16 de março de 2012

A música triste do Chaves e seu misterioso elo com Shakespeare, Cervantes e os origamis

Chaves



Roberto Bolaños, criador das histórias do personagem Chaves, recebeu, recentemente, homenagens de 17 países das Américas. O evento aconteceu no México, onde Bolaños é mais conhecido como Chespirito, diminutivo carinhoso de Shakespeare (ou Chekspir, em Espanhol). 

Este apelido foi dado pelo cineasta Agustín P. Delgado a fim de destacar a semelhança entre o dramaturgo inglês e o dramaturgo mexicano.

Estão presentes, nas histórias Del Chavo Del Otcho, ingredientes shakespeareanos. Um tom trágico se ergue como paisagem de fundo de uma narrativa em que a comédia não é propriamente um fim, mas um meio, um desvio que nos conduz meio que desavisadamente aos domínios da tragédia.

Basta lembrar certas situações de alguns episódios, como o momento em que a personagem Chiquinha, interpretada pela atriz Maria Antonieta de las Nieves, pergunta a Chaves se ele conhecia o mar. Ele mentiu, dizendo que sim. A seguir, Chiquinha, para testar a veracidade da afirmação, pergunta a Chaves qual o tamanho do mar. Ele responde, com um gesto, que o mar tem a medida da distância entre suas duas mãos separadas (menos de um metro). Chiquinha pergunta de onde ele tirou aquele absurdo e ele diz que aquele era o tamanho do mar quando visto na tela de uma televisão.

Assim como acontece nas histórias de Chaves, na obra de Shakespeare, era comum a oscilação entre tragédia e comédia. Porém, a presença da comédia era restrita, funcionando de certa maneira como um momento de intervalo. 

Além disso, os lances de comédia eram providenciados por personagens que não pertencem à elite. Como observa o antropólogo Norbert Elias, esta estratégia de Shakespeare – hoje considerada como algo revolucionário - era vista com maus olhos pela nobreza de outros países europeus. A mistura de diferentes estratos sociais era entendida como um insulto ao formato canônico da tragédia.

Na versão brasileira das histórias do Chaves, a música de fundo para os momentos mais tristes é de autoria do musicista clássico John Charles Fiddy, da Grã-Bretanha. Talvez isto seja um indicativo inconsciente da conexão entre as histórias de Bolaños e as de Shakespeare. 

Não seria estranho se em vez de Chespirito, Bolaños tivesse sido apelidado de Cervantito, em alusão a Miguel de Cervantes. A figura de Chaves também remete à obra Dom Quixote, porém de modo peculiar, promovendo, nos diferentes personagens, a fusão contraditória do caráter naif de Dom Quixote e da astúcia de Sancho Pança.

Os origamis são a arte japonesa de criar diferentes representações com dobras geométricas de uma peça de papel, sem cortá-la ou colá-la. O sentido da dobradura, no origami, é a exploração artística da vacilação, da hesitação, da indecisão. É uma arte que se pauta pela oscilação.

A narrativa de Chaves tem um caráter análogo ao do origami. Um dos grandes elementos causadores do riso, em Chaves, é a oscilação de caráter dos personagens, que, num momento comportam-se como crianças inocentes e no seguinte como adultos cruéis. E o contrário também ocorre. Os adultos são tomados pela inocência e as crianças pela crueldade. Portanto, outro apelido que Roberto Bolaños poderia receber é o de Akirito, em referência ao japonês Akira Yoshizawa, o principal responsável por conferir à técnica do origami o estatuto de arte.

Não dá pra deixar de mencionar a controvérsia com relação à autoria e ao nome da música triste do Chaves. Alguns pesquisadores admitem que a música se chama Farewell my lovely e é de autoria do também britânico Alan hakwshaw.

Saiba mais sobre John Charles Fiddy e sobre a controvérsia com relação à autoria da música triste do Chaves.

John Charles Fiddy - Mum
ou Farewell my lovely de Alan hakwshaw?


Boa Noite, vizinhança!

7 comentários:

  1. Olá, Cleciopegasus. Sou do blog Vizinhança do Chaves e fiz aquele artigo sobre o John. Gostaria de agradecer pela postagem do link e parabenizá-lo pelo seu texto. Ficou muito bom.

    Abraço.

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    1. Que legal o teu retorno. Eu fiquei muito surpreso com a informação e teu texto me inspirou a fazer o meu. Muito obrigado pelo retorno. Abraço pra ti e parabéns pelo blog.

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    2. Então, descobri o seu texto porque o painel do WP mostra os sites que linkam o blog, e o seu era um deles.

      Eu que agradeço e também te parabenizo.

      Aliás, vocês fazem parcerias com blogs?

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  2. Olá! Td bem?

    Gostaria de saber se você sabe qual o episódio no qual a cena que vc descreveu a cena do tamanho do mar. Eu lembro claramente da cena, mas não da história do episodio inteiro.

    Ps.: à propósito, sobre a música triste do Chaves, pelo que pesquisei, as músicas John Charles Fiddy - "Mum" e Aalan Hakshaw - "Farewell my lovely" são diferentes. Onde está a controvérsia? essa parte eu não entendi.

    Valeu! Parabéns pelo post!

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    1. Li sobre esta controvérsia no blog Vizinhança do Chaves (http://vizinhancadochaves.wordpress.com/2011/12/10/conheca-john-charles-fiddy-autor-da-musica-triste-do-chaves/). Quero te agradecer pelo comentário e pedir para me ajudares a descobrir qual é realmente o nome da música triste do Chaves ;) Depois, vou ter de escrever uma postagem para descobrir qual o nome da mãe do garotinho do filme A História sem Fim. Nunca consegui entender, quando ele grita esse nome no final do filme. Grande abraço. Obrigado pela leitura. Seja sempre bem-vindo ou bem-vinda

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    2. Também gostaria de saber qual episódio

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    3. É o episódio em que os personagens da série se preparam para ir a Acapulco. Abração.

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