Foto: Cláudio Eufrausino |
O Anjo burocrata
Por Linardo Kleto
É seu o meu segredo mais secreto
Você está no sonho onde posso olhar e tocar quem amo
Sem me arriscar a ser preso pelo crime imprescritível de escrever
poesia
E pelo inafiançável de causar medo
Nojo ou
Estás na realidade onde posso continuar a ter tua presença
Depois de acreditar que minha presença teria o privilégio de
dormir
Abraçada com o teu “Prefiro estar sozinho”
A vontade de te rever faz de mim um péssimo entendedor
Que procura fingir que tuas meias promessas e meios
silêncios
Não são uma forma codificada de gritar que não me queres por
perto
Fico triste por ser sempre remetente e nunca destinatário
Mas, abro minha garrafa de whisky 35 anos
E tomo uma dose de deserto
Pra afogar um Nilo de mágoas
Depois, emendo com uma diabética taça de dúvida
O pior da dúvida, no meu caso,
É que ela ao se olhar no espelho me culpa
Por se ver refletida na minha cara de bobo, iludido
De niilista degustador de miragens
A dúvida renova meu passaporte
Para a terra onde os gestos de carinho são pena
E os anjos burocratas respiram fundo
Quando têm de registrar na folha de ponto
A obrigação de fazerem sua caridade anual
Tolerando a presença dos que precisam de presença
A palavra escrita, depois de um tempo,
Torna-se o cimento que chuvidifica o esquecimento da voz dos
que amamos
O esquecimento e a distância
E o calor humano preso nesse concreto armado
Sente que os outros têm vergonha de demonstrações de amor
- Será que deves renovar o teu porte de Amas?
Indagou-me o serafim burocrata
- Fugir da prisão parece ser a sina das demonstrações de
amor. Mas, fique tranquilo. O meu Amas não tem pretensão alguma de violentar o
Não te amo de ninguém.
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