Atriz Lily Collins interpretando Branca de Neve em Espelho, Espelho Meu |
Branca de Neve é uma das maiores surpresas do filme Espelho, Espelho meu (Mirror, Mirror), dirigido por
Tarsem Singh e estrelado por Julia Roberts e Lily Collins.
Ela começa o filme passando a impressão de ser um mero
contraponto para a interpretação instigante de Julia Roberts, no papel da
Rainha Má. Porém, com o desenrolar da trama, percebe-se o talento da atriz Lily
Collins. O que ela faz no início do filme é se equilibrar no centro de uma encruzilhada
de linhas tênues entre a Branca de Neve clássica (doçura apática), uma doçura-pastelão
emprestada do personagem Carlitos (de Chaplin) e um ataque irônico ao modelo
clássico de heroína gestado por Walt Disney.
É possível perceber estas diferentes motivações no rosto de
Lily Collins, que transmite doçura no contorno geral das expressões faciais,
mas reserva para o olhar um tom autocrítico de deboche e gracejo. No decorrer
da história, a personagem busca subverter o modelo clássico e, em certa medida,
consegue. Porém, não se deva esperar que Branca de Neve vire, de uma hora para
outra, a protagonista de Orgulho e Preconceito.
Espelho, Espelho Meu é uma história dirigida aos dois novos
formatos de público infantil. Um é o público que já nasce pré-adolescente.
Outro, o público que, depois de cruzar o cabo de Balzac, resolve rebobinar o
púbis até sua fase imberbe.
Porém, neste segundo caso, não se trata de um capricho
infantilóide de adultos frustrados. É antes um acerto de contas com os excessos
das histórias infantis de Walt Disney, que silenciaram o direito de expressão
da irresponsabilidade juvenil em prol de uma aura de encantamento cujo código
secreto era um manual de conduta e auto-castração moralizante.
De alguma forma, as novas histórias infantis retomam, na vibe do humour noir, certa dose do sadismo presente nas versões medievais
dos fairy tales. Um exemplo é o final
da madrasta de Branca de Neve, na versão dada pelos irmãos Grimm. Como castigo,
a velha bruxa foi obrigada a calçar um par de botas de ferro em brasa e a dançar
até a morte. O final de Espelho, Espelho
Meu também guarda algo desse ideário de justiça sádica.
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