8 de setembro de 2011

Debate entre Nossa Senhora e Nicolau Maquiavel

Nossa Senhora Rainha da Paz

Uma onda de revoluções avançou com ímpeto sobre a Europa a partir de 1830, sendo a França o porta-estandarte simbólico deste movimento. Neste mesmo ano, tem início o ciclo europeu de aparições da Virgem Maria, começando por Paris, onde Ela aparece a Catarina Labouré em 1830.

Este ciclo prosseguiu em La Salette (1846), em Lourdes (1858) e parece ter tido seu ápice em Fátima  – Portugal (1917) - um ano antes do término da Primeira Guerra Mundial.

Pode-se observar que Maria, com suas mensagens, traz para a mesa de debates filosóficos da história um discurso de oposição ao pensamento de Maquiavel. Ela defende que é melhor ao ser humano ser amado do que ser temido. Já, nas palavras de Maquiavel seria ideal poder ter o amor e o temor do próximo, mas na prática, seria melhor não arriscar, preferindo a "eficiência" do temor. Confira, ao final da postagem, o que Maquiavel diz a esse respeito.

A proposta metodológica de Nossa Senhora também é diversa. Se Maquiavel vê a guerra como mal necessário, Maria vê a paz como necessidade que as pesssoas insistem em esquecer. Neste sentido, a guerra é um véu de amnésia que paira sobre as pessoas, fazendo-as esquecer-se do que é realmente necessário.

Nas mensagens marianas, a paz não é vista como o retorno a um paraíso idílico. É construção constante, que implica abrir mão de tudo que faz esquecer como se é viver em paz. Este “abrir mão de” é expresso nas mensagens por meio da palavra “penitência”.

Em sendo assim, não fica difícil perceber a oração do rosário como um manifesto pró-desarmamento. As contas do rosário representam, em certa medida, balas que deixam de ser disparadas em batalha para serem lançadas ao Céu em forma de prece.

Nisto, o rosário cristão aproxima-se dos rosários presentes nas religiões orientais, cuja recitação desempenha o papel de auxiliar na canalização equilibrada dos impulsos de vida e de morte.

Nicolau Maquiavel, pintura de Santi di Tito
O gesto de desfiar as contas do rosário é expressão simbólica da sabedoria que permite enxergar a presença do tempo linear: cada coisa tem seu tempo.

Por outro lado, permite enxergar a presença do tempo cíclico: o rosário é rezado em ciclos de um Pai-Nosso e dez Ave-Marias.

As orações do rosário são reunidas em grupos de cinquenta ave-marias. Cada grupo, chamado de “mistério”, evoca uma das faces da existência: o gozo, a dor, a glória, relacionando-as a acontecimentos da vida de Cristo e de Maria.

Recentemente, o Papa João Paulo II acrescentou um novo grupo ao rosário: os mistérios da luz, referentes a alguns dos fatos da vida de Cristo que fogem mais fortemente interpretações empobrecidas do termo racionalidade.

Ao pedir, em suas aparições, pela paz, Maria não é avatar do “jogo do contente”. Ela quer estar ao lado dos seres humanos na construção de uma paz que não nega que o caminho da existência é feito de gozo, glória e luz, mas igualmente de dor. Em sendo, assim, gozo, glória e luz afastam-se de significados associados à sede de poder absoluto ou de auto-suficiência.

O rosário expressa, simbolicamente, que estas dimensões do caminho da existência, quando se tornam alvo isolado dos anseios humanos, convertem-se em terror e guerra. Até mesmo a dor, não deve ser vista como puro oposto da felicidade, tendo seu papel de freiar os impulsos totalitários do gozo, da glória e mesmo da luz.

Pode-se ainda conceber o rosário como uma estrutura em rede, na qual os "mistérios" comportam-se como referências cruzadas. Em sendo assim, revela-se, por meio do rosário, um esfera de tempo quântica. Ou, como prefere chamar o sociólogo Manuel Castells, um tempo intemporal, em que memórias se entrecruzam, desafiando as tentativas de fazer o tempo resumir-se ao tempo do relógio ou ao ciclo das estações do ano.

O rosário não nega os tempos linear e cíclico, mas acrescenta a eles o horizonte de um tempo que não pode ser escravizado por qualquer tipo de medição: é o Kairos, o tempo da graça.

Não deixe de conferir o texto O Japão também tem uma Nossa Senhora, na seção Jogo do Contente deste blog.


“Queridos filhos, hoje vos convido a todos a rezar pela Paz e a testemunhá-la em vossas famílias, para que a Paz se torne o maior tesouro neste mundo sem paz. Eu sou a vossa Rainha da Paz e a vossa Mãe. Desejo guiar-vos no caminho da Paz que vem só de Deus. Por isso, orai, orai, orai. Obrigada por terdes respondido ao meu chamado”.


“Os homens devem ser adulados ou destruídos, pois podem vingar-se das ofensas leves, não das graves; de modo que a ofensa que se faz ao homem deve ser de tal ordem que não se tema a vingança".

"São tão simples os homens e obedecem tanto às necessidades presentes, que quem engana encontrará sempre alguém que se deixa enganar".

"Creio que seriam desejáveis ambas as coisas, mas, como é difícil reuní-las, é mais seguro ser temido do que amado".

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