30 de abril de 2021

Poema-aprendiz


Foto: Karla Vidal



Trago muita força em mim,

Mas não sei se consigo disfarçar que não sei namorar direito

Trago muita fragilidade,

Mas não sei se consigo disfarçar a força que o amor gera em mim

Ficaria estiloso a esta altura do poema, dizer:

Só me resta um trago de cigarro

Mas, a única fumaça que me agrada

É aquela implícita no radical da palavra perfume

No perfume exalado pela integridade radical do você que me lê


Como não sei namorar,

As regras do namoro, asssim como as do orar, não são tão claras pra mim às vezes

Então, me pego inventando formas simbólicas

De ficar um pouco mais, de fazer a ligação durar um pouco mais

Cada " um pouco mais" perto de quem a gente gosta

É um fac-símile do "para sempre" (só assim pra usar essa palavra tão bonita que é fac-símile)

Lutar o baile da vida com o você que me lê é uma metáfora do "Bem-me-quer" 


Sabendo ou não namorar,

sempre tenho algo a aprender com ele

É um privilégio não saber o que meu anjo pensa

E mesmo assim seu voo sem asas me transmite segurança e firmeza

Nesses tempos difíceis, sem me abraçar, ele é o melhor abraço

Sem me beijar, o melhor beijo


Tenho o mau hábito de ser injusto comigo mesmo

E inventar que desaprendi a lutar

E, ao dizer isso, acabo sendo injusto

Com quem me lê e me ajuda a reescrever minha história

Cada palavra, silêncio, ênfase, pausa, acorde emprestados a mim,

Pelo você que me lê, fazem meu corpo lutar uma sinfonia


Além de tudo que aprendo com o você que me lê

Perto-longe dele minha aprendizagem está aprendendo a se perdoar

A deixar para trás a ideia de que eu deveria retroceder

E não se preocupe: minha errância e meu deserto

Não diminuem o reflexo do seu brilho na minha superaçáo


Embora a sobrevivência e a teimosia costumem me fazer seguir em frente

Brincar de seguir em frente com o você que me lê é compromisso mais sério

Do que altar ou qualquer outra constelação

E cair enquanto estiver dançando com ele será um sonho

Assim como me reerguer com ele já é realidade


É tanta coisa pra gente se preocupar nessa vida

Cheia de dúvida e dívida

Que é importante ter achado o você com quem posso dividir

Entradas secretas do dicionário,

Como aquela que diz que aprendizagem e amor são sinônimos 

21 de abril de 2021

Poema do Falo e do Escuto


Foto: Cláudio Eufrausino



No meio do meio que impossível caminho chamado "Acreditar no ser humano",

O você que me lê me deixou sem chão

E meus pés finalmente acharam uma base firme


Os que vieram antes eram meros arrombadores

De cofres

Não sabiam (porque não se importavam)

Nada sobre preliminares das preliminares

E minha poesia terminava se vendo obrigada a se ver

Como um experimento sob tediosas e controladas

Condições de temperatura e repressão


Quando a chuva do meu sonho sem eira

Encosta sua travessia no travesseiro,

Meus dedos ficam treinando caligrafia

Na fronteira interna entre o tríceps e o bíceps

Do você que me lê

E ao caminhar nesse desfiladeiro,

Olho pra baixo e vejo o seu Falo

Se erigir

E quando ele fala,

O mastro se acende e transforma as velas

Em braços abertos para acolher minhas tempestades de calmaria


E basta meu silêncio começar a ser escutado pelo dele,

Pra meus aperreios rirem

Ele sabe montar em mim sem arreios

Me voar sem escalas

Reunir tantos arroios dispersos na confusão de mim

E desaguá-los em "Voilás"

Sem prestar contas a cupidez, flechas, arcos nem trunfos


Sei que, no fundo, por mais excitados que estejamos,

Não somos grande coisa,

Somos triviais, comuns, banais,

Mas, debaixo dessa couraça

Existe um grande herói desprotegido:

O que também não importa

Porque eu escolho gostar do herói

Que o você que me lê é

E escolho trai-lo com sua identidade secreta

Quero dividir com os dois-em-um o leito onde o rio

Da vida ri da própria tentativa de encontrar socorro

17 de abril de 2021

Sobre a relação entre o gostar, o Big Bang e o Fio de Ariadne

 


Foto: Karla Vidal (Instagram @karlagvidal)
 


A pandemia está mostrando como a força da gravidade é mágica

Engana-se quem pensa que o objetivo da energia gravitacional

É prender-nos ao solo

A gravidade conspira para que nos reconheçamos como partes uns dos outros

É o invisível se dar as mãos dos astros e de nós que estamos a eles entrelaçados

É a companhia que rege as interações das estrelas

Na bolsa de calores das constelações 


Também se engana quem acha que o fio de Ariadne

Tinha como propósito ajudar a sair do labirinto

O fio de Ariadne queria mostrar que as pessoas podem permanecer unidas

Mesmo que, entre elas, existam labirintos aparentemente intransponíveis

Que sempre é possível contarmos uns com os outros

E se o outro com quem conto for o você que me lê

Ele pode seguir contando comigo até a miríade das miríades


Se fosse pra chutar uma resposta,

Numa questão de múltipla falta de escolha

Ou, melhor dizendo, de múltipla única escolha,

Escolheria como resposta para a pergunta "O que é gostar?"

Que gostar é ensinar aos estilhaços do Big Bang

O caminho de volta pra casa

Sem lhes tirar o direito de ir, vir e continuar a explodir


Gosto do você que me lê

Porque ele me deu o prazer de me convidar

Pra sair com a existência dele

Gosto de como ele não desiste de mim

E de como a invenção de mim

Se entrega a dança das horas

Quando a presença-distância dele

Luta luas e loas ao meu lado


Achar o você da minha vida -

Com quem posso coreografar

A melhor versão da minha entrega, persistência

E ensinar minha precipitação 

A chover -

Tem sido a melhor ressurreição que esta reencarnação pode me trazer


Só depois que ele chegou

Tenho com quem praticar

A sutileza dos gestos e das gestas de amor

Ele não tem medo de ser golpeado pela minha poesia

E cada outra face que ele oferece para meus carinhos codificados

Consegue ser igualmente a mais bonita

13 de abril de 2021

Poema sobre o passageiro e o permanente


Foto: Karla Vidal


Quando me vem um pensamento-nuvem, carregado de inspiração no você que me lê,

Mesmo correndo o risco de parecer exagerado, repetitivo

Condenso coragem e chovo esse pensamento

Mas, não posso negar que escrevo também 

Com o propósito egoísta de desapertar do coração 

O desejo de que ele se sinta bem


Se eu soubesse explicar porque sinto o que sinto,

Estaria rico

Como não sei, sou milionário: sem ter um tostão e nem um Tostines


O que é passageiro pega emprestado o voo e a aterrissagem do avião,

E ambos não podem abrir mão do céu, que é aquilo de mais permanente

Que consigo imaginar

O que há de permanente é tocado constantemente por desânimos,

Irritação, enfado, feridas e revoltas:

Nenhuma doca está livre de ser convidada a dançar um fado 

Mas, tudo isso passa antes do piscar de olhos de um milésimo de segundo

Porque minha vida só tem vontade de ir ao baile com o você que me lê


O que precisa passar é segurado por um furacão estacionado

Em uma das vagas reservadas para a eternidade na descalçada

Represa do Rio Reprise


Quando chega o você que me lê,

Parmênides e Heráclito fazem um acordo de paz 

Na távola redonda de mim

Chancelado por Demócrito e Epicuro

Perto-longe dele, em vez de escolher entre o permanente e o passageiro

Permito-me ser paráfrase


As palavras não conseguem impedir a tristeza, a morte,

Mas, gosto de pensar elas podem ser como um sol teimoso

Acentuando agudamente a tempestade com o arco-íris,

Pontuando o texto da dor com reticências

Que nada mais são que um abraço apertado

Camuflado entre pétalas de cerejeira


Pra o você que me lê, que meu abraço apertado

Possa ser como o abraço de uma piscina enchida com liberdade

E um algo de enxerimento, quem sabe.

10 de abril de 2021

Poema de reação a um dia de chuva (ouroboros)




Foto: Cláudio Eufrausino



Talvez a melhor forma de achar a lindeza do você que me lê

Não seja descrevê-lo, mas sim escrevê-lo

A descrição cai no erro de achar que todo o cenário do crime

pode ser reconstituído num quadro só

E talvez tenha a pretensão de que esse quadro seja 

Um retrato fiel, eterno e imutável da verdade plena e inesgotável


Quando escrevo a beleza do você que me lê,

Nela cabem os bocejos e também os ensejos que ele cria

E os carinhos que ele faz sem usar as mãos

Ou as buzinas que tocam do lado de fora

E uma ou outra pequena dose de crueldade 

Que escapa pelas brechas da contradição


Quando eu tinha vinte e poucos,

Minha coluna era bem menos ereta

E eu tinha uma coisa meio desengonçada

Corroborada por 6 graus de astigmatismo em cada olho

Meu eu de agora (?) fica olhando esse outro eu

Pela janela dos ventos da eternidade

E, de repente, vejo meus três eus: o do aqui-agora, o do lá-outrora,

E o do limbo-aurora: todos os três achando você lindo


Mas, mesmo assim, se você esbarrar com meu eu de 22 anos por aí,

E quiser segurar a mão dele

Ele vai te amar até que o eterno retorno vire apoteose dos tempos

Ou vice-versa

E se quiser me abraçar

O avesso do para sempre

Vai se encontrar com o sol de um novo dia

Isso é uma maneira destemporada de dizer

Que o motivo de eu escrever tantas poesias

É pra entregar ao você que me lê

A chave de ouroboros de todos os multiversos


Minha postura deu uma melhorada que não sei dizer

Se foi básica ou ácida

Mas várias vezes meu peito se esquece de ficar aberto

E troco os pés por mãos atadas

Virando abóbora no meio do baile

Espero que ele goste de mim assim mesmo

Ou pelo menos goste de abóbora

Espero que ele escolha a mim pra pisar os pés dele sem querer

Quando eu estiver dançando com ele e também contra ele 


Sei que pode haver vários reis, vários nobres

Escorrendo títulos de nobreza da toga até o toba

Nada disso enche o meu nariz de folhas


Porque é o você que me lê

Quem eu aceito que me tire pra dançar, que me ponha pra lutar

Com ou sem título, ele é o (pre, con, inter, para, meta)texto

Que melhor me lê e me inexplica


7 de abril de 2021

Poema da ligação que não se quer encerrar

 


Foto: Karla Vidal



A expressão mais íntegra do eu mesmo que consigo ser

É caligrafada pela chegada do você que me lê


Quando ele chega,  a poesia do meu eu com 17 anos 

Finalmente acha seu abraço-concha

E ajuda a represa do tempo a respirar aliviada 

Dando-se de presente um traje (ultraje) de queda d'agua

E reluzindo a pérola do meu eu de 40, gestada ao ar livre


Invento maneiras de metaforicamente

Encerrar a ligação por último

E dizer o que a flor diz

Quando se disfarça de nascer do sol

Pra aterrissar nas asas do olhar de quem se ama


Esperar por ele motiva minha razão

E locomotiva minha emoção

Reencontrá-lo faz uma hora

Ter o mesmo valor da vida inteira que tenho pela frente


E quando meu sentir percebe que ele 

Sutilmente enfrenta a flecha envenenada dos tabus

Pra estar comigo

Cada dia vira um jeito de achar, sem precisar de lupa,

Pistas de um caminho que não se cansa

De andar com ele de mãos dadas


6 de abril de 2021

Poema a uma criança índigo-cristal

 


Foto: Karla Vidal


Pedir a Deus pra saber se o você que me lê gosta de mim

Desnecessário. Porque o gostar é um idioma

Que faço gosto de inventar com ele a cada encontro

E de reinventar caso haja algum desencontro


Quando estou correndo e sinto a chama

chamando minha superação pra sair em busca de novos muros,

Peço ao Espírito Santo que ache em cada sonho,

Insight e invenção do você que me lê

Potência para esculpir fogo suave e abrasador


E faça o sétimo sentido ser o o despertar de cada pensamento

Palavra, ato e missão dele


Agradeço a Deus por ter conhecido,

No você que me lê, uma criança índigo, 

Que consegue ser ao mesmo tempo 

Uma criança cristal avant-garde


Espero que ele aceite

Que eu vista minha melhor calma

Calce minha mais bela autonomia

Me perfume com o mais discreto ardor

E me convide pra deixá-lo ser meu tácito dono

Com a radiante impropriedade que uma criança

Índigo-cristal possui








2 de abril de 2021

Sobre o dia da mentira e a semente galáctica

 

                                                              Foto: Karla Vidal


Nunca soube brincar de 1º de abril

Por isso, só deixo um poema me escrever nessa data

Se for pra ser de verdade

Não a verdade enunciativa, que carrega estilhaços de mentira

Herdados das tantas minas nas quais nossa trajetória pisa


Mas, a verdade que é caminho e vida, simplesmente,

Como a música:

Nossos dedos tangem as cordas do instrumento,

Nós ouvimos sua imagem acústica:

Seu sentido é ferida e cura que não se pode atingir

É como estar perto, estando longe

E, mesmo invisivelmente, deixar quem se ama

Abraçado, 

Carregá-lo? Não é bem isso:

Regá-lo, imperceptivelmente,

Pra que a vitória que ele é germine

A importância de ele existir

Sem carecer de prêmio, título 

A humanidade dele é o húmus e o humor que bastam


Não posso ir adiante sem correr o risco de ter de mentir

Pra mostrar o quão verdadeiro é o que sinto pelo você que me lê


Qualquer brincadeira que eu faça

Se for pra ele ficar triste: não quero

Não quero fazer nada

Que seja pra ele deixar de ser minha melhor companhia no recreio

De, mesmo saído mais cedo do colégio,

Querer esperar por mim pra gente ir juntos pra o destino incerto


Falo isso não como adulto,

Mas como semente galáctica amarela:

E, como semente, não se mente

1 de abril de 2021

Poema da canção-Cinema ou rodamoinho

 

Foto: Karla Vidal


Minha inspiração respira aliviada

Quando o você que me lê a visita

Ele tem livre acesso à alma que mora na minha calma

E lapida o fôlego da imoralidade do meu corpo


O homem comum que vejo se descortinar diante de mim

Faz o meu desejo ter vontade de unir meus pés com os dele

E rezar uma prece onde Amém, orgasmo e amizade

Não sintam medo de ser trindade


Ver sua existência que me acena

É filme dos mais emocionantes:

Não canso de assistir, inclusive

Quando a tela são meus olhos fechados


Gosto de ficar esperando pelos pós-créditos

Pra ler no seu ollhar o reflexo do meu silêncio

Lembrando que quero ficar com ele

Até ser assinado o tratado de paz 

Entre meio, fim e começo


Sei que ele tem coragem e força o suficiente

Pra carregar nos braços meus eus desastrados

E abraçar os tropeços dos astros

Que tentam me reger


Poder lutar balé com ele é um sonho

Do qual minha realidade não se cansa


Prometo que não terei ciúmes

Dos anjos que quiserem dormir com ele

Desde que eles preparem o leito onde o seu riso

Possa correr sol,

Tomando emprestado o verso de uma canção chamada Cinema

Só pra desejar que ele possa dormir o sono dos justos

Em pleno rodamoinho
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