a fazer vários cursos de técnica vocal aplicada à música clássica. Um diferencial, se levarmos em conta que, no Brasil, a maior parte dos cantores não se dedica ao estudo técnico.

Teve aulas em Nantes e Paris, onde o contato com o cancioneiro de Jacques Brel e Edith Piaf trouxeram para seu estilo dramaticidade como afirma a própria Selma em entrevista ao Blog da Selma Reis: “Apesar de ser belga, Brel me influenciou muito enquanto eu estava na França, me pegou com a sua maneira dramática de cantar, forte... Como Edith Piaf, que eu também adoro”.

Mais adiante, esta formação especializada ajudará Selma Reis nos palcos, onde ela, por exemplo, acompanhou com seu canto a performance da bailarina Ana Botafogo. A cantora também atuou em peças de teatro como “O Abre Alas”, sobre a vida de Chiquinha Gonzaga, ao lado de Rosamaria Murtinho e grande elenco. Em 2004, participou do famoso musical da Broadway Chicago, interpretando Mama Morton, personagem que no cinema foi representado por Queen Latiffah.

Um convite do autor de novelas Manoel Carlos fez Selma Reis retomar sua trajetória na música clássica. Na novela Páginas da Vida, fez o papel de uma freira e por várias vezes cantou clássicos como as músicas Ombra Mai Fu, de Häendel, Ave Maria, de Schubert e Lasciatemi morire!, de Monteverdi.

Em 2007, ela grava um CD de música clássica sacra, compilando as canções que fizeram parte da novela (Händel, Mozart, Schubert, César Frank, Gounod e outros). O título do disco é Sagrado. A obra foi lançada no Convento de Santo Antônio, onde foi ordenado São Frei Galvão.

Selma Reis também foi cubana, tendo gravado em Havana ao lado dos pianistas Frank Emílio e Roberto Carcasses, cantando em espanhol algumas das mais belas canções daquele país.

Não deixe de ler outras postagens sobre Selma Reis aqui e aqui.








3 de janeiro de 2016

A Selma Reis portuguesa


Fonte: Blog da Selma Reis


Continuando a falar sobre a cantora Selma Reis, falecida em dezembro, relembro algumas de suas parceria tanto com artistas vivos como com aqueles que já se foram. Muito da alma musica dela são lágrimas de Portugal, colhidas por exemplo em Florbela Espanca, cuja poesia a cantora costumava declamar em seus shows, como prelúdio a sua interpretação da canção Foi Deus, fado composto por Alberto Janes para a cantora portuguesa Amélia Rodrigues na década de 50

Ao lado de Cauby Peixoto, Selma Reis volta a cantar o fado português, além de clássicos da MPB. Assim, ganharam o Prêmio Tim de MPB como Melhor Dupla de Canção Popular do ano de 2003.

Confira outros textos sobre Selma Reis aqui e aqui.

2 de janeiro de 2016

A voz hermafrodita de Selma Reis

Foto pertencente ao CD Sagrado (2007)


Poderia usar esta postagem pra desfiar um rosário de clichês: timbre inconfundível, talento injustiçado, artista completa (cantava e atuava), perda irreparável, dentre outros.

Mas, só tenho vontade de dizer que, quando era criança, confundia a voz de Selma Reis com a de Nana Caymmi.  Confusão não de todo imprópria, visto que o maior sucesso da cantora, O que é o amor, foi composto por Danilo Caymmi. Coisas do inconsciente.

Achava que a música Estrelas de Outubro tinha sido feita um pouco pra mim, tendo em vista que este pequeno egocêntrico nascera em outubro.

Selma Reis emprestou sua voz grave para Sombra em nosso olhar e, assim, traduziu os agudos de Kathryn Grayson, que imortalizou a música Smoke Gets In Your Eyes, no filme Lovely to look at.  

Era branca, mas seu timbre remete à melhor safra de vozes negras. Talvez, por isso, a musicalidade de Selma Reis esteja entre o Soul e o fado, que, depois de misturados, revelam a presença subliminar da música sertaneja de raiz.

Me arrisco a classificar a voz dela como uma voz hermafrodita, pois é, ao mesmo tempo, um voz de tenor italiano, visitada por agudos cheios de feminilidade.

Confira outros textos sobre Selma Reis aqui e aqui.


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