17 de março de 2012

Por que Air Supply não canta mais Lonely is the night?



Estávamos chegando ao Chevrolet Hall, em Recife, para assistir ao show de Air Supply. Foi quando minha amiga Iliana comentou que a banda não cantaria a música Lonely is the Night. Como assim? Toda a propaganda do show havia sido ilustrada por essa música...

O britânico Graham Russell e o australiano Russell Hitchcock fizeram do filme "Por que não mais cantar Lonely is the night" uma obra de suspense digna de Alfred Hitchcock, mas sem dar direito à audiência de, ao final, ter o mistério desvendado...

Entrei no Chevrolet Hall tendo de administrar um dos mais velhos dilemas da espécie humana: o diálogo inconcluso entre esperança e desapontamento. Mas este dilema é bem mais sofrível de se lidar com quando a alma é encarada como um tipo de máquina polaroide da qual os sentimentos espirram como fotografias instantâneas que, logo mais adiante, vão se apagar...

...Os sentimentos devem ter uma parcela de imediato, mas, certamente também, são projetados e construídos. Não são tanto um crime premeditado. São mais uma peça arquitetônica. E digo isso porque acredito que o sentimento é resultante do não que somos capazes de dizer à natureza que habita em nós.

Como observa a filósofa Viviane Mosé, trazemos a natureza nos poros tanto do corpo quanto da alma. Somos o desejo imediato assim como um rio é o impulso imediato de seguir seu fluxo ou como uma fera é o impulso imediato de devorar. A humanidade em nós tem o poder de dizer não a este impulso. Não um não de um censor ditatorial ou de um carrasco que comanda um pelotão de fuzilamento (e se for assim, corre-se o risco de negar a animalidade em nós, transformando-nos em zumbis). Mas sim, um não de um artífice que precisa represar a água para ser capaz de conseguir o prêmio da energia elétrica.

...Os sentimentos nascem nesta encruzilhada entre a fluidez e a represa e, com eles, a dor, mas também a arte.

Graham Russell é o principal compositor das canções da banda Air Supply. Ele compõe diariamente e, ao longo do tempo, vai juntando os pedaços de sentimentos. Ele sabe que nenhuma esperança é completa, como também nenhum desapontamento o é.

E, mesmo sem haver sido tocada a música Lonely is the night, o show me deu oportunidade de represar o desapontamento e acender a faísca elétrica da esperança. Isso não vai garantir que a dor ou a solidão, ou o tédio ou a alternativa vai deixar de existir. Mas também que mania a nossa de querer que o amor amordace as alternativas e as lance no porão do esquecimento! Mas, né foda!

... Graham Russel, no meio do show, falou sobre como o amor se revela ao fazer de sua razão de ser ser como um rio que flui entre os seres. " We do not fall in love. It is love that fall in us". Porém, este fluir
é composto de egoísmos, mas também de abnegação; de doçura, mas também de cinismo...

Eu diria que nós caímos no amor e o que o amor cai em nós e que é incrível como estes dois tipos de queda já fizeram tantos mortos se reerguerem de suas tumbas.

- Você não se manca de ter esperança?
- Oui, Je me manque e sinto falta de mim quando não posso sentir falta de quem amo. Melhor dizendo, sentir saudade... Porque falta só sinto do que perco e saudade sinto até do futuro, mesmo que eu venha a ser desapontado.

3 comentários:

  1. Olá, é... realmente eles não cantam mais Lonely is the night. Eles já fizeram dois shows em Manaus e fui nos dois e nada!! Adoro a música e é uma pena eles não nos darem a oportunidade de ouvir ao vivo.

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    1. Foi mesmo uma pena. Também gostaria muito de tê-los ouvido cantar a música Chances, que também é muito bonita. Obrigado pelas observações, Pollyanna! Grande abraço!

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  2. Foi mesmo uma pena. Também gostaria muito de tê-los ouvido cantar a música Chances, que também é muito bonita. Obrigado pelas observações, Pollyanna! Grande abraço!

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