«Fernando Pessoa» Pintura de Juan Soler |
Tenho me dado conta de que uma das formas de teorizar sobre
a Literatura é tentar dar respostas proveitosas a questionamentos dez, conexos,
tipo as perguntas a seguir:
1. “O que Sophia Andresen tem a dizer de novo sobre o mar
que já não tenha sido dito por um Pessoa? ”
Resposta - Realmente, não há mais poesia no mar, depois de
Pessoa. Ele foi tão fundo, poeticamente falando, que fez o mar escorrer ralo
abaixo.
Também não há mais sentimento, depois de Pessoa, pois, com
ele, todas as lágrimas tornaram-se portuguesas naturalizadas com o único
objetivo de salgar o mar. Ou seja, seria até possível dizer que Sophia Andresen
foi uma poetisa razoável se ela houvesse escrito sobre as águas doces.
2. “O que ainda pretendes a estudar Fernando Pessoa quando todo
o possível a respeito dele já foi estudado e dito? “
Resposta - É verdade.
A obra de Pessoa já não tem mais nada a dizer. O Bureau International de Poids et Mesures pretende, inclusive, realocar
a obra de Pessoa da seção Literatura para as seções Oceanografia e Pré-história.
Aliás, o mundo não tem mais nada a dizer, pois Sócrates
disse tudo, os pré-socráticos disseram tudo antes de Sócrates, Platão e
Aristóteles disseram tudo depois de Sócrates (e olha que só 90% do tudo que
Aristóteles disse ainda estão perdidos) e, para arrematar, Kant e Hegel disseram
tudo: em Alemão! Isto é, tudaram o tudo de uma vez por todas.
3. “Como se pode compreender a poesia de amor de Pessoa, se
não se tem a alma portuguesa e não se conhece o verde das águas de Portugal?”
Resposta – Simplesmente seria uma tarefa impossível. Daí, a
tentativa inútil dos daltônicos de ler a poesia de Pessoa. Eles e os
brasileiros ainda insistem em dar sentido ao mar da poesia, imaginando como tal
mar seria, sem ter, sequer, feito uma transfusão de mar.
4. “Qual a diferença entre auto-ficção, auto-biografia e
biografia?”
Resposta - As três vivem fingindo que não se conhecem, mas
sempre há alguém disposto a ganhar dinheiro para escrevê-las, alguém disposto a
pagar para figurar nelas ou alguém que as esconde ou pede para que sejam
destruídas, para que elas possam ser achadas anos mais tarde – já com valor
agregado - e ganhem a Palma de Ouro em Cannes.
Pessoa fingia até que
era dor a dor que deveras sentia. Como tinha múltiplas personalidades, era
biógrafo de sua própria auto-ficção. Como já foi dito, ninguém escreve
biografias de graça. Com Pessoa, não foi diferente: ele foi mecenas de si
mesmo. Isto quer dizer que, ironicamente, ele foi o único biógrafo da história a
trabalhar feito relógio.
5. “Para que estudar Literatura se se poderia estar a
estudar algo útil, tipo Química Industrial?”
Resposta – Para criar algum composto sintético capaz de
preencher o vazio do mar que Pessoa secou?
Nenhum comentário:
Postar um comentário