5 de julho de 2012

Depois de Pessoa : cinco perguntas idiotas que ajudaram a inventar a Teoria da Literatura


«Fernando Pessoa»
Pintura de Juan Soler




Tenho me dado conta de que uma das formas de teorizar sobre a Literatura é tentar dar respostas proveitosas a questionamentos dez, conexos, tipo as perguntas a seguir:

1. “O que Sophia Andresen tem a dizer de novo sobre o mar que já não tenha sido dito por um Pessoa? ”
Resposta - Realmente, não há mais poesia no mar, depois de Pessoa. Ele foi tão fundo, poeticamente falando, que fez o mar escorrer ralo abaixo.

Também não há mais sentimento, depois de Pessoa, pois, com ele, todas as lágrimas tornaram-se portuguesas naturalizadas com o único objetivo de salgar o mar. Ou seja, seria até possível dizer que Sophia Andresen foi uma poetisa razoável se ela houvesse escrito sobre as águas doces.

2. “O que ainda pretendes a estudar Fernando Pessoa quando todo o possível a respeito dele já foi estudado e dito? “

Resposta -  É verdade. A obra de Pessoa já não tem mais nada a dizer. O Bureau International de Poids et Mesures pretende, inclusive, realocar a obra de Pessoa da seção Literatura para as seções Oceanografia e Pré-história.

Aliás, o mundo não tem mais nada a dizer, pois Sócrates disse tudo, os pré-socráticos disseram tudo antes de Sócrates, Platão e Aristóteles disseram tudo depois de Sócrates (e olha que só 90% do tudo que Aristóteles disse ainda estão perdidos) e, para arrematar, Kant e Hegel disseram tudo: em Alemão! Isto é, tudaram o tudo de uma vez por todas.

3. “Como se pode compreender a poesia de amor de Pessoa, se não se tem a alma portuguesa e não se conhece o verde das águas de Portugal?”

Resposta – Simplesmente seria uma tarefa impossível. Daí, a tentativa inútil dos daltônicos de ler a poesia de Pessoa. Eles e os brasileiros ainda insistem em dar sentido ao mar da poesia, imaginando como tal mar seria, sem ter, sequer, feito uma transfusão de mar.

4. “Qual a diferença entre auto-ficção, auto-biografia e biografia?”

Resposta - As três vivem fingindo que não se conhecem, mas sempre há alguém disposto a ganhar dinheiro para escrevê-las, alguém disposto a pagar para figurar nelas ou alguém que as esconde ou pede para que sejam destruídas, para que elas possam ser achadas anos mais tarde – já com valor agregado - e ganhem a Palma de Ouro em Cannes.

Pessoa fingia até que era dor a dor que deveras sentia. Como tinha múltiplas personalidades, era biógrafo de sua própria auto-ficção. Como já foi dito, ninguém escreve biografias de graça. Com Pessoa, não foi diferente: ele foi mecenas de si mesmo. Isto quer dizer que, ironicamente, ele foi o único biógrafo da história a trabalhar feito relógio.

5. “Para que estudar Literatura se se poderia estar a estudar algo útil, tipo Química Industrial?”

Resposta – Para criar algum composto sintético capaz de preencher o vazio do mar que Pessoa secou?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...