Cena de Breakingdawn, part Two |
Acusada por muitos de ser uma versão insossa e maneirista de
Anne Rice, Stephenie Meyer montou sua própria mitologia vampírica a partir de
destroços de outras narrativas. Os vampiros da saga Crepúsculo, em alguns
momentos, parecem mutantes dos X-Men: não os mutantes clássicos, a exemplo de
Wolverine, mas os da recente e decadente safra, bem representada pela Shark Girl, nova mutante de origem
brasileira, mais precisamente da praia de Boa Viagem, em Recife.
Porém, algo que encanta nas histórias de Meyer é a sua
coragem de pensar como seria viver a eternidade sob a pressão das demandas do
humano demasiado humano. O maior desafio
de Edward, durante a saga, foi fugir da intensidade do amor de Bella, que vinha
desafiar a calmaria da eternidade com a qual ele estava acostumado. Ele era
capaz de permanecer sem comer ou dormir, pois era imortal. Mas, depois de se
apaixonar, teve a alma invadida por todos os apetites dos mortais. Contudo, o
rapaz estava perdido, pois depois de experimentar tal fome, seria impraticável
ter de volta o deserto da saciedade que sua alma desapaixonada nutria.
Por ~KathiexSxWorld |
Já Bella foi capturada pelo paradoxo. Ao tocar Edward,
sentia o afago que a distância tem a oferecer. Ao receber seu carinho, flertava
com o risco de ser morta, caso o rapaz não conseguisse controlar seus impulsos
vampíricos. A pele de Edward não podia oferecer a ela o calor vital, mas ele
estava lá, como os silêncios sem os quais o ápice das sinfonias seria
impossível. Bella se apaixonou porque, em Edward, encontrou uma fórmula jamais
pensada pelos românticos. Viveu o amor platônico em todos os angustiantes
detalhes da experiência sensorial (na verdade, ultrassensorial).
E, no mar de equívocos em que navega a saga Crepúsculo, os
detalhes oferecem reconfortantes surpresas. É o que acontece com relação ao
personagem Jacob, homem-lobo que, até o episódio Amanhecer, duelava com Edward
pelo amor de Bella. Jacob também experimenta um amor platônico. Mas, como revela
o final da saga, o personagem ama, em Bella, a presença de alguém que ainda
viria a existir. É uma impressionante metáfora. Jacob faz jus à ideia do amor
eterno, tão eterno que se dá nos dois sentidos da trajetória do tempo. Sua
amada é por ele amada antes mesmo de nascer.
Na verdade, em Amanhecer, ocorre um tipo de curto-circuito
do amor platônico. Quanto maior parece ser a distância entre os amados, mais
palpável parece ser a proximidade entre eles, como se toda a energia dos cinco
sentidos migrasse para um tipo de toque extrassensorial que faz da ausência uma mão a mais na hora do
abraço, um olhar a mais na hora da contemplação, um minuto a mais na hora da
eternidade.
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