21 de março de 2012

“Só existem dois tipos de homens, amigo, os Teodoros e os Vadinhos”, garante Xico Sá

dona flor e seus dois maridos (homenagem a jorge amado) " dona flor and her two husbands ( tribute to jorge amado,brazilian's writer)"
Dona flor e seus dois maridos (homenagem a jorge amado) 
Pintura de Martinsland


A frase que serve de título a essa postagem abre o primeiro texto da série Grandes Canalhas da Literatura, de autoria de Xico Sá.  Trata-se de um aforismo, uma máxima ou sentença que acredita exprimir um princípio universalmente válido.

Vadinho e Teodoro, como é bem sabido por quem bem o sabe, são os dois maridos de Dona Flor, personagem principal da obra Dona Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado.

"Interessante" que a referida frase é taxativa e restritiva, mas tenta se cercar de "generosidade", oferecendo ao leitor duas opções de essência: Vadinho e Teodoro. Mais adiante, o texto de Xico Sá desiste da tentativa de generosidade, ao designar como O sonho da Mulher o de ter um homem que seja ao mesmo tempo Vadinho e Teodoro, que seja, nas palavras de Xico Sá, “uma muqueca de machos fervida na testosterona”.

Interessante perceber que, neste texto de Xico Sá, “ser homem” e “sonho da mulher” compartilham do mesmo significado: falta de opção.

Pergunto-me se Vadinho e Teodoro não têm direito de ser algo distinto deles mesmos. E peço emprestada do Nobre uma pergunta perspicaz: “O que fazer se sou homem e, ao me olhar no espelho, não enxergo nem Vadinho nem Teodoro?” ou “Deixo de existir como homem se sou algo além ou aquém dos extremos Vadinho e Teodoro?”.

O que fazer quando me olho no espelho e me recuso a resumir minha hombridade a ser “um raparigueiro, um piolho de cabaré” (forma como Xico Sá descreve Vadinho)  ou  “uma máquina de cumprir deveres” (forma como Xico Sá descreve Teodoro).

O sonho de uma mulher pode ser resumido a ansiar por um "homem" que seja a mistura contraditória de estereótipos extremados de homem?

O ser homem pode se resumir a uma essência? E uma essência pode se resumir a duas opções? E duas opções podem se resumir a dois estereótipos referentes ao homem? E dois estereótipos referentes ao homem podem se resumir à imagem de uma genitália masculina sexomaníaca ou à imagem de uma carteira de dinheiro aberta e gentil?

Para onde vão, então, os homens, quando se cansam de ser, por pressão da cultura, Vadinhos ou Teodoros? 

Além disso, a pressão não deve ser entendida somente como obrigação, mas também como obrigação que se esquece de sua origem e se torna alvo de alienada celebração social: o que acontece com os estereótipos Vadinho e Teodoro.

Os aforismos de alguma forma me incomodam. E isso é bom nos tempos em que a paralisia da argumentação se disfarça de dialética e faz parecer que tudo é passível de se concordar com. Entre um aforismo selvagem e uma sucessão interminável de “Sob esse ponto de vista, até pode ser”, prefiro que haja os dois para que, do conflito entre eles, a dialética encontre força para driblar seus vícios.

Leia o texto de Xico Sá aqui.

4 comentários:

  1. Sá é uma personagem divertida, mas não acho que vá muito além. Acho que, por exemplo, serve para suscitar bons textos, pois a graça do Sá é isso, essa polêmica, essa personalidade criada de conquistador que ganha a mulher no entendimento de sua natureza com uma boa dose igual de malandragem. Mas é isso. Uma máscara polemicamente divertida.

    Quanto ao seu texto, acho que coloca bem a questão de que não existe Apolo e Dionísio em um plano real. Todos somos um pouco de ambos, e mesmo quando um homem se concentra em um, chega sim a um determinado ponto que cansa e se transforma. Essa é nossa grande vantagem em relação as personagens, a possibilidade da fuga de um predeterminação, seja escrita por Sá ou outro.

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  2. Muito obrigado pelo belo comentário. Abraço grande, Haroudo!

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  3. Exemplo de capacidade e força para vencer. Tudo isso, creio que seja um conjunto de união com a força maior que te ilumina a te faz crescer assustadoramente.
    Creio no grande Deus que te faz feliz
    Parabéns pela brilhante pesquisa.
    Um forte abraço

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    Respostas
    1. Que lindas palavras. Elas passam a fazer parte do rol de motivações que me impulsionam a escrever. Muito obrigado e um abração pra ti ;)

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