Lucille Ball - protagonista do seriado I love Lucy Fonte da imagem: FanPop |
À amiga Elizabeth Moura, que é ruiva e me apresentou
o
desenho de Charlie Brown em que aparece a misteriosa “garotinha ruiva”.
A Lucille Ball
*Vide bula ao fim da postagem
A ruividão é uma cor espiã.
Por vezes é um agente infiltrado no castanho-escuro: um veio
de Bourbon à flor da pele do estiloso mogno.
Nesse caso, não há como calar na ruivice o
códice secreto de um brinde entre a elegância e o risco.
Ou então a ruivice é o último suspiro, da loiritude do dia, escondido
no crepúsculo.
Dizem as boas línguas que as ruivas trazem nos cabelos o
prenúncio do sangue que trarão nas mãos após cometerem o crime. E não vai importar muito que tipo de crime
seja porque a sedução ruiva só em montar o cenário já tira a vida de sua vítima antes de
ser puxado o gatilho.
Greta Garbo Fonte da Imagem: Blog E essa tromba de elefante? |
As sereias ruivas atraem os navegantes para a morte antes
mesmo de abrirem a boca para cantar. E no caso de Ariel - a Pequena Sereia - mesmo muda não perdeu o encanto.
A loirice é a
palavra solar e falante; a morenice é a palavra lunar e silente; a ruivice é a
palavra em suspense.
Anaxágoras ou era Anaxímenes... Um dos filósofos
pré-socráticos cujos nomes são um sistema filosófico à parte... Um deles
resolveu testar a hipótese de que a matéria era composta prioritariamente por
átomos de fogo. Resolveu testar a hipótese em si mesmo, aproximando-se da boca
de um vulcão.
Porém, uma versão apócrifa conta que o objetivo do filósofo
não era investigar sobre átomos. Ele estava decidido a provar que Afrodite
antes de ser deusa do amor era deusa das chamas que ardem no interior da terra,
do fogo que arde onde o sol não é capaz de chegar. A lava seriam os cabelos de
Afrodite.
Como bem observou o pintor Sandro Botticcelli, a loirice é uma
certeza, a morenice uma incógnita e a ruivice é uma contradição. Por esta razão
Afrodite, a deusa ruiva, nasce das águas do mar com os cabelos em chamas
ardentes e rubras.
Este sinal de contradição acompanha as ruivas, como atesta a
história.
Elizabeth, rainha da Inglaterra e filha de Henrique VIII (e
de fato, ela nasce antes como rainha e só depois como filha), fez bater no
coração da contradição três outros corações: o da Virgem, o da guerreira e o da amante.
E, assim, fez de suas mechas ruivas ponteiros de um relógio em angústia e
descompasso.
Rita Hayworth Fonte da imagem: Blog Modismo |
Jean Grey, também conhecida, nas histórias dos X-men, como
Fênix, é outra das encarnações da contradição ruiva. A força-Fênix, uma das
energias primordiais que participam da composição do universo, une-se à alma de
Jean Grey para experimentar o sabor dos limites e das paixões que a condição
humana tem a oferecer. No labirinto da condição humana, a Fênix não conseguiu
optar entre o encanto da inocência e a opulência da paixão despudorada e acabou
enlouquecendo... E a loucura, nessa narrativa, teve como moldura o caudaloso e
ruivo cabelo de Jean Grey.
No Brasil, foi interessante o caso ocorrido na novela O Sexo
dos Anjos, de Ivani Ribeiro. Um dos lances mais atraentes da história foi o
dilema vivenciado pela Morte, personagem interpretada pela atriz Bia Seidel. A
personagem apaixonou-se por um homem do qual deveria tirar a vida, situação que
fez sua habitual frieza e indiferença serem abaladas pela contradição cuja
ruivice de Bia Seidel tornou irresistivelmente sedutora.
Lucille Ball, uma das maiores comediantes que já existiu,
era ruiva e foi capaz de com igual talento interpretar papeis dramáticos e de
vilania.
Em Lucille Ball, destaca-se uma característica peculiar à
ruivice. Ela não pertence ao campo da dedução, mas sim ao da indução. Algumas das mais sedutoras ruivas brilharam
no cinema em preto e branco. Neste tipo de filme, é possível deduzir tanto o loiro quanto o moreno. Já o ruivo, mesmo estando visível na tela, permanece
um enigma a, por indução, ser nutrido pela imaginação da audiência.
Desenho da galeria de Tarek ou ~trktrx |
E, assim, Rita Hayworth, antes do cinema em cores, desmentiu
o preto e branco com sua ruivice. Algo que também foi feito por Greta Garbo, uma
ruiva que fez até mesmo Theodor Adorno - o maior inimigo da Indústria Cultural –
abrir uma exceção e declarar-se fã da atriz.
Com a personagem Dorothy, vivida por Judy Garland em O
Mágico de Oz, a ruivice deu mais uma vez mostras de sua identidade contraditória,
oscilando entre o mistério do preto e branco e a explicitude do “em cores”.
Lídia Brondi - Ruividão infiltrada no castanho-escuro Fonte da imagem: Capa da trilha sonora da novela Vale Tudo (1988) |
Sadie Frost como Lucy em Drácula, de Bran Stoker Fonte da imagem: Coolspotter.com |
Para terminar o que um dia teve início, não pode ficar de fora dessa saga uma das personagens ruivas mais misteriosas e que mais mexeu com a imaginação de homens e mulheres no mundo inteiro: a garotinha ruiva do desenho de Charlie Brown, também conhecido como Peanuts.
A garotinha ruiva não tem nome
e durante boa parte da trama permanece uma figura enigmática.
Quando aparece não deixa completamente para trás sua capa de
mistério, visto sua aparição se dar no sonho de Charlie Brown. E, como se sabe, o sonho é um mundo embriagado, ao mesmo tempo, pelas interdições da timidez e pelas
extravagâncias da paixão. E esta embriaguez contraditória do personagem Charlie
Brown não escapou de ser emoldurada pela ruivice.
* Qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência, pois o Alguém que admiro tem os cabelos-asas cor de noite de lua nova
Conheça, neste vídeo, a "garotinha ruiva", de Charlie Brown
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