26 de abril de 2017

Cassini e a tentativa de sondar o coração de um labrador


Photo credit: Marcello Consolo via VisualHunt.com / CC BY-NC-SA


Vai fazer 20 anos que a sonda espacial Cassini vasculha a imensidão do cosmos
De mansinho
Andou tão pouco e sua morte está anunciada: será nos anéis de saturno
Quem não gostou muito da notícia foi Rita Lee

Valeu o esforço, Cassi
Os sinos de Mônaco e as ondas de Las Vegas se dobram
Diante da tua insondável persistência

Na tentativa de sondar o cosmos humano,
Podemos ser nada gentis
Mas, temos a tendência de procurar no mistério das mentes e dos corações
Um farol que nos ajude a singrar
E desderramar o sangue brotado da cepa estéril das guerras

Labrador,
Se a telepatia fosse minha audição,
Se eu pudesse desatar os nós das profundezas das entrelinhas,
Ainda assim, preferiria te descobrir pouco a pouco
Dia após dia

E contemplar a luz abrigado na sombra do teu abraçoso mistério

23 de abril de 2017

A tribo da "chota" e o pau nosso de cada dia


Photo credit: Jim Nix / Nomadic Pursuits via Visualhunt / CC BY-NC-SA


Não pertenço a nenhuma tribo
Não sei usar arco, flecha, espada
Só uso muito mais ou menos o chapéu mágico de Presto

Vou embora um pouquinho pra sempre
Deixar de roubar o seu tempo respondendo meu zap
Tempo que você pode utilizar melhor
Caçando alguma mulher do sexo feminino e que tenha “chota” em vez de ânus,
“chota” em vez de boca,  em vez de olhar

Vou ter aulas com Salvador Dalí e  com o antípoda de Pigmaleão
E construir uma obra SUSrrealista: só “chota”
E condenená-la à tortura eterna de me ouvir  cantar O Pai te ama

Por que, afinal, o que resta ao macho a não ser provar que o mundo
É indigno de homens e de mulheres,
Que o mundo deve ser reduzido a um campo de tortura de “chotas”?
E, no teatro do absurdo,
Provar que o gênero Macho (seja hetero, homo, vegetal ou mineral) é o único que deveria existir
Reduzindo os cinco sentidos do corpo a um único: o de ser todo “chota”,
Cu ou Caralho


Faz sentido?

E depois da caça, sem precisar ir a nenhum baile de favela,
Empalhe a “chota” dela ou dele e pendure na porta dos fundos da sua oca...
Cabeça

Como homem, você é lindo, bom e justo
Mas, como macho, um sequestrador
Liberte quem amo do cativeiro de si mesmo

Posto que a doçura dele faz falta na grande tribo do mundo

20 de abril de 2017

O primeiro amor que nos existe


Photo credit: elkinator75 via Visualhunt.com / CC BY-NC



Primeiro amor que me existe
Você não imagina o quanto me faço feliz contigo
Uma felicidade que não é por excesso
Nem por falta
Nem também na medida exata
Uma felicidade diferencial, que me faz feliz sem passar na prova de Cálculo Integral

Não tema por eu dizer que estou feliz
Porque minha felicidade não pretende ser âncora para teus aviões
Amo nossas futuras viagens
E quando você precisar partir sozinho
Minha espera e teu retorno ficarão namorando às escondidas

Deixa eu dormir abraçado contigo
Cabeça recostada no teu peito
Meus sonhos migrando para teu coração
Teus cabelos lerão na palma da minha mão
As entrelinhas do prazer e do carinho

Antes de ontem e hoje teus lábios são lindos
De qualquer maneira
Meu beijo é teu
Depois de você ter começado a existir em mim
Os capítulos anteriores se tornaram acidentes de percurso

Quero ter a chance de ficar sonâmbulo quando estiver a sós contigo
E contar meus planos para pipocar as minas de prazer escondidas no teu corpo
Deixa eu invadir tua cama e acampar na tua nudez
E de quando em vez soprar tua nuca até gerar um redemunho
Até que os vórtices do teu ventre e de tua fronte se enrosquem
E teu equilíbrio

Inaugure a Operação Caminho  de Volta

16 de abril de 2017

A primeira vez do Ressuscitado


Photo credit: Anboag via Visualhunt.com / CC BY-NC




A força da ressurreição faz o ser humano desistir de lavar as mãos
E preferir mergulhar de corp’alma
A pedra do sepulcro é esmigalhada pela bomba que explode de dentro pra fora
Curando todas as feridas

A força da ressurreição dissolve a miopia do tempo
Abraão, Santa Bárbara, Luther King, todos sentem igualmente a luz do amor
Que a morte não conseguiu conter

O sepulcro é como uma semente, lançada no terreno mais frio, escuro, seco e pedregoso
E quem pode impedir que esta conheça o verdadeiro amor, sem “se” ou “talvez”?
Ela, a despeito das circunstâncias funestas que a envolvem
Foi regada por dentro por uma tempestade de águas tranquilas
E germinou um dilúvio de luz
O amor é uma colheita de ressurreições plantada dentro da semente

As pedras da corrupção, da deselegância, da insinceridade, da truculência, do deboche
Não conseguem trancar o sonho dentro de um sepulcro
O sonho está se reescrevendo e a tinta da pena não é nem azul nem vermelha
O sonho está se reescrevendo sem qualquer pena ou pesar
Pelas asas do Espírito, o mesmo que ensina o caos e o remanso a namorar

Meu amor, os meus trinta e poucos, ou tantos, hão de ver pulverizada a pedra sepulcral
Que insiste em separar a minha primeira vez da sua

13 de abril de 2017

Um bom pecado para a Semana Santa



Photo credit: dog97209 via VisualHunt / CC BY-NC-ND



Peço licença a Jesus para pecar
Mudar as leis da natureza e tingir o salmão de branco;
As luzes das velas de furta-cor

Durante esse jantar, sentar no teu colo
E te pedir que de quinze em quinze dias
Nos encontremos para uma noite de núpcias
Entrega total: sem compromisso

Outro pecado bom e santo: injetar um alto-falante
No teu coração
E descobrir que ele me chama de amor
Com todo ardor que é possível nascer do teu rosto fofo

Descobrir que é só da boca pra fora quando você cita Petrúcio Amorim
Pra tentar me convencer que não sou eu quem vai te dar na primavera as flores
Que você sonhou no verão

Não falo de tuas virtudes pra não te deixar acanhado,
Mesmo achando que és a timidez mais linda que já visitou a sala-de-estar do meu sonho
Só você consegue me salvar da aquaplanagem

Quero ser uma fôrma onde teu corpo ao leite se derrama até virar o chocolate preferido
(Aquele que vive em constante crise de identidade)
Até transformar em doçura todas as tuas feridas

Toda vez que meu outono te vê
Da flor do meu orgulho caem petulâncias,
E tudo o que minha complicação quer
É ser carregada nos teus braços até virar uma pipa sobrevoando o amanhecer
Da praia do amor

Estou aqui pra ensinar teu prazer a falar em um novo idioma
Todas as minhas línguas estão a tua disposição
Até mesmo aquelas que são mudas e que não têm medo do teu jardim

A vontade de te ter por perto desmascara minha tentativa fajuta de fazer ciúme

Quando der vontade de você sentir raiva de mim, casa comigo em segredo
E me leva teus sertões enluarados, sorrisos largos, pra forrar as paredes de nossos abraços apertados

Você é realmente lindo, dentro e fora do espelho da minha poesia
E dizer que te amo é arma secreta dos meus gestos
Retiro pra minha alma

4 de abril de 2017

Quem se lembra do orelhão? Quem lembrará do uber? E do aniversariante?

The call

Photo credit: P!XELTREE via Visualhunt.com / CC BY-NC-SA


O orelhão, um tipo de cabine telefônica popular no século XX, foi uma invenção extraordinária da sino-brasileira Chu Ming Silveira (1941-1997).

Mas, não é por que o orelhão foi algo bacana que o Congresso Nacional deva proibir o Whatsapp de existir e decretar o retorno triunfante de seu ancestral

Gostaria de saber se aquele que amo votaria pela minha extinção no plenário da Câmara

Ou se escreveria um Projeto de Lei que só me permitisse existir em sua vida de acordo com os seus parâmetros: de acordo com o que lhe é conveniente

Antes mesmo de o Projeto ser enviado ao Senado, seu autor está enchendo-o de emendas com o objetivo de me convencer que sou desimportante pra ele
Quantos orelhões são necessários pra negar um grande amor?

Me pergunto quem terá inventado a vela de aniversário
E quantos ventos são necessários para inflá-la e fazer o barco andar

Em outubro, esperei que você me desse os parabéns e fui vetado por uma frente fria
Que teu coração fez um esforço tremendo pra gerar
Ou então você é caloroso com todos e guarda para mim suas intempéries

Ver tuas mãos trazendo o bolo para quem você considera importante; a vela em chamas
Incendiada pelo teu sorriso...
Esse calor humano reacendeu o frio do teu gesto de outubro

Estou entristecido, mas felizmente
Não estou me sentindo culpado por ter sido colocado na quinta divisão dos teus afetos

Te ver chegando, cabelo novo, meu labrador meio desengonçado e fofo, trabalhador admirável

Me encanta, até que achas uma brecha pra decretar meu encanto inconstitucional e me dar de beber impeachment em gotas em vez de cerveja

Sinto tanta saudade de ti, uma saudade com a asa ferida por um silvo longo e silencioso

2 de abril de 2017

Como te achar lindo em segredo




Foto: Karla Vidal




Desejei teletransportar uma entidade do sistema “S”
De Casa Amarela para Casa Caiada
Quer saber por quê?
Por ciúme
Porque queria que você quisesse ser achado bonito por mim

E você aí, achando que meus elogios são brincadeira
Que eu sou uma alma zombativa

Não adianta fingir que não é contigo
Porque meus olhos te acham lindo com olfato e audição
E sentem falta de um futuro onde poderão te achar lindo com tato e paladar

Não me enxergo e, por isso, desfilo nu aqui nesta poesia
Em busca da safadeza cortante que mora nos teus olhos semi-cerrados

Meu sexto sentido me diz que quando eu ficar cego, surdo e incapaz de mudar
Ainda assim, poderei pedir a minha língua para traduzir teu corpo para o idioma
Que todo ser humano conhece, 
E, quanto mais conhece, menos sabe o que dizer

Gasta até tua última seta comigo
Porque posso ser doutor,
Mas, nenhum diploma faz meu coração bater
Como quando recebo uma mensagem tua

Problema seu se acha ruim que eu te ame em segredo
Problema seu estar perdendo tempo de me abraçar em segredo

Meu cafuné não está preocupado se você vai cortar ou não as madeixas
O que ele quer é permissão pra voar por dentro dos teus cabelos
Em busca de orvalho
Você vale o risco de eu me perder nessas paragens

Tudo o que escrevo sobre ti não vê a hora de ser
Capaz de dormir no teu colo 

Quero que, agora que acabou o dia da mentira,
Você diga com tua voz calada de tanto
Andar pelos meus versos
Que não tem nojo, ou medo, de mim
Pra que teu carinho bata à porta do meu zap, derretendo minhas prisões de insegurança máxima

1 de abril de 2017

Como achar você bonito em segredo


Foto: Karla Vidal




Desejei teletransportar uma entidade do sistema “S”
De Casa Amarela para Casa Caiada
Quer saber por quê?
Por ciúme
Porque queria que você quisesse ser achado bonito por mim

E você aí, achando que meus elogios são brincadeira
Que eu sou uma alma zombativa

Não adianta fingir que não é contigo
Porque meus olhos te acham bonito com olfato e audição
E sentem falta de um futuro onde poderão te achar bonito com tato e paladar

Não me enxergo e, por isso, desfilo nu aqui nesta poesia
Em busca da safadeza cortante que mora nos teus olhos semi-cerrados

Meu sexto sentido me diz que quando eu ficar cego, surdo e incapaz de mudar
Ainda assim, poderei pedir a minha língua para traduzir teu corpo para o idioma
Que todo ser humano conhece, 
E, quanto mais conhece, menos sabe o que dizer

Gasta até tua última seta comigo
Porque posso ser doutor,
Mas, nenhum diploma faz meu coração bater
Como quando recebo uma mensagem tua

Problema seu se acha ruim que eu te ame em segredo
Problema seu estar perdendo tempo de me abraçar em segredo

Meu cafuné não está preocupado se você vai cortar ou não as madeixas
O que ele quer é permissão pra voar por dentro dos teus cabelos
Em busca de orvalho
Você vale o risco de eu me perder nessas paragens

É primeiro de abril e tudo o que escrevo sobre ti não vê a hora de ser uma verdade
Capaz de dormir no teu colo 

Queria que antes de terminar esse dia da mentira,
Você dissesse que tem nojo de mim
Pra que, quando chegasse meia-noite,

O teu carinho batesse à porta do meu zap, desmentindo minhas prisões de insegurança máxima
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