25 de dezembro de 2014

Natal Crônico: quando um paparazzo clicou Deus embriagado (de amar)

Plar Olivares - Reuters

Natal Crônico

As cicatrizes estão se redesenhando
Como um quadro que exculpe o coração do pintor
Peguei carona em flocos de neve semi-árida
E minha alma cresceu, germinando asas diamantinas
No solo dos abismos transplantados, ex-jorrantes
Despedi-me do ouro, do incenso e da ira
E decidi crescer, tornar-me carpintor
O perdão tem adquirido lindos contornos:
Talhado nas ondas, pouco a pouco assume-se oceano profundo

O beijo que fugiu dos escombros de meu abraço
Sentiu-se feliz ao compreender que, por mais impetuoso que seja
Só será invento quando deixar em paz o sono das portas fechadas
E brindar o encontro de janelas pousadas nas asas abertas do sol horizontal
De amigos que correm sem vergonha de ser lado a lado
Como íntegros corações incertos escritos por linhas aortas

O Natal foi tão Natal esta noite
Que o menino-deus nasceu e ressuscitou de uma tacada: e ninguém ficou só.

Tanta gente que se ama se encontrou para ficar sem assunto
E não ter o que dizer era doce à sombra daquele tsunâmico aconchego
A paz continuava escarpada por temores, por procurações assinadas por preconceitos antigos
Mas, mesmo havendo passado 2014 anos, o rosto da porta estreita continuava com aquela lindeza agreste da Galileia
E quando deu meia-noite, minha esperança tocou a cigarra
Berlim sem Muro foi quem veio atender
E, vá entender o amor, Arlequim!
E todo pastor do deserto teve direito a três taças de Espumante
E o Gênio só tinha um único desejo: que as garrafas todas fossem implodidas
Que os homens-bomba mudassem de ideia
os radicais desdegolassem os filhos: das mães, que ainda choram

E Deus, como bom pai babão, se embriagou da espuma do amar

E acendeu um charuto costa-riquenho para celebrar o nascimento de seu bambino.



11 de dezembro de 2014

Feliz Ano Novo antecipado


Feliz Ano Novo antecipado
Por Jose Luis Paredis

Na orla da tela do computador, duas janelas se revezavam:
Uma em homenagem a Nietzsche, outra em homenagem à pornografia
Ambas as janelas igualmente obscenas.
Tive de deixar o Eu te amo do lado de fora, ao relento
Porque os Eu te amos não nos ajudam a caber na roupa (in)justa da normalidade
Sonhei em fazer a contagem regressiva para o Ano Novo, ensaiando um tango entre nossos dedos mindinhos
E o resto de nossos corpos seriam consagrados à safadeza com intervalo para carinhos doces imitados do quebrar das ondas
Quando fores bater à porta do Feliz Ano Novo que não me desejaste e do Feliz Ano Novo que, talvez, não me darás,
Arromba-me a porta da mágoa e encurrala-me até eu não poder mais escapar de teu olhar cabisbaixo
Quer continuar a ler, livre-arbitre-se
Não quer, dane-se pro Céu


Mas antes de choveres teu nojo e tua vergonha em cima de mim
Me deixa ligar o guarda-sol
Peço a Deus que enguice todos os boatos maledicentes que sopram em teus ouvidos-mente
Inclusive o boato de que às terças e quintas sou psicótico e às sextas bipolar
Desmagnetizem-se os polos Sul, Norte e ES sudoeste,
Pois gosto de ti pelo que és.
De verdade
E todo exagero meu, o peso
Se desmentem diante da leveza da verdade do que sinto.






7 de dezembro de 2014

O primeiro bloqueio no Facebook : a gente nunca ex quer ser



A seguir, o relato de uma pessoa que experimentou, pela primeira vez, como é ser bloqueada no Facebook.


Não entendo porque o símbolo de “Bloqueado” no Face é um polegar de ok enfaixado, tendo em vista que depois de ser bloqueado, pela primeira vez, quem ficou doendo mesmo foi meu cotovelo. Mas, se seguirmos a risca a origem da expressão “dor de cotovelo”, ela não é a mais adequada. A timeline não é uma mesa de bar onde os bloqueados ficam com o cotovelo apoiado, chorando dores de amores perdidos.

Entre as origens da palavra ok, a mais plausível é aquela apontada por um antigo professor de Inglês que tive na Cultura: ok, do grego olla kalá, significando “tudo bem”. Mas, existe uma origem menos plausível, mais poeticamente mais rentável. A palavra ok teria sido concebida nos alojamentos militares da Guerra Civil Americana e siginficaria “0 killed” (zero mortos), o que por tabela significava “tudo joia”. Mas, devo dizer que meu O.K. está realmente machucado e que, entre mortos e feridos, salvaram-se quase todos, menos este que escreve. Mas, fico feliz em anunciar que estou ferido, mas não morto.

A ocorrência - Durante toda a era cristã, bloqueei duas pessoas no Face. Uma foi um sujeito que me assediou moralmente (assédio moral = valer-se da posição hierárquica superior para constranger outra pessoa. Não confundir com assédio sexual).

A outra vez que usei a ferramenta de bloqueio foi para tentar me desapaixonar. Apostei na ideia de que se minha indiferença fosse maior do que minha saudade, conseguiria seguir adiante. Afinal, hoje em dia, a saudade parece loucura e a indiferença a condição normal.

Esse segundo bloqueio durou incríveis 23 horas.  Senti falta de digitar a primeira letra do meu amor platônico e ver sua foto de perfil em miniatura.

Finalmente, chegou o momento de eu provar meu próprio remédio-veneno: fui bloqueado. Agora, de certa maneira, não faço parte do mundo, mas mesmo assim com os pés e mãos bloqueados, planejo ir pra um SAMBÃO amanhã na República dos Cães sem Dono.

Pausa para um parágrafo desnecessário: Dizem que, na era da informação, o tempo ideal para rever uma pessoa é um ano, porque, assim, dá tempo de se fazer algum grande feito e não correr o risco de estar à mesa com o amigo e cometer o crime hediondo de ficar em silêncio por falta de assunto.

Todo nunca mais é um tipo de armadura. E tenho usado e abusado dessa armadura, por medo de ser alvo da indiferença. Por que faço promessas ao sempre e ao nunca, se não as posso cumprir? Como devo dizer que gosto de quem me bloqueou se minha mensagem não terá mais direito nem a um “vizualizado”?

Descubro, ao sentir na pele o bloqueio do Face, como é difícil virar EX: ex-marido, ex-namorado, ex-amigo, exilado.


Não sei de onde vem essa bendita síndrome de Estocolmo congênita, que me faz sentir vontade de abraçar o algoz bloqueador. Dizem que outro motivo de bloqueio é o medo, mas rezo todo dia antes de dormir para que meu bloqueador tenha coragem de não ter medo. Não existe Brasil para refugir o triste 1808 que está crescendo em mim após esse bloqueio continental imposto por aqueles napoleônicos olhos cor de vaguidão específica. Contudo ou nada, a maior loucura que posso cometer nesse momento não é imitar Napoleão, mas sim imitar um apaixonado e ficar torcendo pra que o império napoleônico caia e eu possa ver em minha caixa de mensagens um “oi” todo republicano ou um anárquico “senti sua falta”.
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