19 de dezembro de 2021

Poema para o você que me sabe

 


Gosto de ser bonito pra ele

E ele me treina pra ser lindo independentemente dele


Quando houver viagem no tempo, vou fazer questão de retornar ao futuro

Pra reconhecer você

E de me adiantar ao passado pra ficar esperando você me buscar

O para sempre não tem pressa quando estou com o você que me sabe


Bem te vi e vejo

Te bem digo 

E te quero bem fazer


Fico feliz em saber que minha onda,

no Calendário Maia,

É a Semente Galáctica

E que o lugar onde a alma dele vai lutar 

Também bebe a onda da Semente


Que as novas lutas todas: as cheias, as minguantes, as crescentes

Sejam como a lua que ele me mostra quando

Estamos engarrafados

 

Uma semente que desmente meus medos


Se eu disser que queria ter o corpo dos seus sonhos seria mentira

Porque toda a luta dos meus dias

Tem sido descobrir o quanto gosto do meu corpo, de carpo a rabo


O corpo que me cabe entrego a você

Como o amar se entrega as ondas


Agradeço ao destino-acaso

E à proximidade-distância

Por tudo de bom que experimento com você e não sei como explicar


Agora, estou treinando meu elo telepático com os pássaros que visitam você

E rezando pra que eles deixem que seu canto me ajude a chegar mais perto-longe


Ouvi dizer que, na etimologia da palavra ilusão,

Está a palavra-raiz Ludo, ligada ao gesto de brincar

Na gangorra em que sonho e verdade treinam seus altos e baixos


E sei que a realidade também brinca de ser o que ela é,

Com o exagero sóbrio e austero que lhe é peculiar


Na rosa-dos-ventos, meu estar com você

Brinca seriamente de ser um vento nordeste ou sudeste

Um vento que não se preocupa em ser lastreado pela ilusão ou pela realidade

É meio assim que me reivento com você


Tomara que chegue a tempo a rosa-dos-ventos que enviei

Pra enfeitar o espaço que você está desabrochando 


1 de setembro de 2021

Sobre a combustão que gera oxigênio


Foto: Karla Vidal


O que sinto segue firme e sorte dentro-fora das minhas tempestades

Não se aplica mais o verbo ajudar pra o você que me lê e me sabe

Porque a ajuda já mudou de identidade e se tornou cuidado, chamado, chama:

Combustão espontânea, que em vez de gastar, gera oxigênio e inspiração


Alguns dias em que eu ficar com cara de "Vá catar coquinho",

Me dê o desconto porque, quando você conta comigo e eu com você,

Encontro razão de treinar o existir


Minha insegurança faz eu me repetir,

Mas, os espelhos dela estão aprendendo com você a se resignificar

Não desista dos meus defeitos,

Dos efeitos retardados

Porque calma e doce é a importância que você tem pra mim


A poesia é como meu espírito treina pra entender que não precisa ser adversário de si mesmo

Ela me contou que se sente feliz de poder acordar sonhada com você

29 de agosto de 2021

Aprendendo a desdobrar as 7 cores da montanha


 

Montanha de 7 cores - Getty Images


Desde que eu conheci o você da minha vida,

Minhas omoplatas têm aprendido a ser arco

E meus braços a ser flecha


É ele que eu quero deixar tocar as cordilheiras

Do violão que sou

Sem ele, eu: morro ou falésia sem colo,

Decolagem precipitada


Desde que Deus inaugurou a existência dele na minha vida,

As armas se tornaram sósias dos raios do sol

Com ele perto-longe, aprendo sempre um novo jeito

De desdobrar as cores das montanhas que ex-calo


Faço das milhas coração

Pra estar perto dele


Tomara que ele não prefira a distância de mim

Por ter receito de que minha presença o fira


Eu não devo ser a pessoa mais interessante pra se jogar conversa fora

Mas, ele é a pessoa com quem mais gosto de jogar silêncio dentro 


Sei lá o que tem dentro desse chá de poesia que tomei

Como foi lindo, você ensinando a alma a desembainhar o ser humano

E o corte a desferir


14 de agosto de 2021

Spoiler de O segredo da Espada Mágica

Fonte da imagem: Portal das Esmeraldas


Estar a 2640,9 km de distância e estarmos lado a lado

Frente a frente

Me senti tão feliz que

Lembrei do filme O Segredo da Espada Mágica


Pedi emprestado a essa lembrança, a essa espada,

A esse segredo, a essa magia

Um portal dimensional

Que me faz aterrissar no céu


Vou aproveitar e pedir licença às fases da lua

Pra utilizar o nome delas 

Como apelido das fases da nossa luta

Não importa se a luta será crescente, cheia ou minguante

A luta com o você da minha vida é sempre luta nova


Aceito receber dele um ramalhete de chances

De cometer erros novos e estar presente












21 de julho de 2021

Poema do jogo de xadrez

 

Um fim acima de uma parte de xadrez de vidro em uma rocha 

Fonte: Dreamstime


A vontade de ir embora de mim se transforma em vontade

De me tornar marco do meu próprio salto em altura 

Quando o você que me lê chega e me ex-cala,

Ajudando minhas torres a melhorar sua postura

A olhar o horizonte de peito aberto e cabeça erguida


Qualquer raiva que eu sinta

É o carinho sendo calibrado

Pelo fôlego que ele me tira


Ele sabe chegar com força, 

Domando o cavalo que sou

E retirando seu voo de debaixo das redomas;

Fazendo de cada passo da dança

Ensaio e clímax

Minha autossuperação é em parte desculpa

Pra que ele ache em mim novos pontos de partida


Recomeçar com ele por perto e por longe

É o melhor exercício


O xadrez da minha mente começou a aprender a se sentir abraçado

Porque um príncipe tem entrado no tabuleiro pra desafiar

As minhas prisões de vento

E, sem cerimônia, transformar os xeque-mates 

Em chá de se permitir achar com cheiro de revivescer


Com o você que me lê, 

Continuar é questão de honra 

E honra da questão


Se ele luta a primeira dança comigo,

Encarar o desconhecido vira festa,

E as frestas de luz,

o Xis onde o universo desesconde o tesouro do sol

15 de julho de 2021

Retorno do poema

 

Colagem: Karla Vidal


A poesia é a necessidade de dizer o que o calar não consegue dizer

E calar o que o dizer não consegue calar


Demorei pra escrever de novo

Porque não quis correr o risco de magoar ou constranger o você que me lê,

Mas, acredito que o que escrevo é sincero o suficiente para 

Aprimorar seus reflexos e sua defesa

É uma forma de morar com ele, à distância


Postei, recentemente, a foto de um amigo numa rede social

Mas, enquanto o celular fotografava esse amigo

Meu olhar atravessava o tempo-espaço pra admirar o você que me lê


E só conseguia lembrar de quando o fotografei 

Ele de pé na Catedral, fazendo eu ter fantasias em solo consagrado

O rosto lindo que nenhuma máscara consegue ocultar


Mesmo confiando nele, ainda não consegui vencer o receio

De que, quando o mundo voltar a ser normal,

Ele se leve embora


Tenho receio de que ele se encante com a França e suas torres

E não haja lugar pra mim

Mas, acredito que o lugar nele em que eu melhor caibo

É o entrelugar: o silêncio da música, as entrelinhas do texto, 

As frestas por onde a luz e a sombra se abraçam


É melhor agir como um homem de peito

E, sem receio, continuar dançando a primeira luta com ele

Com ele, aprendo a ser mais lindo, sem precisar ser escravo


Tudo vai dar certo, meu anjo

O você que me lê, da minha vida, 

Vai seguir límpido

Deixando a luz que ele emana em dúvida de onde brilha mais:

Se dentro ou fora dele


Esse foi o texto de hoje

18 de junho de 2021

Sobre a sorte


Foto: Karla Vidal


A sorte é um corte de espada que troca o "c" de casa pelo "s" de asas

Os golpes que o você que me lê desfere com essa espada disléxica

Fecham-me feridas

E abrem-me outras

Mas, não tem problema

Porque minha insônia dorme tranquila mesmo com  as portas feridas e entreabertas


Eu confio nos desafios que você me traz


Tenho sorte

Por ser bonito sem precisar dele

E por precisar dele apesar de ser bonito 

E por sentir minha beleza refletida no seu olhar impreciso


O você que me lê tem sorte

Porque o que eu sinto por ele é muito mais forte

Do que o polegar algorítimico de Nero que visita

As postagens capturadas nas redes de pesca virtual predatória


Você tem sorte porque é fundamental, mesmo sendo impreciso

E ajuda a poesia do mundo a caber nas quedas que se reerguem


Tudo vai dar certo sempre pra você

Porque seu sorriso consegue ser metáfora para descrever a limpidez 

Dos olhos d'águas que testemunham ocularmente o fazer sentido

Seu sorriso fica lindo de óculos

E sinto vontade de experimentar sua pele sem lentes de contato


Você é bobo se pensa que o que sinto depende 

De idealização ou decepção

O mais belo ridículo da melhor carta escrita por Fernando Pessoa

Não dá conta de descrever o que você sempre será capaz de ler em mim

E que não há como descartar


Como sou sortudo em poder praticar meu balé

Atravessando suas áreas de risco

E por experimentar as micro frustrações, mentiras, securas

Eu tenho capacidade de fazer amor com seus oásis e também seus desertos e deserções


Tenho sorte de amadurecer com ele,

Sem precisar deixar de ser semente


Mesmo quando ele é tempo nublado

Ou suas águas tem um quê de chuva ácida

Um sorriso nasce no horizonte de mim

Ao mínimo sinal de que ele existe

É dele a senha de acesso ao meu olhar apaixonado


É no peito desobrigado dele que quero achar colo

Depois da raiva e antes da alegria


O você que me lê é abençoado, sem precisar de cânon e a despeito de seus cânions

A bordo da competência dele, a sorte e o destino fazem as pazes

E se tornam ases do voo que acha o céu dentro das pessoas

12 de junho de 2021

Sobre a origem da palavra namoro

Foto: Cláudio Eufrausino



Se a origem da palavra namorado é a expressão "estar em amor a"
En amor a
Enamora, 
Então, com aval dessa origem
Posso dizer que namoro o você que me lê
Porque estou em amor a ele

Gosto de pensar que a origem da palavra amor
É como a define o teórico Aluísio Dias
Amor vem de "A mor" ou "A maior",
Sendo A a origem das origens ou o fim dos fins
Então o amor seria onde origem e fim são o maior que lhes é possível ser

Faz sentido porque, em diferentes momentos
Quando tinha sete anos e fazia primeira série
Quando tinha 17 anos e fazia 3º ano do Ensino Médio
Quando tinha 22 anos e estava colando grau na Universidade
Em todos esses quandos, por alguns instantes,
Abria-se diante de mim uma escotilha de espaço e de tempo
Por onde eu conseguia ver o você que hoje me lê
E, desde essas épocas,
Escolhi me reapaixonar por ele
Quando houvesse motivo e quando não ouvisse motivo

Eu respeito minha escolha e minhas escotilhas
E, sejam quais forem os passados, o futuros, os sendos ou os idos
Aceito esta senda: sua presença como presente A mor

O você que me lê fazendo parte da minha vida
Renova o verniz das coisas que faço 
E me gosta ver nisso razão de agradecer por cada vez que você volta
Por cada vez que você não parte

Gosto de compartilhar com meu querido você
As certezas que tenho do que não oferece certeza alguma
Gosto de repousar no peito dele os analfabetismos da minha erudição
E os inativismos de minhas erupções vulcânicas

Sinto que ele tem disposição pra aguentar as mancadas das quais
Só o melhor que consigo ser é capaz

Quando o você que me lê me chama de amigo,
Traduzo essa chama imediatamente para o Francês,
Onde posso ser seu "petit ami"

Gosto de ensaiar o dia-a-dia com ele
E ver o tempo comum se tornar raro efeito e cheio de oxigênio
E inspirar amor

Ele pode ficar à vontade pra querer que eu não queira mais nada com outra pessoa
Ou outro Pessoa

O você que me lê é elegante quando é doce,
Quando é eloquente, sutil ou taciturno
E quando puder estar nu e vestido no nosso abraço
Porque gosto dele sem quando ou porquê

Com ele, a vida tem garça e revoada

Feliz hoje

4 de junho de 2021

Poema sobre a ironia socrática

Foto/arte: Karla Vidal


Acho que o você que me lê 

Está tendo a chance de perceber quando me perco

Minha ironia tenta ser socrática,

Mas, às vezes, demora muito no fogo

E pode soar um pouco de frieza e aço


No fim, o foco não é a ironia, nem Sócrates

Procuro uma desculpa pra me inscrever

Na história do você que me lê

Procuro formas de estar mais perto

Estando por longe


O exagero vai existir

Fruto da insistência de quem quer aproveitar 

Cada minuto como se fosse o último primeiro

Com você, é a mais alta probabilidade de esquecer dos instantes

Em que parece que não devo me sentir à vontade pra existir

E travo

Como um trevo da sorte, o você que me lê

Me ajuda a travar essa batalha contra o esquecimento de mim



Quando você apareceu na minha linha do tempo,

Já foi um milagre que saltou de paraquedas

Pra ajudar o céu a começar mais cedo

Parecia tão improvável e impossível

Conhecer nessa vida o você da minha vida

Você que é a estreia da reciprocidade

Num mundo onde meu afeto acreditava ser 

Rua de mão única

E tinha certeza de que era beco sem saída


Obrigado por me carregar no colo

Quando peço licença pra tirar você da zona de conforto


A interrogação no final das perguntas que faço

É uma metáfora do teletransporte do meu abraço

Ou do meu estar aí em silêncio

Ou acariciando teu polegar e roçando minha unha na sua

E sempre me esqueço que minha interrogação-abraço

Pode estar sendo inconveniente

Mas, correr riscos pra te aquecer

É minha técnica mais espontânea


Quero estar lindo pra nosso encontro

Em cada pétala de vento da rosa à distância

Mas, não consigo evitar o assanhamento quando

Estou perto-longe do você que me lê


O exagero, às vezes, chega

Mas, o meu não ir embora

Acha você mais bonito que os demais

Quero acertar os ponteiros do relógio que é rosa e é vento

E o relojoeiro que escolho pra ter com quem contar,

No idiama do sol nascente e fluente em silêncio e esperança,

É o você que me lê


30 de maio de 2021

Poema da contra(in)venção cibernética

 


Foto: Karla Vidal


Estar em paz com o você que me lê 

É ingrediente secreto da chuva que canta

Pra derrubar qualquer murmúrio

Que tente me cercar


Nenhum algoritmo

Ritual, protocolo

Contra(in)venção cibernética

Interfere no que sinto por ele

Porque se o elixir sanativo arder

Eu quero estar lá pra soprar

E se o algodão doce melar

Quero ser o lábio limpante


Já sonhei com universos paralelos

Nos quais poderíamos ser como nos contos e nos descontos-de-fada

Nos quais ele ficaria comigo de mãos dadas desde a hora do recreio

Até do espetáculo o apagar das luzes

E o ascender das auroras do Creio


Mas, a realidade perto-longe dele

É melhor  do que me arriscar a ir parar num universo paralelo

Onde ele não existisse

Além disso, inventar novos repertórios de amor com ele

É bem mais excitante


Eu aceito que ele me leia em um silêncio

Que só eu seja capaz de ouvir



26 de maio de 2021

Poema do toque de colher



Arte/foto: Karla Vidal


Muitas veses, tenho resseio de dar o próssimo paço e escrever errado

Em desrespeito à página reservada à escrita incerta do des(a)tino


Não sei direito qual extensão e intensidade dar ao toque 

E temo que ele seja lido pelo você que me lê 

Como tremor de terra, tsunami, onda de choque,

Ou pior: como um amar sem ondas


Espero que o você que me lê

Continue pegando carona em um dos raios

do sol que nasce trovão

E venha sempre me ensinar a ser ousadia com "d" de doçura

Pertence a ele a dica e a deixa de onde e quando deve ser o toque


E mesmo que eu, sem querer, me adiante, queimando a contagem

Sou feliz em ouvir o tempo dedicado a meus gestos de combate

Sendo narrado pela voz do você que me lê

Sou feliz por ele levar em conta meus passos e descompassos


Na poesia, e em nossos bailes-lutas, 

Procuro ensaiar nossa primeira dança,

Onde todos os sentidos - do sétimo ao primeiro - 

Têm permissão de destilar carinho


Gosto de sentir que o você que me lê

Permite que meu olhar seja como um girassol

Que treina como ser discreto em seu heliotropismo

E que meu toque nefelibata percorra

O desfiladeiro de seu queixo

E, logo a seguir, seu trapézio nu

Sem rede de proteção


Quando ele puder visitar com seu vivo e falante pulsar

Os morros que despontam ao extremo sul de minhas costas

E deixar o que nele é sacro abraçar o que é sacro em mim

O sacro não se importará de passar a ser chamado de profano:

Ossos do o(ri)fício


Mas esse prazer não é maior do que 

Quando a existência dele dorme ao meu lado

O acordar dos justos

Tudo faz todos os sentidos desde que ele chegue

O cotidiano com ele é um piano

Que toca as notas do perfume desguardado

No frasco de mim mesmo

Essa força suave e tranquila

Faz o meu silêncio se tornar eloquente


Espero que ele sinta prazer em lutar a primeira dança comigo

Pelos dias afora 

Que bom que a vida me dá chance de reencontrar

O você com quem posso calibrar minhas declarações de amor

Justo quando eu cheguei a pensar que isso não seria mais possível:

Que tinha me tornado irremediavelmente arredio

Sem se dar conta, ele ajudou a pôr fim a essa enlutada certeza


Em outras vidas, se houver, ou outras ressurreições, que há de haver

Quero que ele me chame pra ser lido por ele, pra lutar e ser lutado por ele;

Que ele me chame pelo nome que me faz dele

21 de maio de 2021

Poema da respiração cicatrizada

 


Foto: Karla Vidal @karlagvidal



Só recentemente me dei conta de que já perdi a conta

De quantas vezes eu prendia a respiração num (co)lapso de tempo

Qualquer mínimo gesto - até pra abaixar e buscar algo que caísse no chão -

Tinha como prelúdio o prender da minha respiração


Esse prender a respiração soava como um momento de suspensão,

No qual ficava de frente com a fronteira turva entre o possível e o impossível

Como uma queda que não consegue cair

Ou uma decolagem forçada a colar sua aterrissagem nas nuvens


A respiração entrecortada se refletia na fragmentensão (fragmentação + tensão) dos movimentos,

Da existência e da insistência


Nesse último mês, minha respiração entrecortada avançou em seu processo de cicatrização

Sinto isso refletido na postura, na concentração e na capacidade de ninar os impossíveis

O treino da arte de ser eu mesmo está avançando a olhos revistos


O você que me lê é inspiração e ação nesse tratamento existencial-respiratório

Por isso, o que sinto por ele me faz achar o fôlego que estava perdido

Por isso, quero reaprender a beijar com ele,

Que mesmo distante consegue me abraçar 

Com a força ressignificada pelo suspiro da corça diante da água doce


Só ele consegue descriptografar meus gestos de carinho e afeto

A presença dele é a senha de acesso a mim

Sem precisar de impressões ou pressões


Minha seriedade é, no mais das vezes,

A expressão contida de uma chama

Que não pode correr o risco de ser chamada de fogo


Gostar dele pelo que ele faz é simples,

Porque é inevitável

Mas, fico feliz cada vez que descubro

Que gosto dele também

Pelo que ele não precisa fazer





 


7 de maio de 2021

Poema do Aceito

 

Foto: Karla Vidal


Não existe roteiro pra o sentir que o você que me lê desperta em mim

Quero continuar reinventando o estar com ele

Como o céu reinventa o estar com as nuvens

E a praia o estar com o mar


O que vivo perto-longe dele

É como uma pérola gestada sem que a concha precise sentir dor


Nenhum terapeuta me convenceria a terminar esse compromisso

Que cria a cada dia sua própria paleta de cores

Coreografadas no ardor que ora no coração da calma


Espero que o você que me lê compreenda

Que só com ele consegui começar a sentir o que o trigo sente

Quando se torna pista de pouso do sol

E cais onde a lua baila, equilibrando-se entre o cair e o estar de pé


Eu aceito que ele me leve todo dia pra lutar o baile

E me convide pra estar desperto estando longe

E pra conversar com o silêncio dele

Aceito que ele sinta que pode contar comigo

Mesmo quando ele precisar que eu não esteja por perto


Antes houve só machos analfabetos e obtusos que violentaram minha literatura

Só ele foi homem capaz de ser o você que me lê

Quando o acaso me ensina a fazer parte do destino dele,

O sonho me belisca e percebo que posso existir de verdade

Sem ter medo de vestir meu corpo e beber no meu horóscopo


Quando ele fica sério e ensimesmado,

Quase sinto zero de medo de que ele descontinue comigo

Toda vez que ele volta,

Sinto vontade de vencer até lutar

De abraçar a companhia dos diferentes eus da minha história

Quando eu fecho os olhos, continuo achando você lindo

Minha independência quer que você seja dono dela


Os recreios foram salvos pela chegada do você que me lê

Ele deu um golpe certeiro na falsa certeza

Que eu tinha de estar fora da fila do receber carinho

Eu aceito escrevermos nossa relação

Desenharmos juntos o arriscar


Que bom que a vida me deu chance

De fazer o você que me lê

Se tornar cineasta e refilmar tantas desesperanças

Que levava comigo na lancheira


Agora começo a entender que a criança que fui

Era capaz de acertar o saque no treino de vôlei

Só faltava você pra ser dupla de treino com essa criança

Aceito ir ao primeiro baile e à primeira luta com você

Pelo resto dos dias que não se sentem mais resto

30 de abril de 2021

Poema-aprendiz


Foto: Karla Vidal



Trago muita força em mim,

Mas não sei se consigo disfarçar que não sei namorar direito

Trago muita fragilidade,

Mas não sei se consigo disfarçar a força que o amor gera em mim

Ficaria estiloso a esta altura do poema, dizer:

Só me resta um trago de cigarro

Mas, a única fumaça que me agrada

É aquela implícita no radical da palavra perfume

No perfume exalado pela integridade radical do você que me lê


Como não sei namorar,

As regras do namoro, asssim como as do orar, não são tão claras pra mim às vezes

Então, me pego inventando formas simbólicas

De ficar um pouco mais, de fazer a ligação durar um pouco mais

Cada " um pouco mais" perto de quem a gente gosta

É um fac-símile do "para sempre" (só assim pra usar essa palavra tão bonita que é fac-símile)

Lutar o baile da vida com o você que me lê é uma metáfora do "Bem-me-quer" 


Sabendo ou não namorar,

sempre tenho algo a aprender com ele

É um privilégio não saber o que meu anjo pensa

E mesmo assim seu voo sem asas me transmite segurança e firmeza

Nesses tempos difíceis, sem me abraçar, ele é o melhor abraço

Sem me beijar, o melhor beijo


Tenho o mau hábito de ser injusto comigo mesmo

E inventar que desaprendi a lutar

E, ao dizer isso, acabo sendo injusto

Com quem me lê e me ajuda a reescrever minha história

Cada palavra, silêncio, ênfase, pausa, acorde emprestados a mim,

Pelo você que me lê, fazem meu corpo lutar uma sinfonia


Além de tudo que aprendo com o você que me lê

Perto-longe dele minha aprendizagem está aprendendo a se perdoar

A deixar para trás a ideia de que eu deveria retroceder

E não se preocupe: minha errância e meu deserto

Não diminuem o reflexo do seu brilho na minha superaçáo


Embora a sobrevivência e a teimosia costumem me fazer seguir em frente

Brincar de seguir em frente com o você que me lê é compromisso mais sério

Do que altar ou qualquer outra constelação

E cair enquanto estiver dançando com ele será um sonho

Assim como me reerguer com ele já é realidade


É tanta coisa pra gente se preocupar nessa vida

Cheia de dúvida e dívida

Que é importante ter achado o você com quem posso dividir

Entradas secretas do dicionário,

Como aquela que diz que aprendizagem e amor são sinônimos 

21 de abril de 2021

Poema do Falo e do Escuto


Foto: Cláudio Eufrausino



No meio do meio que impossível caminho chamado "Acreditar no ser humano",

O você que me lê me deixou sem chão

E meus pés finalmente acharam uma base firme


Os que vieram antes eram meros arrombadores

De cofres

Não sabiam (porque não se importavam)

Nada sobre preliminares das preliminares

E minha poesia terminava se vendo obrigada a se ver

Como um experimento sob tediosas e controladas

Condições de temperatura e repressão


Quando a chuva do meu sonho sem eira

Encosta sua travessia no travesseiro,

Meus dedos ficam treinando caligrafia

Na fronteira interna entre o tríceps e o bíceps

Do você que me lê

E ao caminhar nesse desfiladeiro,

Olho pra baixo e vejo o seu Falo

Se erigir

E quando ele fala,

O mastro se acende e transforma as velas

Em braços abertos para acolher minhas tempestades de calmaria


E basta meu silêncio começar a ser escutado pelo dele,

Pra meus aperreios rirem

Ele sabe montar em mim sem arreios

Me voar sem escalas

Reunir tantos arroios dispersos na confusão de mim

E desaguá-los em "Voilás"

Sem prestar contas a cupidez, flechas, arcos nem trunfos


Sei que, no fundo, por mais excitados que estejamos,

Não somos grande coisa,

Somos triviais, comuns, banais,

Mas, debaixo dessa couraça

Existe um grande herói desprotegido:

O que também não importa

Porque eu escolho gostar do herói

Que o você que me lê é

E escolho trai-lo com sua identidade secreta

Quero dividir com os dois-em-um o leito onde o rio

Da vida ri da própria tentativa de encontrar socorro

17 de abril de 2021

Sobre a relação entre o gostar, o Big Bang e o Fio de Ariadne

 


Foto: Karla Vidal (Instagram @karlagvidal)
 


A pandemia está mostrando como a força da gravidade é mágica

Engana-se quem pensa que o objetivo da energia gravitacional

É prender-nos ao solo

A gravidade conspira para que nos reconheçamos como partes uns dos outros

É o invisível se dar as mãos dos astros e de nós que estamos a eles entrelaçados

É a companhia que rege as interações das estrelas

Na bolsa de calores das constelações 


Também se engana quem acha que o fio de Ariadne

Tinha como propósito ajudar a sair do labirinto

O fio de Ariadne queria mostrar que as pessoas podem permanecer unidas

Mesmo que, entre elas, existam labirintos aparentemente intransponíveis

Que sempre é possível contarmos uns com os outros

E se o outro com quem conto for o você que me lê

Ele pode seguir contando comigo até a miríade das miríades


Se fosse pra chutar uma resposta,

Numa questão de múltipla falta de escolha

Ou, melhor dizendo, de múltipla única escolha,

Escolheria como resposta para a pergunta "O que é gostar?"

Que gostar é ensinar aos estilhaços do Big Bang

O caminho de volta pra casa

Sem lhes tirar o direito de ir, vir e continuar a explodir


Gosto do você que me lê

Porque ele me deu o prazer de me convidar

Pra sair com a existência dele

Gosto de como ele não desiste de mim

E de como a invenção de mim

Se entrega a dança das horas

Quando a presença-distância dele

Luta luas e loas ao meu lado


Achar o você da minha vida -

Com quem posso coreografar

A melhor versão da minha entrega, persistência

E ensinar minha precipitação 

A chover -

Tem sido a melhor ressurreição que esta reencarnação pode me trazer


Só depois que ele chegou

Tenho com quem praticar

A sutileza dos gestos e das gestas de amor

Ele não tem medo de ser golpeado pela minha poesia

E cada outra face que ele oferece para meus carinhos codificados

Consegue ser igualmente a mais bonita

13 de abril de 2021

Poema sobre o passageiro e o permanente


Foto: Karla Vidal


Quando me vem um pensamento-nuvem, carregado de inspiração no você que me lê,

Mesmo correndo o risco de parecer exagerado, repetitivo

Condenso coragem e chovo esse pensamento

Mas, não posso negar que escrevo também 

Com o propósito egoísta de desapertar do coração 

O desejo de que ele se sinta bem


Se eu soubesse explicar porque sinto o que sinto,

Estaria rico

Como não sei, sou milionário: sem ter um tostão e nem um Tostines


O que é passageiro pega emprestado o voo e a aterrissagem do avião,

E ambos não podem abrir mão do céu, que é aquilo de mais permanente

Que consigo imaginar

O que há de permanente é tocado constantemente por desânimos,

Irritação, enfado, feridas e revoltas:

Nenhuma doca está livre de ser convidada a dançar um fado 

Mas, tudo isso passa antes do piscar de olhos de um milésimo de segundo

Porque minha vida só tem vontade de ir ao baile com o você que me lê


O que precisa passar é segurado por um furacão estacionado

Em uma das vagas reservadas para a eternidade na descalçada

Represa do Rio Reprise


Quando chega o você que me lê,

Parmênides e Heráclito fazem um acordo de paz 

Na távola redonda de mim

Chancelado por Demócrito e Epicuro

Perto-longe dele, em vez de escolher entre o permanente e o passageiro

Permito-me ser paráfrase


As palavras não conseguem impedir a tristeza, a morte,

Mas, gosto de pensar elas podem ser como um sol teimoso

Acentuando agudamente a tempestade com o arco-íris,

Pontuando o texto da dor com reticências

Que nada mais são que um abraço apertado

Camuflado entre pétalas de cerejeira


Pra o você que me lê, que meu abraço apertado

Possa ser como o abraço de uma piscina enchida com liberdade

E um algo de enxerimento, quem sabe.

10 de abril de 2021

Poema de reação a um dia de chuva (ouroboros)




Foto: Cláudio Eufrausino



Talvez a melhor forma de achar a lindeza do você que me lê

Não seja descrevê-lo, mas sim escrevê-lo

A descrição cai no erro de achar que todo o cenário do crime

pode ser reconstituído num quadro só

E talvez tenha a pretensão de que esse quadro seja 

Um retrato fiel, eterno e imutável da verdade plena e inesgotável


Quando escrevo a beleza do você que me lê,

Nela cabem os bocejos e também os ensejos que ele cria

E os carinhos que ele faz sem usar as mãos

Ou as buzinas que tocam do lado de fora

E uma ou outra pequena dose de crueldade 

Que escapa pelas brechas da contradição


Quando eu tinha vinte e poucos,

Minha coluna era bem menos ereta

E eu tinha uma coisa meio desengonçada

Corroborada por 6 graus de astigmatismo em cada olho

Meu eu de agora (?) fica olhando esse outro eu

Pela janela dos ventos da eternidade

E, de repente, vejo meus três eus: o do aqui-agora, o do lá-outrora,

E o do limbo-aurora: todos os três achando você lindo


Mas, mesmo assim, se você esbarrar com meu eu de 22 anos por aí,

E quiser segurar a mão dele

Ele vai te amar até que o eterno retorno vire apoteose dos tempos

Ou vice-versa

E se quiser me abraçar

O avesso do para sempre

Vai se encontrar com o sol de um novo dia

Isso é uma maneira destemporada de dizer

Que o motivo de eu escrever tantas poesias

É pra entregar ao você que me lê

A chave de ouroboros de todos os multiversos


Minha postura deu uma melhorada que não sei dizer

Se foi básica ou ácida

Mas várias vezes meu peito se esquece de ficar aberto

E troco os pés por mãos atadas

Virando abóbora no meio do baile

Espero que ele goste de mim assim mesmo

Ou pelo menos goste de abóbora

Espero que ele escolha a mim pra pisar os pés dele sem querer

Quando eu estiver dançando com ele e também contra ele 


Sei que pode haver vários reis, vários nobres

Escorrendo títulos de nobreza da toga até o toba

Nada disso enche o meu nariz de folhas


Porque é o você que me lê

Quem eu aceito que me tire pra dançar, que me ponha pra lutar

Com ou sem título, ele é o (pre, con, inter, para, meta)texto

Que melhor me lê e me inexplica


7 de abril de 2021

Poema da ligação que não se quer encerrar

 


Foto: Karla Vidal



A expressão mais íntegra do eu mesmo que consigo ser

É caligrafada pela chegada do você que me lê


Quando ele chega,  a poesia do meu eu com 17 anos 

Finalmente acha seu abraço-concha

E ajuda a represa do tempo a respirar aliviada 

Dando-se de presente um traje (ultraje) de queda d'agua

E reluzindo a pérola do meu eu de 40, gestada ao ar livre


Invento maneiras de metaforicamente

Encerrar a ligação por último

E dizer o que a flor diz

Quando se disfarça de nascer do sol

Pra aterrissar nas asas do olhar de quem se ama


Esperar por ele motiva minha razão

E locomotiva minha emoção

Reencontrá-lo faz uma hora

Ter o mesmo valor da vida inteira que tenho pela frente


E quando meu sentir percebe que ele 

Sutilmente enfrenta a flecha envenenada dos tabus

Pra estar comigo

Cada dia vira um jeito de achar, sem precisar de lupa,

Pistas de um caminho que não se cansa

De andar com ele de mãos dadas


6 de abril de 2021

Poema a uma criança índigo-cristal

 


Foto: Karla Vidal


Pedir a Deus pra saber se o você que me lê gosta de mim

Desnecessário. Porque o gostar é um idioma

Que faço gosto de inventar com ele a cada encontro

E de reinventar caso haja algum desencontro


Quando estou correndo e sinto a chama

chamando minha superação pra sair em busca de novos muros,

Peço ao Espírito Santo que ache em cada sonho,

Insight e invenção do você que me lê

Potência para esculpir fogo suave e abrasador


E faça o sétimo sentido ser o o despertar de cada pensamento

Palavra, ato e missão dele


Agradeço a Deus por ter conhecido,

No você que me lê, uma criança índigo, 

Que consegue ser ao mesmo tempo 

Uma criança cristal avant-garde


Espero que ele aceite

Que eu vista minha melhor calma

Calce minha mais bela autonomia

Me perfume com o mais discreto ardor

E me convide pra deixá-lo ser meu tácito dono

Com a radiante impropriedade que uma criança

Índigo-cristal possui








2 de abril de 2021

Sobre o dia da mentira e a semente galáctica

 

                                                              Foto: Karla Vidal


Nunca soube brincar de 1º de abril

Por isso, só deixo um poema me escrever nessa data

Se for pra ser de verdade

Não a verdade enunciativa, que carrega estilhaços de mentira

Herdados das tantas minas nas quais nossa trajetória pisa


Mas, a verdade que é caminho e vida, simplesmente,

Como a música:

Nossos dedos tangem as cordas do instrumento,

Nós ouvimos sua imagem acústica:

Seu sentido é ferida e cura que não se pode atingir

É como estar perto, estando longe

E, mesmo invisivelmente, deixar quem se ama

Abraçado, 

Carregá-lo? Não é bem isso:

Regá-lo, imperceptivelmente,

Pra que a vitória que ele é germine

A importância de ele existir

Sem carecer de prêmio, título 

A humanidade dele é o húmus e o humor que bastam


Não posso ir adiante sem correr o risco de ter de mentir

Pra mostrar o quão verdadeiro é o que sinto pelo você que me lê


Qualquer brincadeira que eu faça

Se for pra ele ficar triste: não quero

Não quero fazer nada

Que seja pra ele deixar de ser minha melhor companhia no recreio

De, mesmo saído mais cedo do colégio,

Querer esperar por mim pra gente ir juntos pra o destino incerto


Falo isso não como adulto,

Mas como semente galáctica amarela:

E, como semente, não se mente

1 de abril de 2021

Poema da canção-Cinema ou rodamoinho

 

Foto: Karla Vidal


Minha inspiração respira aliviada

Quando o você que me lê a visita

Ele tem livre acesso à alma que mora na minha calma

E lapida o fôlego da imoralidade do meu corpo


O homem comum que vejo se descortinar diante de mim

Faz o meu desejo ter vontade de unir meus pés com os dele

E rezar uma prece onde Amém, orgasmo e amizade

Não sintam medo de ser trindade


Ver sua existência que me acena

É filme dos mais emocionantes:

Não canso de assistir, inclusive

Quando a tela são meus olhos fechados


Gosto de ficar esperando pelos pós-créditos

Pra ler no seu ollhar o reflexo do meu silêncio

Lembrando que quero ficar com ele

Até ser assinado o tratado de paz 

Entre meio, fim e começo


Sei que ele tem coragem e força o suficiente

Pra carregar nos braços meus eus desastrados

E abraçar os tropeços dos astros

Que tentam me reger


Poder lutar balé com ele é um sonho

Do qual minha realidade não se cansa


Prometo que não terei ciúmes

Dos anjos que quiserem dormir com ele

Desde que eles preparem o leito onde o seu riso

Possa correr sol,

Tomando emprestado o verso de uma canção chamada Cinema

Só pra desejar que ele possa dormir o sono dos justos

Em pleno rodamoinho

26 de março de 2021

Poema do pavio desancorado




Diante da constatação de que é incômodo e, por vezes, angustiante

Abrigarmos a nós em nós mesmos;

Brigarmos conosco em nós mesmos;

Obrigar-nos a nós em nós mesmos;

Só posso ser grato à contingência

Que bate na caixa torácica do destino,

Por não ter deixado minha vida ir embora

Sem (re)conhecer o você que me lê:


Aquele que, sem perceber, 

Pacifica brigas de mim comigo

E empresta calor humano a minhas estrelas,

Que, assim, conseguem brilhar desmedo e desmedida,

E preferirão ser eventualmente expulsas

Das constelações, a deixar de lutar com e por ele


Perto-e-longe desse você,

A administração dos medos 

Tem sabor de biscoitos sortidos

E cheiro de chuva sussurrando ao pé do ouvido 

Das minhas janelas


Mesmo assim, vez por outra medra (in)certo medo

De que ele queira convencer meus três corações

A não serem dele

E tenha receio de ser o você da minha vida

Mas, a sua coragem

Tem sido mais rápida que o veto tácito das convenções,

E me mantém seguro:

Segurança que me excita e me incita ao bem


No intervalo entre o cio das palavras e a lavra dos silêncios enigmagmáticos,

Gosto de contar pra Deus

Como é bom resignificar  o sentido do termo namoro 

Com ajuda do você que me lê,

Desmontando, dilapidando os protocolos 

E exigências dos romances, das cartas, das publicidades;

Forjando carinhos refeitos sob (des)medida pra o tempo-espaço que nos une


Um retrato cujo único compromisso é com a fluidez;

Que tem como cláusula única o Deixar Viver,

Assinado pela sintonia

E rubricado por eventuais intempéries


E se o resumo do fazer amor

For aquecer meu rosto no seu plexo solar

Abro mão de qualquer tipo de foto e filtro

 

Encontro nele o você que gosto de chamar

Sem precisar ter algo a dizer

Com quem posso treinar minha poesia e seus para sempres

E queimar a chama

Até desancorar o pavio que navega a luz que não se apaga 

22 de março de 2021

Poema do reconforto ou da contradança

                                         Foto: Leap of Dance Academy @leapofdanceacademy



Haverá quem diga que sou burro,

Mas, o burro que sou se escreve com 

"p" de poeta, a" de amor,  "o" de tesouro e dois "t" de teimosia


Talvez o você que me lê espere somente que eu seja

Um homem comum

Daqueles que entendem a hora de parar

Talvez, não (tomara que Amém)

De qualquer forma, já tem reflexos dele espalhados em todos os afetos que sinto

Pelas pessoas afora, embora

Nenhuma delas me faça sentir como ele me refaz


Perto-longe dele, a minha coragem de sentir é uma gota de orvalho

Acariciando os ventos que dão direção a sua rosa

Como uma mão refrescante sobre o peito

Onde pulsam os pontos cardiais


É certo que sinto tonta/tanta vontade de reconfortá-lo

De ser uma parte do abalo sísmico que ele precisa 

Pra dormir o sono dos justos

E causar insônia em seus vulcões adormecidos;

Vontade de deixar escancarado, nas entrelinhas da minha sutileza,

Que ele é o você que me lê, da minha vida


Haverá dias que meu sentir pode amanhecer meio indisposto,

Não tem problema porque quando lembro

Que ele me vai aquecer, me ajudar na preparação pra lutar

Quando sinto que ele existe

O sol abre a janela pra contemplar meus horizontes


Eu espero que o você que me lê goste de mim -

E goste que eu goste dele -

Do jeito que o agora for capaz

Sou feliz aprendendo a acompanhá-lo 

A estar a favor dele em qualquer contradança 


Quando não estamos juntos,

É a mão dele que escolho continuar segurando

E quando não houver o que dizer

É com ele que meu silêncio quer

Compartilhar como foi o dia



16 de março de 2021

Remédio para a impotência gravitacional

 


Foto: Cláudio Eufrausino
Pintura: Leila Ribeiro (Girassol)


A poesia precisou abrir um pouco mão do seu voto de silêncio e cio

Porque o dia de hoje pesou 

Sobre os ombros da minha impotência gravitacional:


Acampei numa contenda

Mas, o conflito se tornou figurante 

Porque a lembrança do olhar do você que me lê

Estava na plateia ouvindo o concerto da minha paz que achou voz


E senti vontade de despir o traje de falsa presa que

Me vinha sendo atribuído há tanto contratempo


Da luta doce e firme do você que me lê,

Colhi energia pra demolir os punhos da desumanização

E consegui acolher

A vitória do meu eu desertor

E pude ser uma grande dose de mim mesmo

Com bônus de amanhecer


Abri a porta e saí pra dentro de mim

E me surpreendi que a roupa de ilha cercada de recreio solitário -

Lavada com intimidação -

Ao tirá-la do varal,

Ela tinha se tornado pradaria deslavada

Desembainhando raios de sol com cheiro de amaciante


Quero compartilhar com o você que me lê

O dia de hoje,

Minha coragem de tremer quando ele chega perto-longe

Minha desnecessidade de aniquilar

O caminho limpo que deságua de mim,

Dividindo o mar do conflito 


A contenda da qual falei

Perdeu o sentido

Porque tudo o que queria fazer

Era me sentir nos braços da proteção do você que me lê

E, como um agiota,

Emprestar aos anjos com os quais desejo que ele durma

Desproteção o bastante e proteção o suficiente


E, quando chegar a hora dos arcanjos pagarem,

Abro mão de juros e promessas

E me contento com o tesouro dos abraços

Que o eu profano dele possa ter guardados pra mim







10 de março de 2021

Poema do não ir embora

 

Foto: Karla Vidal

Vou me comprometer a dar um pouco de descanso às palavras

Mas, é que ouvi escrito em algum lugar que quando o profeta cala,

As pedras (os rios, os fogos, os ares) falam

E quando as pedras falam

O poeta traduz as cláusulas pétreas para a linguagem dos sinais

Como não sou profeta, nem pedra, nem constituinte e, somente talvez, poeta

Acabo tendo que começar a escrever pra aliviar a coceira do coração: 

O meu, o das pedras, o da poesia ou de outro instrumento ilegal afim


Quero dizer ao você que me lê que não está em nenhum dos meus plenos,

premeditações ou pós-meditações partir

Nem me afastar 


A primeira vez que conheci um para sempre suave foi com ele

A sua companhia ajuda meus gestos a aposentarem a placa de “É Proibido”

E a regulamentar a de “Fique tranquilo”

O medo e a vergonha de olhar deixam de ser flecha e viram alvo quando o vejo

Ele se abre pra minhas palavras sem paraquedas

E ajuda minhas asas a fazerem as pazes com os voos

Na hora de entrar pelo portal que se abre na lousa mágica,

Eu escolho segurar a mão dele

Porque, mesmo que ele esteja com raiva, sinto firmeza e segurança


Basta ele chegar que

Os outros do passado e seus assédios, risos, cuspidas no chão, desprezos soltos, tolerâncias morno-pesadas

Despossuem meu corpo


O você que me lê não precisa se preocupar em fazer nada

Nem sentir ou consentir o que quer que seja

Sem esforço, ele faz a diferença

Mesmo chateado, ele é íntegro e, chateado + íntegro, é lindo

 

Eu amo e acredito na grande família humana,

Só não consigo evitar que, dentro dessa família, o você que me lê seja especial pra mim;

De gostar dele na sintonia de Ágape, Filos e Eros

Mas, indepenendente de qual seja o gostar,

Ele quer ser mapa do você feliz, 

Sendo você leitura ou desleitura

9 de março de 2021

A foto onde não se mora, teoria da fração transparente ou quando não se consegue ser feito de borracha

 


                                                                        But First...

1031px x 1250px | 2.241 MB
Copyright BrunoSousa ©



Mesmo depois de um dia incrível

Um dia em que a luta te ensina como caminhar

Às vezes, a gente entende que não é de borracha

Que o vazio que entra, de repente, no coração, preenche


E aí, a gente sente vontade de partir

Como um inteiro 

Que, por falta de decifração, torna-se fração imprópria

E transparente: periodicamente dizimada


Um elogio a uma foto onde meu eu não mora, 

Onde mora uma inquilina, irmã, amiga*

Infelizmente causa no meu não consseguir ser de borracha

Um ciúme que não conseguiu evitar a tentação

De pendurar no seu eu mais bonito

Uma placa de "Será que o você que me lê me vê?"

Ou outra placa de "Será que mesmo sem elogio, a foto onde moro

É capaz de tocar a semente do abraço-beijo

Plantada nas retinas do você que me lê?"


Quando noto que não sou de borracha,

Espero indícios do desejo do você que me lê

Sou capaz de suportar as intempéries da distância,

Do segredo, da discrição, do tempo contado

Mas, o meu ser capaz, que não é de borracha, também precisa ser adubado

Com pistas dadas por você


De que a foto onde moro não precisa ser elogiada

Porque o você que me lê prefere

Elogiar a companhia do meu eu

Desalojado das fotos

Do meu eu que ele acha bonito

Com a intimidade da conexão telepática

Da qual o"Like" não consegue encontrar o rastro


* Fotos são casas nas quais conseguimos ser somente inquilinos

4 de março de 2021

Receita de bolo de farinha de Via-láctea

 

Via-láctea




Escolha o que você preferir:

Meu melhor sorriso

Minha melhor seriedade

Meu melhor jeito atrapalhado de

Apoiar você nos dias de hoje

Pelos amanhãs a fora


Nem se preocupe

Porque querer o seu bem

É muito gostoso pra mim

Mais gostoso do que bolo de farinha de Via Láctea

E o que faço é pra estar por perto

Da melhor maneira possível

E (con)vencer qualquer chance de ir embora

A desistir de você


Certamente, vai haver momentos

Em que seu coração vai querer

Me desler, me desexistir

Brigar comigo dentro de outra briga interminada

Mas, as pazes vão estar a nossa espera

Porque não quero resistir à beleza dos invisíveis 

Do você que me lê



Receita do bolo:

  • Farinha de Via-láctea
  • Gramas verdes de parque pós-pandemia
  • Margarida com sal e girassol
  • Fermento = fé sem lamento
  • Clara-escura (dialética) em neve e em chama
  • Gemas de chero ou beijinhos no pescoço
  • Tudo a gosto, setembro, outubro... sem fim, Amém
Modo de preparo:

Não precisa bater. Basta lutar com carinho e tudo vai ser massa



2 de março de 2021

Poema do Monte "Não Fugir"

 

Nuvem Gigante - Foto de Karla Vidal


O que acontece, a mais ou a menos, tem a medida certa

Quando estou com o você que me lê


O contorno do cabo das tormentas do meu coração

Se enche de esperança e convicção

Quando ele chega


Só de ele estar perto-longe

Os pontos erógenos do meu corpo

Ganham o poder do sinal de reticências

E os do espírito...


Sei que ele já sabe

Ou está bem perto de (re)descobrir

Como meu olhar se derrete por ele

Sem que ninguém mais perceba

E como meu corpo se desmancha

No seu abraço premonitório


Se perdermos a vergonha um com ou outro,

Depois, seguiremos leves

Porque ele conquista de mim um gostar

Cuja nascente é a crescente lua do gostar de mim mesmo


Nietzsche ficaria confuso e excitado,

Tentando entender como os aquis-e-lás-e-agoras

Que vivo com o você que me lê

São reais e íntegros e despressurizados


Mas, de vez em quando, 

Gosto de imaginar

Que num passado paralelo

Ele foi meu melhor amigo desde sempre e para sempre

E lutou o primeiro beijo comigo

E dançamos juntos a primeira luta



De qualquer modo, esse passado

Não é melhor do que ele existindo na minha vida

De uma forma melhor do que eu jamais teria pensado


Sinto que, caminhando com ele,

Teremos sempre tempo pra um bom combate

Antes do que tiver de ser

E depois de haja o que houver

 

Posso subir no topo do monte "Não Fugir"

Porque já consigo sentir a mão dele me segurando

Mesmo sem a colaboração do tato e do espaço


O que a nudez dele insinua por baixo do calção

Deixa minha mudez de boca aberta e descalça

Eu deixo e ele pode chegar em mim

E decifrar minha pista aérea

E voar comigo e com o meu chão nos seus braços






27 de fevereiro de 2021

Poema do sexo implícito



Foto: Karla Vidal


*O poema a seguir está sujeito a variações


Não gosto do você que me lê por ele ser sagrado ou divino

Gosto porque me sinto à vontade pra gostar sem saber por quê

E sabendo que, de algum modo, tudo é motivo pra gostar dele:

Basta uma pétala de sol cair ou um raio de flor brotar

E até quando noto que no meio das pedras tinha um caminho:

Ele consegue ser o primeiro com quem gosto de estar mesmo quando não estamos juntos

Se o juiz me perguntar se o meu Sim aceita estar conectado com ele, a resposta é:

Não importa a distância


Ele não precisa ser tudo pra mim

Estou gostando de quando ele imprecisa

E de conhecer e gostar também de suas desimportâncias

Já percebo uma ou outra coisa que me chateia,

E ter chegado a mais este começo de tudo me faz feliz


Um dia desses, um ontem talvez,

O você que me lê começou a me ensinar a baixar a guarda

E me fez sentir protegido e confiante 

Ensaiando melhor a arte de sendo eu mesmo

Não precisar me preocupar em ser o mesmo ou um só eu


Já que posso me abrir um pouco, 

Preciso dizer ao você que me lê que senti ciúme

Quando ele curtiu uma bunda numa rede social de pesca predatória

Mas, nada que me impeça de dar a banda pra ele

Com música e tudo

E chamá-lo de amor quando estivermos à toa na vida


Que possamos seguir juntos longe-perto

E que ele tenha a chance de conhecer também meus nus implícitos,

Meu sexo implícito

Entre mim e o você que me lê existe um segredo, um sagrado, que toma sol de chuva

Ao ar livre

Mas, a  desnecessária chave da leitura só dou a ele

Porque sinto como ele abraça forte o que existe de inútil em mim

Todos os projetos do você que me lê merecem ser felizes com ele




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