Ilustração da lenda da vitória-régia - Fonte: blog A Mágica da Abelhuda |
Hoje, viajando de Caruaru a Recife, a Lua se encheu de vez,
a ponto e vírgula de perder o controle da direção e quase se chocar no meu
carro. Tentei consertar as coisas,
subornando-a com alguma poesia, mas quando procurei num dos bolsos só achei milhões
em mediocridade real. No outro bolso, inda bem que achei alguns tostões de
breguice mal citada, o suficiente para falar sobre a Lua brega.
Fico devendo para outra lua cheia escrever sobre a lua
erudita, pois praticamente toda minha erudição vem de empréstimos e doações e
será preciso angariar fundos para falar eruditamente sobre a Lua. Aliás, uma
forma de, quem sabe, definir a erudição é como um empréstimo cujos juros são a
dívida eterna. A erudição é, citando a escritora Patrícia Tenório, uma lua que
amanhece em nós o que em nós não há.
A Lua Brega é como um ímã que sai arrastando, no fio de
algum clichê, fórmulas de amor, saudade, dor e talvez et ceteras. No brega, cabe sempre a ilusão de que podemos
tornar a palavra grande o suficiente para exprimir o inexprimível. Mas, como
sabem aqueles a quem interessa saber, quando o fio do clichê é descascado,
alguma surpresa galvanizada termina desmoralizando a mais brutal mesmice.
Há ainda as luas indecisas – que não se sabe bem ao certo se
são Bregas ou eruditas – como a Lua de Fábio Jr, que faz o erro de Português
soar poético: “Lua cheia, meia, displicente” ( ou, num Português mais bem
dizido, meia displicente).
E também existe(e não existe) a lua Mítica, que não está nem aí para a erudição ou para a breguice, a exemplo da lua da lenda indígena da Vitória- Régia, falando sobre a jovem Naiá, que se apaixonou pelo guerreiro Jaci (Lua) e quis abraçá-lo, mergulhando em seu reflexo na profundeza invencível de um rio.
Com saudade e, para mantê-la junto a si, o deus-guerreiro a transformou numa vitória-régia, planta que acolhe mórbida e poeticamente a Lua em seus "braços".
De qualquer maneira, seja brega ou erudita, a Lua é uma das
maiores misericórdias, pois ignora o incidente em Babel e traduz o amor, a
saudade, a dor, bem como os et ceteras, em todas as línguas, incluindo as
extintas e as que ainda hão de nascer. Há, portanto, quatro tipos de tradução:
cheia, crescente, minguante e nova. E cada uma delas colabora para que o idioma do amor seja, em diferentes fases, indecifrável.
A noite é mais acanhada quando falta uma dessas Luas.
Segue o link da Lua de Patrícia Tenório
Para um Nobre Alguém, segue uma versão de
Lua brega, uma de Lua indecisa e uma de lua erudita:
Tenho fases, como a lua
Fases de andar
escondida,
fases de vir para a
rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser
sozinha.
Fases que vão e que
vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo
arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com
ninguém
(tenho fases, como a
lua...)
No dia de alguém ser
meu
não é dia de eu ser
sua...
E, quando chega esse
dia,
o outro desapareceu...
Luz da Lua – Ana Bélen
Caí o luar sobre mim
Meu corpo vira um rio
E um arrepio de frio
Faz a noite suspirar
Deixo meu sonho vagar
Num dia imaginado
E nele alguém muito amado diz que veio me buscar
Meu corpo vira um rio
E um arrepio de frio
Faz a noite suspirar
Deixo meu sonho vagar
Num dia imaginado
E nele alguém muito amado diz que veio me buscar
Com ele em minha vida outra
história
Onde o tempo me envolve sem passar
Ele vê meus olhos e me fala
Com voz doce assim
Feito agua a correr
As palavras se alinham aos meus pés
Onde o tempo me envolve sem passar
Ele vê meus olhos e me fala
Com voz doce assim
Feito agua a correr
As palavras se alinham aos meus pés
Caí o luar sobre mim
Em ondas que se movem
Sobre o meu corpo e de noite
Elas falam de você
Em ondas que se movem
Sobre o meu corpo e de noite
Elas falam de você
Invento em cada dia uma
história
Foram tantas que nem posso recordar
Sei que em todas elas teve a lua
Iludindo nos dois, me fazendo chorar
Quando sinto meu sonho acabar
Meu sonho acabar...
Foram tantas que nem posso recordar
Sei que em todas elas teve a lua
Iludindo nos dois, me fazendo chorar
Quando sinto meu sonho acabar
Meu sonho acabar...
Lua que vem - Joana
Lua que ilumina o meu amor conta pra ele
Que em mim a saudade não deixou eu longe dele
E toda vez que eu lembro ainda faz bater meu coração
Lua diz pra ele se lembrar do meu carinho
Que nada mudou nem mudará nossos caminhos
Que ainda eu acredito nesse amor escrito em minhas
mãos
Refrão - Vem, lua que
vem
Lua crescente traz urgente quem amei
Traz pra ficar
Pode levar lua minguante de saudade
E me ilumina também
Lua que vem
Vem lua nova traz de volta o que é meu
Anoiteceu
Mas nosso amor traz lua cheia de saudade
Eu sei que ele não me esqueceu
Lua que ilumina o meu amor conta pra ele
Que em mim a saudade não deixou eu longe dele
E toda vez que eu lembro ainda faz bater meu coração
Lua diz pra ele se lembrar do meu carinho
Que nada mudou nem mudará nossos caminhos
Que ainda eu acredito nesse amor escrito em minhas
Mãos.
Lua Branca
Chiquinha Gonzaga
Ó, lua branca de fulgores e de encanto
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
Vem tirar dos olhos meus o pranto
Ai, vem matar essa paixão que anda . comigo
Ai, por quem és, desce do céu, ó, lua branca
Essa amargura do meu peito, ó, vem, arranca
Dá-me o luar de tua compaixão
Ó, vem, por Deus, iluminar meu coração
E quantas vezes lá no céu me aparecias
A brilhar em noite calma e constelada
E em tua luz então me surpreendias
Ajoelhado junto aos pés da minha amada
E ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo
Vinha em seus lábios me ofertar um doce beijo
Ela partiu, me abandonou assim
Ó, lua branca, por quem és, tem dó de mim
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