20 de abril de 2012

Algumas maneiras de inexistir


Vetor - contagem regressiva, cronômetro. By CanStockPhoto 


Poema de Carville Jame
Espanha -  1980


A alegria foi dar uma volta e volta já
Haja mundo para dar a volta nessa tristeza
E volta para dar mundo ao se permitir
Quero te dar de presente o que tanto desejas
Não uma flor, mas a minha inexistência
Não a inexistência banal da morte,
Que só aos tolos engana ao fingir que instalou o vazio,
Que só aos tolos engana ao fingir que é igual a nada,
Que só aos tolos engana

Ao menos dessa vez, vou deixar meu orgulho de costas
E me dar a ordem de pedir que me digas como devo inexistir

Do sem fundo do meu coração,
Não há e nem desejaria que houvesse como deixares de existir para mim
Mesmo que todos os pedidos desistissem de si mesmos
E todas as promessas voltassem atrás e se traíssem
E todos os selos jogassem no porão do ancien regimé a validade de seu lacre

Posso tentar inexistir como uma carta que se perdeu do destinatário
E só encontra seu remetente numa esquina incerta do ciberespaço, num link eterno link
Ou inexistirei como um aperto de mão de duas pessoas que nunca se foram apresentadas
Ou como o finalmente ‘ufa, enfim!’ da contagem regressiva
Para o nunca mais e para o nunca menos

Porém, como se sabe, toda contagem dissimula o infinito que há
Entre antecedente e consequente
Então, terás de me perdoar se do meu esforço para inexistir
Escapar pelas brechas da cronometragem
Algum infinito enxerido que desminta este presente que te quero dar


You learn - Alanis Morissette

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