25 de novembro de 2012

Platão entra em curto-circuito no Amanhecer da saga Crepúsculo




Cena de Breakingdawn, part Two

Acusada por muitos de ser uma versão insossa e maneirista de Anne Rice, Stephenie Meyer montou sua própria mitologia vampírica a partir de destroços de outras narrativas. Os vampiros da saga Crepúsculo, em alguns momentos, parecem mutantes dos X-Men: não os mutantes clássicos, a exemplo de Wolverine, mas os da recente e decadente safra, bem representada pela Shark Girl, nova mutante de origem brasileira, mais precisamente da praia de Boa Viagem, em Recife.

Porém, algo que encanta nas histórias de Meyer é a sua coragem de pensar como seria viver a eternidade sob a pressão das demandas do humano demasiado humano.  O maior desafio de Edward, durante a saga, foi fugir da intensidade do amor de Bella, que vinha desafiar a calmaria da eternidade com a qual ele estava acostumado. Ele era capaz de permanecer sem comer ou dormir, pois era imortal. Mas, depois de se apaixonar, teve a alma invadida por todos os apetites dos mortais. Contudo, o rapaz estava perdido, pois depois de experimentar tal fome, seria impraticável ter de volta o deserto da saciedade que sua alma desapaixonada nutria.

Por ~KathiexSxWorld
Já Bella foi capturada pelo paradoxo. Ao tocar Edward, sentia o afago que a distância tem a oferecer. Ao receber seu carinho, flertava com o risco de ser morta, caso o rapaz não conseguisse controlar seus impulsos vampíricos. A pele de Edward não podia oferecer a ela o calor vital, mas ele estava lá, como os silêncios sem os quais o ápice das sinfonias seria impossível. Bella se apaixonou porque, em Edward, encontrou uma fórmula jamais pensada pelos românticos. Viveu o amor platônico em todos os angustiantes detalhes da experiência sensorial (na verdade, ultrassensorial).

E, no mar de equívocos em que navega a saga Crepúsculo, os detalhes oferecem reconfortantes surpresas. É o que acontece com relação ao personagem Jacob, homem-lobo que, até o episódio Amanhecer, duelava com Edward pelo amor de Bella. Jacob também experimenta um amor platônico. Mas, como revela o final da saga, o personagem ama, em Bella, a presença de alguém que ainda viria a existir. É uma impressionante metáfora. Jacob faz jus à ideia do amor eterno, tão eterno que se dá nos dois sentidos da trajetória do tempo. Sua amada é por ele amada antes mesmo de nascer.

Na verdade, em Amanhecer, ocorre um tipo de curto-circuito do amor platônico. Quanto maior parece ser a distância entre os amados, mais palpável parece ser a proximidade entre eles, como se toda a energia dos cinco sentidos migrasse para um tipo de toque extrassensorial  que faz da ausência uma mão a mais na hora do abraço, um olhar a mais na hora da contemplação, um minuto a mais na hora da eternidade.

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