30 de novembro de 2012

Em nome do ócio e da amizade: o que há de comum entre o Face e as cartas em verso do século XVI?

As Três Graças - de Antonio Canova

 

Em nome do ócio e da amizade, mais recente livro de Saulo Neiva, reúne as pontas soltas de uma trama que, no século das Grandes Navegações, aproximava as palavras amizade, ócio e poesia.

A obra coloca em evidência a turbulenta fronteira entre o território do “Adeus” e o território do “Estou de volta”, fazendo inquietações do século XXI, acerca da permanência ou do fim de valores como sinceridade e eternidade, tornarem-se objeto de debate quando refletidas pelas Cartas em Verso, gênero (espelho torto) literário do século XVI, aparentemente lançado no esquecimento pelo advento do Romantismo.

Neste sentido, a proposta metodológica do autor dialoga com o universo de Jung, para quem o futuro, tantas vezes, é o movimento de passados que buscam a superfície do mar da história para tomar fôlego, aproveitando a oportunidade para mostrar à atmosfera como respirar novos ares.

A Carta em Versos almejou dar forma literária ao desejo de fazer da palavra uma entidade ao mesmo tempo pública e privada. Algo semelhante ao que ocorre nas redes sociais, onde uma mensagem, mesmo direcionada a alguéns específicos, é passível de ser compartilhada por pessoas não pertencentes à reserva “ecológica” da intimidade. O professor Lourival Holanda, durante o evento de lançamento de Em Nome do Ócio, destacou que a escrita de Francisco de Sá Miranda, irmão do governador-geral Mem de Sá e grande representante deste gênero, em muitos pontos é comparável às postagens do Facebook, cujo eixo central é a amizade e o ócio. “O que é diferente da ociosidade. O ócio é a contrapartida do negócio. É um momento em que a preocupação deixa de ser fazer o mundo girar e passa a ser contemplar o mundo”, explica.

A esfera do negócio gira em torno do pragmatismo e do interesse. Conforme a moral da época, inspirada pela herança greco-latina, não havia aí espaço para a amizade verdadeira, plantada entre aqueles que se escolhem mutuamente para que, juntos, possam compartilhar do ócio, o espaço em que o espírito humano se desamarraria das convenções e se permitiria recriar a realidade, buscando inspiração na companhia daquele (s) com que se escolhe estar “amigado”.

As imagens alegóricas eram, nesse caso, utilizadas como veículos a transitar entre um significado “universal” – crido como capaz de atravessar os tempos – e um particular alicerçado nas preocupações que linkavam remetente e destinatário.


Talvez este gênero tenha logo esmaecido por não dar conta de uma angústia que lhe era subjacente e que reinvidica, por meio das redes sociais, o direito de navegar nos contemporâneos mares do “agora ou nunca”. Esta angústia diz (des)respeito a coisas que, à primeira vista, parecem banais, mas requerem uma visita profunda a nossos temores e coragens. É uma angústia que pode ser traduzida em questões como:

Como devo agir se tenho a meu dispor milhões de amigos em potencial, mas, não tenho ferramentas para transformar esta amizade em ato?

Como fazer para administrar dentro de mim as vontades contraditórias de ser eternamente amigo e de colocar novos eternos amigos no lugar do primeiro?

Como ser ou ter um amigo sincero sob a pressão de uma cultura ameaçada pelo monopólio exclusivo colonial do interesse (entendido na vibe de Maquiavel, isto é, como pacto entre meio e finalidade sem direito ao contraditório)?

Como lidar com o desejo de ser um amigo “eterno” quando a eternidade é vista como disfarce da obsessão e o carinho como uma espécie de prelúdio de uma sinfonia de agiotagem?

Como ser digno de ser escolhido como amigo por Alguém?

Uma coisa é (in)certa. O livro, como chama atenção Lourival Holanda, nos faz pensar sobre nosso relacionamento com as virtudes cívicas: igualdade, liberdade e fraternidade. “Podemos abrir mão da igualdade, quando reconhecemos que alguém, por determinados fatores, como a experiência ou a área de atuação, é hierarquicamente superior. Podemos abrir mão da liberdade quando, por vontade, ficamos meio que presos e submissos a quem amamos. Mas, não há como abrir mão da fraternidade, pois sem ela não há possibilidade de convívio nem com nós mesmos, nem com os outros”, conclui.


Mostra-me, amigo, onde está o eterno
Pois, já não me lembro
Mas, ele respira de dentro/fora do mais profundo de mim
Enquanto caminha na corda bamba

Mostra-me, amigo, onde está o não-estar do fugaz
Que me mantém capturado na sombra do seu quase rastro
E na luz do seu eterno despertar

Mostra-me como ter escolha e, ao mesmo tempo,
Ser capaz de ter a tua companhia

Mostra-me como posso me mostrar e continuar
Contemplando o nascer e o se pôr do mistério

E, então, te mostro como, sendo cego,
Posso ser teu guia enquanto me emprestas teus passos.


A Anuska e Gustavo e Saulo e Mahely e Pradines e...




28 de novembro de 2012

Jose Luis Paredis e a escrita vaga das ondas




Puente Libertador (Venezuela) - Kevin Vásquez

Puente Libertador
Um poema de Jose Luis Paredis


Teu mar quando me lê, o dentro de mim começa a se reescrever
Suas vagas conclusões me têm nas mãos e contramãos
E seu olhar, que brota da arrebentação
Do derrame da palavra,
Esse fruto que pede passagem para vir ao mundo antes da flor

Mar que desmente os poros rochosos do pensamento
Que faz dos lemes acanhados calcanhares
Flechados pela esperança do reencontro

No peito desse mar, bate a tua decisão

E quando a decisão é firme
Não há acaso que não se converta em destino

Um raio de luz
Foi plantado
Nas águas

Do meu
Texto,
Descosturado
Em todas
As pétalas
De sua
Rosa
De ventos

Eras tu a ler-me nos poemas de amor que escrevi para teu anjo da guarda, com quem
Converso
Para te fazer companhia
Quando decides visitar as palavras minhas: leitos de um naufrágio que sufraga
O tesouro da escolha do Alguém, do Nobre, que me inebria com sua lucidez
Que cada vez conheço mais
Porque tenho
A Alegria De
descobrir o quanto não te conheço

E confirmar, nas linhas da mão da tempestade
Que
Em ti
Confio

25 de novembro de 2012

Platão entra em curto-circuito no Amanhecer da saga Crepúsculo




Cena de Breakingdawn, part Two

Acusada por muitos de ser uma versão insossa e maneirista de Anne Rice, Stephenie Meyer montou sua própria mitologia vampírica a partir de destroços de outras narrativas. Os vampiros da saga Crepúsculo, em alguns momentos, parecem mutantes dos X-Men: não os mutantes clássicos, a exemplo de Wolverine, mas os da recente e decadente safra, bem representada pela Shark Girl, nova mutante de origem brasileira, mais precisamente da praia de Boa Viagem, em Recife.

Porém, algo que encanta nas histórias de Meyer é a sua coragem de pensar como seria viver a eternidade sob a pressão das demandas do humano demasiado humano.  O maior desafio de Edward, durante a saga, foi fugir da intensidade do amor de Bella, que vinha desafiar a calmaria da eternidade com a qual ele estava acostumado. Ele era capaz de permanecer sem comer ou dormir, pois era imortal. Mas, depois de se apaixonar, teve a alma invadida por todos os apetites dos mortais. Contudo, o rapaz estava perdido, pois depois de experimentar tal fome, seria impraticável ter de volta o deserto da saciedade que sua alma desapaixonada nutria.

Por ~KathiexSxWorld
Já Bella foi capturada pelo paradoxo. Ao tocar Edward, sentia o afago que a distância tem a oferecer. Ao receber seu carinho, flertava com o risco de ser morta, caso o rapaz não conseguisse controlar seus impulsos vampíricos. A pele de Edward não podia oferecer a ela o calor vital, mas ele estava lá, como os silêncios sem os quais o ápice das sinfonias seria impossível. Bella se apaixonou porque, em Edward, encontrou uma fórmula jamais pensada pelos românticos. Viveu o amor platônico em todos os angustiantes detalhes da experiência sensorial (na verdade, ultrassensorial).

E, no mar de equívocos em que navega a saga Crepúsculo, os detalhes oferecem reconfortantes surpresas. É o que acontece com relação ao personagem Jacob, homem-lobo que, até o episódio Amanhecer, duelava com Edward pelo amor de Bella. Jacob também experimenta um amor platônico. Mas, como revela o final da saga, o personagem ama, em Bella, a presença de alguém que ainda viria a existir. É uma impressionante metáfora. Jacob faz jus à ideia do amor eterno, tão eterno que se dá nos dois sentidos da trajetória do tempo. Sua amada é por ele amada antes mesmo de nascer.

Na verdade, em Amanhecer, ocorre um tipo de curto-circuito do amor platônico. Quanto maior parece ser a distância entre os amados, mais palpável parece ser a proximidade entre eles, como se toda a energia dos cinco sentidos migrasse para um tipo de toque extrassensorial  que faz da ausência uma mão a mais na hora do abraço, um olhar a mais na hora da contemplação, um minuto a mais na hora da eternidade.

22 de novembro de 2012

Ação de Graças por um Nobre Alguém

Kevin Vásquez - Aurinegro em Caracas

A graça da gratidão

Por Enriomar Cojenos

Lapidei a raridade
E, vi que o caminho que lá se escondia,
Conduzia ao teu coração
Que, mesmo nos lampejos de brutalidade,
Faz a pedra mais preciosa corar de vergonha
Quando tu voltas a falar comigo,
Percebo porque a gratidão merece não ter preço
No dia de ação de graças,
O mar deságua nas minhas vertigens
E suas ondas já não sabem como agir
O melhor que elas têm conseguido é sentir saudade
E agradecer a Deus por ter aberto mão do dinheiro
Para me dar de presente tua presença
E me honrar com este brilho que ensina a prata a brilhar
Com esta sombra que renova as luas e os anoiteceres
Com este tempo que me dá a alegria de nascer
Para ser grato à distância
Cada vez que ela desiste de me separar de ti


18 de novembro de 2012

Quando Lady Macbeth se torna gueixa e Macbeth Pinóquio

Os atores Cláudio Fontana e Marcelo Antony na peça Macbeht, de Shakespeare



Fazer uma crítica é, em errada medida, apresentar nossas expectativas a nossas frustrações. Outra forma de definir a crítica seria como o trajeto entre uma observação prévia – venenosa e imprevidente – e uma futura observação revista e prudente. Mas, certamente talvez, a crítica, e no caso da crítica teatral essa característica se torna marcante, tem como função romper as amarras de perfeição e da completude, que ameaçam estrangular a obra. A crítica devolve ao espetáculo a capacidade de voltar a ser ensaio.

Passeei por todas as definições de crítica, mencionadas acima, ao assistir à leitura que Gabriel Vilela deu a Macbeth, texto de Shakespeare, cujo personagem-título foi interpretado por Marcelo Antony no palco do Teatro Santa Isabel, em Recife.

Ao chegar ao teatro, crítico inexperiente que sou, acionei uma pequena dose de veneno adoçada por uma quota de irresponsabilidade. Disse então, antes de o espetáculo ter a chance de dar o primeiro suspiro:

- Que cenário interessante, apesar dos garrafões de água mineral localizados ao fundo.

Observação idiota. A mesma coisa de dizer que As Meninas, de Velázquez, é um quadro fantástico, apesar de o pintor ter deixado, no quadro, a porta aberta...

Em seguida, a peça começou e, conversando com os botões que fechavam o traje do silêncio, fiz outra observação menos idiota:

- Marcelo Antony está um pouco estranho. Ele foi uma das melhores interpretações de Pilatos na história do espetáculo da Paixão de Cristo em Nova Jerusalém. Mas, como Macbeh parece meio “canastrão”.

O dia seguinte viria me provar, assim como provou a Lady Macbeth, que minha teoria estava errada. Mas, em vez de me jogar da sacada do primeiro andar, escrevo esta crítica para lavar as idiotas precipitações que escorrem das mãos de um crítico cultural.

Na saída do teatro, fui apresentado por minha amiga Anuska, a um grande estudioso de Shakespeare: João César de Castro Rocha. Ele nos perguntou se havíamos observado como, no decorrer da peça, as expressões corporais de Macbeth iam se tornando mecânicas, como se sua autonomia desse lugar à gestualidade de um boneco. Bem observado: o Macbeth de Marcelo Antony, por força da pressão interna de sua ambição e da pressão externa por se adequar às expectativas alheias, torna-se um títere (não à toa deve ter sido a escolha de Shicó do Mamulengo para fazer os figurinos e adereços da peça).

Cogitei a hipótese de que o falar do ator remetia ao trejeitos artificais do falar dos mamulengos que se apresentam para as crianças no Nordeste. Isso, quem sabe, misturado à afetação e aos maneirismos que davam contorno aos gestos das cortes em fins da Idade Média.

Então percebi quão digno era o esforço de Antony, um grande ator, para emprestar artificialidade à voz e aos gestos, reservando a carga dramática para os detalhes. A artificialidade, nesse caso, dava mostras do desespero de alguém que não pode ser ele mesmo  de tão ético que é. Sim, Macbeth é tão ético que tenta a loucura de satisfazer, ao mesmo tempo, as demandas da sociedade, dos deuses (ou demônios), de seu coração e de sua esposa (uma mistura das demandas listadas anteriormente).


Macbeth é lido pelo diretor Gabriel Vilela como uma espécie de Pinóquio que decide deixar de ser menino para se tornar boneco. E Lady Macbeth é a rainha das fadas virada ao avesso e conspirando para que o personagem deixe o nariz crescer até se tornar afiado o suficiente para assinar com sangue a proposta que viria a ser feita por Maquiavel de, em nome da vitória no jogo político, trancar fora de cena o escrúpulo e o moralismo.

Numa alusão ao já mencionado quadro de Velázques, Macbeth torna-se refém da própria imagem e acaba preso na sua própria pintura, donde, como uma  pervertida mistura de Dom Quixote e Dorian Grey, enfrenta seus inimigos. Antes, havia vencido exércitos, mas, acaba sendo derrotado pelo maior exército do mundo, constituído de um só soldado: a culpa.

A leitura que a montagem deu às bruxas que prenunciam o destino de Macbeth traz à peça um humor que causa desconfortante alívio: muito bom!

Porém, como de costume, a personagem mais cativante é Lady Macbeth. A alma dela torna cativo o Macbeth que mora em cada um de nós. E as correntes deste cativeiro ganham um brilho reluzente com auxílio da interpretação de Cláudio Fontana. Só uma atuação marcante como esta para  fazer esquecer o trauma de ter visto Lady Macbeth ganhar vida na pele de Vera Fisher...

A Lady Macbeth da montagem de Gabriel Villela traz nos passos uma gueixa, nas atitudes a revolta de Lilith e nas mãos o sangue que Caim fez derramar, sangue que não para de clamar dos confins do mundo. É uma dama bretã com feições do teatro Kabuki . Fontana encontrou no homem a pulsão ardente da mulher e na mulher a pulsão ardente do ser humano.

A esta altura, espero já ter deixado para trás as observações venenoso-irresponsáveis, dignas daquele tipo de crítico que analisa uma obra como um quiromante que lê a palma do próprio furico.

Sim, não me esqueci dos garrafões de água mineral. Eles têm função cênica. Quem viver para assistir ao espetáculo verá!

13 de novembro de 2012

Aprendendo a superar uma desilusão amorosa com Camile Claudel (ou Scarlet O'hara)



Camile Claudel - a tribute -  By Marco Donner

Rodin era talentoso e também o era Camile Claudel
Que pena ela ter enxergado a vida como um deserto e ter feito do cafajeste do Rodin a última coca-cola .
Camile era expert em esculpir miragens e não teve coragem ou não teve medo o suficiente
Para, em vez de se tornar esquizofrênica, ter dito a Rodin:
- Pô, velho, você é um idiota. Eu ainda te amo, mas, não faz mal, o amor vai ficar cicatrizado e logo chegará o século XX e eu poderei cantar a música de Ivan Lins que fala sobre corações que de tão cicatrizados nem parecem que foram colados.
Rodin não teve culpa. Nem Camile.
Que pena que Camile levou a sério alguém que a chamou de desequilibrada
Que pena que Camile decidiu desconfiar do mundo inteiro
Tá certo que o mundo não merece lá muita confiança
Mas, quem desconfia de tudo perde a chance de achar a alegria da surpresa
Dou, nesse instante, as mãos a Scarlet O’hara  e digo:
- Nem que eu tenha de matar, trair, roubar, enganar e torcer pelo Náutico... Jamais me apaixonarei por alguém que questiona minha sanidade novamente .
Putz, esqueci-me de que jurar é um pecado mortal
Mas, não faz mal: Ontem é sempre um novo dia que costumamos disfarçar de amanhã
E já rezei tantas vezes o Ofício da Imaculada, que devo ter 300 mil milhas de indulgência
E não corro o risco de ficar desamparado pois, graças a Deus, minha conexão com o Céu
Não  é feita por nenhuma operadora de celular fiscalizada pela Anatel
Rodin, só por hoje, só para que eu possa redimir um pouco a tristeza de Camile Claudel,
Quero te dizer: Vá para o diabo que o carregue, seu covarde,
Camile Claudel foi idiota, mas era uma idiota linda
Pena que não deu continuidade à sua maior escultura:  “Rodin indo para o raio que o parta”
Camile Claudel esculpiu em parceria com Rodin A porta do Inferno
E ele não teve a decência de convidá-la para sair...
Mas, não foi culpa dele, nem dela
Pois, quem pode moldar a escultura de tempestade que Cupido fez
Quando a fábrica do amor suspendeu a produção de flechas?
Camile, você era linda, mas, infelizmente, a psiquiatria da época era precária
E você não teve chance de conhecer a Chapada Diamantina
Quem dera eu pudesse pedir a Pigmaleão para corrigir as falhas da escultura dO Pensador
Para que ele pudesse te ver e te oferecer um jantar à luz de galáxias
E depois vocês fossem para a cama e colocassem um belo par de chifres em Rodin
Meu Deus, como seria delicieux!
Sim, Rodin era um gênio
Mas, a história certamente cometeu uma injustiça,
Pois o verdadeiro autor da escultura Os amantes foi Camile Claudel.

O juramento de Scarlet O'hara

9 de novembro de 2012

"Esse cara sou eu": Deixem em paz a pieguice de Roberto Carlos!



Roberto Carlos

De início, ri muito quando li, no Facebook, uma análise psicológica que foi feita do perfil do “cara” da nova música de Roberto Carlos: “Esse cara sou eu”. Mas, o riso fácil é um tipo de diagnóstico que comumente requer uma segunda opinião.

A análise psicológica, reproduzida ao fim da postagem, afirma que por trás do perfil romântico que Roberto Carlos desenha na canção mora uma espécie de maníaco obsessivo de quem se deve fugir.

Pelos mil nomes de Nossa Senhora! Tudo bem não gostar da música, achar que ela é piegas. Mas, reflitamos sobre a corrente mania das pessoas de querer encontrar em qualquer ato, palavra ou omissão um indício de que o Esquadrão da Moda deve se colocar a postos com camisas-de-força.

Machado de Assis escreveu o conto O Alienista em 1882, mas nunca ele esteve tão atual. O conto fala sobre como o impulso de procurar a loucura nos mínimos gestos dos outros pode levar o próprio dono deste impulso à loucura.

Mas, vamos à poesia de Roberto Carlos. Como poesia, ela é o que os teóricos da literatura e das artes chamam de ato de fingir. Fingir que envolve a dissimulação, mas também a doçura, a alegria. È um fingir em que o artista se esforça para reescrever a realidade e não para reproduzi-la. E mesmo que ele queira iludir-se de que é capaz de reproduzir a realidade com base na evidência, não será capaz de reproduzir a unicidade dos momentos, que pertence também ao terreno do invisível.

É o fingimento poético que permite experimentarmos a dor, a mentira, o ódio sem que estes sentimentos precisem se tornar fatos.

É o que acontece na poesia de Roberto Carlos. Ele pode não estar amando ninguém, mas, no texto poético, ele ama um alguém que é feito por todos os outros alguéns que ele amou ou por nenhum deles em particular.

Tudo bem querermos ser reservados, introspectivos e fazer do “I wanna be alone” um estilo de vida. Mas, é um pouco irritante a ideia de pensar que não podemos olhar para alguém ou elogiar ou tocar o ombro da pessoa sem que sejamos confundidos com um Drácula de Bram Stoker que quer tomar posse da alma e do sangue alheios.

Aviso aos navegantes da racionalidade tacanha e aos ignorantes que tomam overdoses de senso comum a bordo da nave do sentido literal : Esse cara sou eu é composta de hipérboles. Não me vão fazer, como já ouvi num programa de rádio, de comentar sobre a suposta insensatez de Roberto Carlos ao escrever “Eu quero ter um milhão de amigos”. Pelo lado áureo da Força: Ter um milhão de amigos é uma metáfora!

Ninguém “conta os segundos” quando alguém demora
Alguém que chama o outro no meio da noite pra dizer que o ama, fará isso só numa ocasião especial em que quer ser poético. Não se trata de um transtorno obsessivo compulsivo (TOC).

E, saibam os arautos da racionalidade, que toda pessoa tem algum grau de TOC. Paremos com o mau-costume de sair por aí acusando os outros de psicose. É feio, galera!  Além de tudo, o povo não sabe o que é psicose e fica por aí dizendo que alguém é psicótico porque contratou o carrinho de som da telemensagem. Essa pessoa é no máximo inconveniente, porque um psicopata, como é sabido por quem bem o sabe, não esboça emoções.

Deixemos Roberto Carlos e o cara que ele é em paz  #pelamordedeus. E, façamos um curso de reciclagem poética, para deixarmos de ocultar sob o véu da racionalidade a paranóia contemporânea de nos colocarmos na vibe de chapeuzinhos vermelhos e acharmos que o carinho e a poesia – por mais escassos que estejam no mercado – são armadilhas de lobos-maus e obsessores.


5 de novembro de 2012

Primeiro texto dos silêncios

Fonte da imagem: Flickr


Primeiro esboço de alguns silêncios
Por Alzira Reis


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