30 de setembro de 2011

Sobre a necessidade de suicidários

Enforcado, mas feliz - Por Lucas Kotovicz (Kotó)
A família não quis revelar o sobrenome do rapaz, embora fontes oficiais confirmem que o nome dele era Judas (ou, Judaxxx, como diria Tico Santa Cruz.). Não se sabe se foi suicídio. Judas teria sido linchado por um grupo de pessoa no Sábado de Aleluia. (texto de Lucas Kotovicz, escrito como legenda para a foto acima).



Ontem, soube de mais um caso de suicídio, ocorrido no prédio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco: uma jovem que saltou do alto do edifício. Não soube por meio da imprensa, mas sim enquanto subia rumo ao 11o andar do CFCH. Pensei comigo: "se o CFCH fosse do tamanho do Centro de Artes e Comunicação (com apenas quase três andares), não haveria este problema!".

É incrível como este tipo de ponderação tacanha nos toma de surpresa.  Mas, ao ler o texto de Raphael Tenorio, percebo que o problema não é o CFCH erguido fora, mas sim o CFCH "dentro" de nós (para me fazer entender, sou obrigado a utlizar esta questionável topografia existencial legada pelo advento da sociedade burguesa).

Mas,fico a me perguntar (e, a respeito deste tema, sempre acho que as perguntas soam precárias) se a existência de uma "licença" para se matar ou de lugares para que isto aconteça "livremente" seria um avanço no enfrentamento desta questão. Pergunto-me se a saída é criar novos lugares sociais ou reformular a arquitetura dos já existentes. Mas esta é realmente uma inquietação e não a utilização da interrogação como fórmula retórica de afirmar pré-conclusões.

Acho que, na verdade - e também na mentira -  independentemente de estar ligada ao suicídio, a morte não tem lugar específico porque sempre está em cena, ou quem sabe, é obscena (no sentido etimológico de pairar ao fundo da cena).

Ao ler o texto de Raphael, lembrei das palavras de Walter Benjamin sobre como os vencedores não se cansavam de manchar a memória dos vencidos, mesmo depois que estes morriam.

Neste sentido, a existência de suicidários (espaços destinados à livre prática do suicídio) talvez conferisse uma legitimidade de escolha a quem comete este ato, evitando os gracejos e a piedade farisaica que se lança sobre a memória dos suicidas. Existe, certamente, uma necessidade velada de fazer dos suicidas extensões de Judas. Assim, cria-se um vínculo entre o suicida e o traidor, a fim de se eleger bodes expiatórios sobre os quais lançamos a sanha secreta pelo linchamento.

Porém, penso que a existência de suicidários não seja o ponto a ser explorado. Acredito que o que a sociedade precisa rever é o recrudescimento de discursos de cunho totalitário referentes à obrigação de se estar vivo, de ser feliz. E, claramente, neste caso,  "estar vivo" e "ser feliz" não são meras abstrações, mas sim o redirecionamento para um plano transcendente de determinados modelos do se estar vivo e feliz.

Neste ponto, a questão social se encontra com a existencial, visto ser cobrado das pessoas adaptar-se a determinados modelos de existir, sem que haja condições materiais de se aproximar deste modelo. Creio que ao menos uma parcela dos suicídios seja decorrente da conjugação entre a pressão dos modelos sociais de perfeição, a falta de condições objetivas de alcançá-los e a subjugação da potência "interior" de criação e reformulação do ideário de felicidade e vida.

Acho que o suicídio começa, em certa medida, quando se torna insuportável a tirania de um determinado modelo de estar vivo.

Mas, o ponto final desta reflexão é meramente fictício. Isto se é possível haver uma ficção que possa ser chamada de mera.

Confira o texto Suícídios no CEFCH - soluções materiais para problemas existenciais?, escrito por Raphael Tenório (criador do neologismo "suicidário") no blog Um ano Existencialoide.

27 de setembro de 2011

Série Tarsila do Amaral e Freddie Mercury - Capítulo 5: Tarsila do Amaral se torna uma cratera do planeta Mercúrio

Jóia feita em homenagem à obra de Tarsila do Amaral


Em 1992, foi inaugurada, em Montreux, na Suíça, uma estátua (imagem ao lado) em homenagem a Freddie Mercury. Ele considerava esta cidade um segundo lar.

Estátua de Freddie Mercury em Montreaux
Bem mais instigante foi a homenagem feita a Tarsila do Amaral pela União Astronômica Internacional, que em 20 de novembro de 2008 atribuiu o nome "Amaral" a uma cratera do planeta Mercúrio. De fato, Tarsila esteve bem mais perto do sol que grande parte dos terráqueos de seu tempo (e também do tempo atual).

Outros 14 artistas foram homenageados. Dentre eles: Salvador Dali, Edvard Munch e Edgar Allan Poe.

A preciosidade da obra deTarsila do Amaral também ganhou expressão por meio da joalheria (imagem que abre esta postagem).


Cratera "Amaral" no planeta Mercúrio. Fotografia feita pela espaçonave Messenger. Fonte: Jóias de Tarsila

Série Tarsila e Freddie Mercury - Capítulo 4 - Tarsila e Freddie Mercury: amigos da antropofagia



De acordo com os critérios da cronologia linear, Freddie Mercury e Tarsila do Amaral são ilustres desconhecidos. Mas, na esfera em que o tempo se despe das camisas-de-força do antes, do agora e do depois, os espelhos desses dois artistas denunciam misteriosos elos entre eles. 

Um destes elos é a vinculação ao universo artístico das imagens.

Freddie Mercury formou-se, na Inglaterra, em design gráfico e artístico. Considerado um aluno exemplar, foi responsável pelo projeto do símbolo da banda Queen. Torna-se cantor mais tarde, aos 24 anos.

Tarsila iniciou sua formação em pintura já na idade adulta, por volta dos trinta anos, sendo influenciada mais marcadamente pelo movimento cubista.

Tarsila e Freddie são, em certa medida, “traduções” da cultura periférica. A primeira, uma tradução marcada pela fusão entre o imaginário europeu e o brasileiro, pautada pelo ideal da antropogagia. O segundo traduz a si mesmo por uma espécie de silenciamento das origens: desta forma, Farrokh Bulsara, ao deixar sua terra natal, a ilha africana de Zanzibar, assume a identidade de Freddie Mercury. 

O movimento de silenciamento da origem se desenrola até o fim da vida de Freddie Mercury, sendo expresso por sua escolha de ter suas cinzas jogadas às margens do lago Genebra, na Suiça que, em termos simbólicos, é, praticamente, a antítese da África.

Tarsila foi europeizada na infância, tendo feito parte de seu enxoval uma formação aos moldes da cultura francesa. Com o passar do tempo, ela procurou "silenciar" a Europa e dar mais volume ao Brasil.

Tarsila buscou deglutir a Europa, convertendo-a em Brasil. Freddie Mercury "silenciou" a África, convertendo-a em Inglaterra. Mas, não sei se consciente ou inconscientemente, o cantor acabou dando voz a um lugar simbólico que já não era mais nem África nem Inglaterra: da fusão entre rock e clássico; entre o bigode macho-man e o collant de bailarina. 

No símbolo da banda Queen, mora essa ambiguidade. Basta se observar que no referido brasão convivem harmoniosamente leões ferozes e lânguidas fadas. Neste exemplo, não se deixa de escutar o eco da androginia presente em cultos africanos.

E Tarsila do Amaral também gesta um lugar simbólico entre a tradição brasileira e a vanguarda europeia. Embora, no caso dela, este lugar seja não do silenciamento, mas sim da polifonia.

11 de setembro de 2011

Memorial do 11 de setembro, Iraqimemorial e o lado de dentro do Muro das Lamentações

Iraqimemorial - Artista: Susanne Fasbender, Germany - To be given to the Wind, 01/27/2010, Video/Film
Iraqimemorial - Artista: Judith Brisson, Canada - A Culture of War, 04/27/2009, Sculpture


Iraqimemorial - Artista: Patrick Lichty2, United States - The Arbiter of Fate, 04/08/2008


Desde 2007, o projeto Iraqimemorial, exibe monumentos virtuais, "erguidos" em memória dos civis mortos durante a permanência dos Estados Unidos em território iraquiano, após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Até 2009, estima-se que o número de não-combatentes mortos, no Iraque, era superior a um milhão de pessoas.

Como destaca o blog do Instituto Sérgio Motta, o propósito do projeto Iraqimemorial não é o de satirizar, mas de dar aos iraquianos o mesmo direito que as vítimas norte-americanas tiveram de ser lembradas.  

Já foram enviadas para o site do projeto mais de 5000 mil propostas, vindas de 63 países, para a criação de memoriais para as vítimas da guerra do Iraque.

Já o memorial 9/11, construído onde estavam as torres gêmeas de Nova York, consiste numa fonte abastecida por águas correntes. Porém, esta fonte não é capaz de ser enchida. Alude, assim, a lágrimas de lamento, que nunca vão parar de cair. Contudo, esta fonte é cercada por rica vegetação verde, apontando para a ideia de que o lamento dá origem à esperança.

No interior desta fonte, é adotada a estratégia do mise en abyme. Em outros termos, uma estratégia por meio da qual uma obra artística reproduz a si mesma. No caso, o monumento traz em seu interior uma versão dele mesmo em miniatura: o lamento que, ao se lamentar, reflete sobre si mesmo; ou, ao se refletir, lamenta-se.

De certa maneira, a proposta dos referidos memoriais é um tipo de re-edição do Muro das Lamentações, da cidade de Jerusalém na Terra Santa. Este muro, única estrutura que ficou de pé após a destruição do templo de Jerusalém pelos romanos, no ano 70, remete a uma memória de dor, mas também a uma memória de esperança, de fé no recomeço. 

A derrubada do templo de Jerusalém foi responsável pela diáspora, ou dispersão, dos judeus em direção ao Ocidente, com destaque para a Europa. Ao fim da postagem, assista a um vídeo mostrando como o Muro das lamentações é por dentro.

9/11 Memorial

O interior do Muro das Lamentações

8 de setembro de 2011

Debate entre Nossa Senhora e Nicolau Maquiavel

Nossa Senhora Rainha da Paz

Uma onda de revoluções avançou com ímpeto sobre a Europa a partir de 1830, sendo a França o porta-estandarte simbólico deste movimento. Neste mesmo ano, tem início o ciclo europeu de aparições da Virgem Maria, começando por Paris, onde Ela aparece a Catarina Labouré em 1830.

Este ciclo prosseguiu em La Salette (1846), em Lourdes (1858) e parece ter tido seu ápice em Fátima  – Portugal (1917) - um ano antes do término da Primeira Guerra Mundial.

Pode-se observar que Maria, com suas mensagens, traz para a mesa de debates filosóficos da história um discurso de oposição ao pensamento de Maquiavel. Ela defende que é melhor ao ser humano ser amado do que ser temido. Já, nas palavras de Maquiavel seria ideal poder ter o amor e o temor do próximo, mas na prática, seria melhor não arriscar, preferindo a "eficiência" do temor. Confira, ao final da postagem, o que Maquiavel diz a esse respeito.

A proposta metodológica de Nossa Senhora também é diversa. Se Maquiavel vê a guerra como mal necessário, Maria vê a paz como necessidade que as pesssoas insistem em esquecer. Neste sentido, a guerra é um véu de amnésia que paira sobre as pessoas, fazendo-as esquecer-se do que é realmente necessário.

Nas mensagens marianas, a paz não é vista como o retorno a um paraíso idílico. É construção constante, que implica abrir mão de tudo que faz esquecer como se é viver em paz. Este “abrir mão de” é expresso nas mensagens por meio da palavra “penitência”.

Em sendo assim, não fica difícil perceber a oração do rosário como um manifesto pró-desarmamento. As contas do rosário representam, em certa medida, balas que deixam de ser disparadas em batalha para serem lançadas ao Céu em forma de prece.

Nisto, o rosário cristão aproxima-se dos rosários presentes nas religiões orientais, cuja recitação desempenha o papel de auxiliar na canalização equilibrada dos impulsos de vida e de morte.

Nicolau Maquiavel, pintura de Santi di Tito
O gesto de desfiar as contas do rosário é expressão simbólica da sabedoria que permite enxergar a presença do tempo linear: cada coisa tem seu tempo.

Por outro lado, permite enxergar a presença do tempo cíclico: o rosário é rezado em ciclos de um Pai-Nosso e dez Ave-Marias.

As orações do rosário são reunidas em grupos de cinquenta ave-marias. Cada grupo, chamado de “mistério”, evoca uma das faces da existência: o gozo, a dor, a glória, relacionando-as a acontecimentos da vida de Cristo e de Maria.

Recentemente, o Papa João Paulo II acrescentou um novo grupo ao rosário: os mistérios da luz, referentes a alguns dos fatos da vida de Cristo que fogem mais fortemente interpretações empobrecidas do termo racionalidade.

Ao pedir, em suas aparições, pela paz, Maria não é avatar do “jogo do contente”. Ela quer estar ao lado dos seres humanos na construção de uma paz que não nega que o caminho da existência é feito de gozo, glória e luz, mas igualmente de dor. Em sendo, assim, gozo, glória e luz afastam-se de significados associados à sede de poder absoluto ou de auto-suficiência.

O rosário expressa, simbolicamente, que estas dimensões do caminho da existência, quando se tornam alvo isolado dos anseios humanos, convertem-se em terror e guerra. Até mesmo a dor, não deve ser vista como puro oposto da felicidade, tendo seu papel de freiar os impulsos totalitários do gozo, da glória e mesmo da luz.

Pode-se ainda conceber o rosário como uma estrutura em rede, na qual os "mistérios" comportam-se como referências cruzadas. Em sendo assim, revela-se, por meio do rosário, um esfera de tempo quântica. Ou, como prefere chamar o sociólogo Manuel Castells, um tempo intemporal, em que memórias se entrecruzam, desafiando as tentativas de fazer o tempo resumir-se ao tempo do relógio ou ao ciclo das estações do ano.

O rosário não nega os tempos linear e cíclico, mas acrescenta a eles o horizonte de um tempo que não pode ser escravizado por qualquer tipo de medição: é o Kairos, o tempo da graça.

Não deixe de conferir o texto O Japão também tem uma Nossa Senhora, na seção Jogo do Contente deste blog.


“Queridos filhos, hoje vos convido a todos a rezar pela Paz e a testemunhá-la em vossas famílias, para que a Paz se torne o maior tesouro neste mundo sem paz. Eu sou a vossa Rainha da Paz e a vossa Mãe. Desejo guiar-vos no caminho da Paz que vem só de Deus. Por isso, orai, orai, orai. Obrigada por terdes respondido ao meu chamado”.


“Os homens devem ser adulados ou destruídos, pois podem vingar-se das ofensas leves, não das graves; de modo que a ofensa que se faz ao homem deve ser de tal ordem que não se tema a vingança".

"São tão simples os homens e obedecem tanto às necessidades presentes, que quem engana encontrará sempre alguém que se deixa enganar".

"Creio que seriam desejáveis ambas as coisas, mas, como é difícil reuní-las, é mais seguro ser temido do que amado".

O Japão também tem uma Nossa Senhora



Nossa Senhora Japonesa



No século XIX, em meio ao fortalecimento de visões de mundo pautadas pela eugenia e pela nefasta conjugação entre o evolucionismo de Darwin, o racismo e o imperialismo econômico, Maria escolhe aparecer nos mais diferentes lugares da Terra. 

Assume feições e vestes correspondentes a estes lugares. Ela, como dirá o compositor Padre Zezinho, escolhe ser Nossa Senhora das milhões de luzes e não apenas das luzes do Iluminismo eurocêntrico. Existe, inclusive (e foi isso que chamou atenção para escrever esta postagem) uma Nossa Senhora de olhos puxados. 

Nossa Senhora de Akita é o título conferido a Maria, após sua aparição no Japão, em 1973. Aparece à irmã Agnes Sasagawa Katsuko. Ao fim desta postagem, transcrevemos parte do relato desta aparição.

O esmaecimento das fronteiras entre os povos é atestado pelo fato de um anjo, que aparece acompanhando a voz de Maria, recomendar à freira que reze uma das oraçoes ensinadas aos pastores de Fátima, mais de cinquenta anos antes. Nossa Senhora pediu que esta oração fosse proferida ao fim de cada mistério do terço: "Meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos todos do inferno. Levai as almas todas para o Céu e socorrei, principalmente, as que mais precisarem de vossa misericórdia!".

A seguir, outras aparições que indicam a preocupação de Maria com a causa da diversidade. Saiba mais sobre o tema no site Últimas e Derradeiras Graças.


Nossa Senhora de Kibeho
Onde aconteceu: Em Ruanda (África centro oriental). 
Quando: Em 1981. 
A quem: principalmente oito pessoas.

Nossa Senhora de Cua
Onde: Na Venezuela. 
Quando: Em 1976. 
A quem: A Maria Speranza Medrano de Bianchini.

Nossa Senhora de Medjugorje
Onde aconteceu: na Iuguslávia.
Quando: de 1981 até o presente.

Nossa Senhora de Todos os Povos, na Holanda 
Onde aconteceu: Em Amesterdam - Na Holanda. 
Quando: Em 1945 (final da Segunda Guerra). 
A quem: A Ida Peerdeman.


O respeito à diversidade é característica das aparições marianas de longa data. É o que atesta sua visita, com feições indígenas, a Guadalupe, no México. Ao aparecer a um índio, ela contesta o monopólio da cristandade, tido até então como privilégio dos cristãos católicos europeus. Além disso, Maria contesta também a ideia em voga, na época, de que o índio não era um ser humano.

Esta aparição continua viva nos olhos da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. Após inúmeras análises científicas, foi provado que estes olhos são formados por tecido humano e vivo. Mas, tal aparição permanece vital também como denúncia da ameaça que a diversidade vem sofrendo por discursos baseados numa espécie de neo-totalitarismo, como ilustra a ideologia do responsável pelo massacre na Noruega.

8 de setembro é, no calendário da Igreja Católica, o dia dedicado à lembrança da natividade de Nossa Senhora. Não deixe de ver na seção Conexões Absurdas, deste blog, o texto Debate entre Nossa Senhora e Nicolau Maquiavel.

 
Trecho de um relato da primeira aparição de Nossa Senhora de Akita, disponível no blog Ani Ledodi Vedodi Li :

"Naquela noite profunda, por volta das três horas da madrugada, eu estava rezando, quando ouvi uma voz, sem distinguir de onde viera a me dizer: 'Não tenha medo. Não reze apenas pelos teus pecados, mas reze em reparação pelas faltas de todos os homens. O mundo atual fere o Santíssimo Coração de Nosso Senhor por sua ingratidão e por suas injúrias; a ferida e a dor de Maria são muito mais profundas do que as suas. Vamos, então, à capela; eu vou rezar com você."

"Senti-me, pela primeira vez, encorajada a olhar o rosto daquela que estava tão perto de mim, à minha direita. Ao vê-la, notei a grande semelhança com a minha irmã amada, que havia falecido havia alguns anos, após ter recebido a graça do Batismo. A emoção fora tão grande que eu pronunciei o nome da minha irmãzinha. Então, sorrindo, com doçura, com um ligeiro movimento de cabeça, simbolizando "não", a imagem disse: "Eu sou aquela que está contigo e que cuida de ti." Fez então um sinal de despedida e desapareceu."

"Rapidamente vesti o meu hábito e quando cheguei ao corredor, "ela" já estava diante de mim. Eu a segui através do longo corredor, passos rápidos, possuída por um sentimento de segurança comparável ao de uma criancinha que é levada pela mão. Assim que entrei na capela, aquela que estava tão perto de mim, como presença segura e tranqüilizante, desapareceu de meus olhos.”.


Irmã Agnès Sasagawa Katsuko
 

Nossa Senhora de Todos os Povos - Holanda



Nossa Senhora de Akita























7 de setembro de 2011

Série: Tarsila do Amaral e Freddie Mercury - Capítulo 3: Tarsila, amiga de Mário de Andrade

Tarsila do Amaral, Retrato de Mário de Andrade, 1922, óleo sobre tela, 54 x 46 cm.
 
A seguir, reprodução de uma carta escrita, em 1923, por Mário de Andrade para Tarsila do Amaral. A reprodução foi extraída da revista Imaginário Poético.
 
 
Querida amiga

Se é mesmo verdade que os gregos e os romanos tratavam seus deuses com familiaridade amiga, creio que foi o cristianismo que trouxe para os homens ocidentais o temor pelas entidades divinas.
 
Aproximo-me temeroso de ti. Creio que és uma deusa: NÊMESIS, senhora do equilíbrio e da medida, inimiga dos excessos. Quando um homem da Terra era demasiado feliz, via crescerem-lhe terras e riquezas, e tinha em torno de si braços, lábios de amor, coroas de glória e alegrias somente, Nêmesis aparecia. Vinha lenta, com seu passo lento, sem rumor. Mas ao homem-da-Terra fugiam-lhe riquezas, alegrias. Perdia amor, glória e riso.
 
És Nêmesis, sem dúvida. Eu era são. Alegre, confiante, corajoso. Mas Nêmesis aproximou-se de mim, com seu passo lento, muito lenta. Depois partiu. Doenças. Cansaços. Desconsolos. Ainda todo o final de dezembro estive de cama. Venho agora da fazenda onde repousei 10 dias.
 
Mas será mesmo Nêmesis? Que és deusa, tenho certeza disso: pelo teu porte, pela tua inteligência, pela tua beleza. Mas a deusa que reprime o excesso dos prazeres? Não creio. Tua recordação só me inunda de alegria e suavidade. És antes um consolo que um pesar. A verdadeira, eterna Nêmesis, são as horas implacáveis que passam dia e noite, dia e noite, sol e escuridão. Estou nos meses da escuridão. Foi a fraqueza que me fez pensar que eras tu Nêmesis. Perdão. Estou a teus pés, de joelhos. Mais uma vez: perdão.

Espero tua carta longa, contando coisas breves de Paris. Já estou a imaginar a lindeza do meu Picasso. 

Obrigado.
Dize-me alguma coisa da Arte. Já estás trabalhando? Pintas muito?
Recebeste Klaxon n° 7?
Adeus.
 

Série: Tarsila do Amaral e Freddie Mercury - Capítulo 2: Tarsila do Amaral, amiga de Chico Xavier


Tarsila do Amaral, Manteau Rouge (auto-retrato de Tarsila do Amaral), 1923, óleo sobre tela, 73 x 60cm.


Tarsila do Amaral era uma mulher decidida, empreendedora e visionária. Mas, como qualquer ser humano, não estava imune à depressão. A Grande depressão de 1929 a abalou financeiramente. Contudo, ela canalizou a energia deste abalo para seu trabalho artístico. 

Era manifestamente moderna, mas, na hora da dor, tornava-se romântica, procurando refúgio no universo da arte. A intensidade desta fuga é perceptível no fato de a artista não medir esforços em tentar se abrigar, por meio da pintura, no sonho e nos imaginários míticos ancestrais. E, nesse refúgio, silenciava a depressão com cores vivas e por meio do gigantismo das formas, uma maneira de desmentir a pequenez humana.

Ela foi vitimada por vários golpes. Em 1930, finda o casamento com Oswald de Andrade. Contudo, remedeia a depressão com o trabalho. 

Nos anos 60, a depressão acaba levando certa vantagem, pelo fato de Tarsila ter passado por dois eventos traumáticos sucessivos. Em 1965, vítima de um erro médico, fica paralítica. Um ano depois, perde sua filha única, Dulce, por conta do diabetes.

Neste momento, Tarsila procura refúgio na espiritualidade, vinculando-se ao Espiritismo e tornando-se amiga de Chico Xavier. Passou a doar parte do dinheiro da venda de seus trabalhos para uma instituição administrada pelo médium.

Série: Tarsila do Amaral e Freddie Mercury - Capítulo 1: O "Love of my life" de Tarsila, o "Abapuru" de Freddie Mercury

Retrato de Oswald de Andrade , 1922 óleo sobre tela, c.i.e. 61 x 42 cm Coleção Particular Reprodução fotográfica Romulo Fialdini


Freddie Mercury compôs Love of my life, inspirado no amor que sentia por Mary Austin, com a qual viveu durante cinco anos.

Mesmo separados, após o cantor ter assumido a bissexualidade, mantiveram uma amizade inabalável até o fim da vida dele. Ao se separarem, ficaram ainda mais ligados.


Tarsila do Amaral também teve um “Love of my life”: foi a tela O Abapuru, composta em 1928 para presentear Oswald de Andrade. Atualmente, a tela pertence à coleção Constantini, localizada em Buenos Aires.

Aliás, trata-se do quadro brasileiro vendido por maior valor: um milhão e quinhentos mil dólares. A reprodução, ao lado, foi fotografada por Romulo Fialdini. Conheça detalhadamente a trajetória de Tarsila do Amaral, visitando o site oficial sobre a artista



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