A seguir, o relato de uma pessoa que experimentou, pela primeira vez, como é ser bloqueada no Facebook.
Não entendo porque o símbolo de “Bloqueado” no Face é um
polegar de ok enfaixado, tendo em vista que depois de ser bloqueado, pela primeira
vez, quem ficou doendo mesmo foi meu cotovelo. Mas, se seguirmos a risca a
origem da expressão “dor de cotovelo”, ela não é a mais adequada. A timeline não
é uma mesa de bar onde os bloqueados ficam com o cotovelo apoiado, chorando
dores de amores perdidos.
Entre as origens da palavra ok, a mais plausível é aquela apontada por um antigo professor de
Inglês que tive na Cultura: ok, do grego olla
kalá, significando “tudo bem”. Mas, existe uma origem menos plausível, mais
poeticamente mais rentável. A palavra ok teria sido concebida nos alojamentos
militares da Guerra Civil Americana e siginficaria “0 killed” (zero mortos), o
que por tabela significava “tudo joia”. Mas, devo dizer que meu O.K. está
realmente machucado e que, entre mortos e feridos, salvaram-se quase todos,
menos este que escreve. Mas, fico feliz em anunciar que estou ferido, mas não
morto.
A ocorrência - Durante
toda a era cristã, bloqueei duas pessoas no Face. Uma foi um sujeito que me
assediou moralmente (assédio moral = valer-se da posição hierárquica superior
para constranger outra pessoa. Não confundir com assédio sexual).
A outra vez que usei a ferramenta de bloqueio foi para
tentar me desapaixonar. Apostei na ideia de que se minha indiferença fosse
maior do que minha saudade, conseguiria seguir adiante. Afinal, hoje em dia, a
saudade parece loucura e a indiferença a condição normal.
Esse segundo bloqueio durou incríveis 23 horas. Senti falta de digitar a primeira letra do
meu amor platônico e ver sua foto de perfil em miniatura.
Finalmente, chegou o momento de eu provar meu próprio
remédio-veneno: fui bloqueado. Agora, de certa maneira, não faço parte do mundo,
mas mesmo assim com os pés e mãos bloqueados, planejo ir pra um SAMBÃO amanhã
na República dos Cães sem Dono.
Pausa para um parágrafo desnecessário: Dizem que, na era da informação, o tempo ideal para rever
uma pessoa é um ano, porque, assim, dá tempo de se fazer algum grande feito e
não correr o risco de estar à mesa com o amigo e cometer o crime hediondo de
ficar em silêncio por falta de assunto.
Todo nunca mais é um tipo de armadura. E tenho usado e
abusado dessa armadura, por medo de ser alvo da indiferença. Por que faço
promessas ao sempre e ao nunca, se não as posso cumprir? Como devo dizer que
gosto de quem me bloqueou se minha mensagem não terá mais direito nem a um “vizualizado”?
Descubro, ao sentir na pele o bloqueio do Face, como é difícil
virar EX: ex-marido, ex-namorado, ex-amigo, exilado.
Não sei de onde vem essa bendita síndrome de Estocolmo congênita,
que me faz sentir vontade de abraçar o algoz bloqueador. Dizem que outro
motivo de bloqueio é o medo, mas rezo todo dia antes de dormir para que meu
bloqueador tenha coragem de não ter medo. Não existe Brasil para refugir o
triste 1808 que está crescendo em mim após esse bloqueio continental imposto
por aqueles napoleônicos olhos cor de vaguidão específica. Contudo ou nada, a
maior loucura que posso cometer nesse momento não é imitar Napoleão, mas sim
imitar um apaixonado e ficar torcendo pra que o império napoleônico caia e eu
possa ver em minha caixa de mensagens um “oi” todo republicano ou um anárquico “senti
sua falta”.
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