6 de março de 2023

Presença

 



                                              Parecia uma flor - Foto by Karla Vidal


Acho que sofro de insuficiência de mim: crônica, contística, fílmica, novelística...

Mas, assim mesmo, insuficiente, tenho um coração que não quer desistir 

De queimar as largadas ou perder a corrida pra ter sua presença ao longo do percurso


Por mais firmes que sejam minhas bases, quando você chega, sem perceber, eu levito

E as condenações do Levíticos se desescrevem


O meu estar presente se torna cada vez mais ultrapassado quando sua presença

Desmente a teoria dos conjuntos: 

Mesmo disjuntos, nós temos pontos de união e intersecção, e, se for pra ter

O vazio como sub ou sobreconjunto, é você o vazio que quero que me preencha


Sei que cada baile que travo ou cada luta que danço são sobre mim,

Mas, também é sobre mim não ser capaz, propositalmente,

De querer que deixemos de ser presente um para o outro


O ciúme é um efeito colateral inevitável do que não tem remédio e segue irremediável:

A procura por você, que não canso de reencontrar


Por mais que eu evolua, meu sol quer recostar

Seu nascer e seu se pôr no horizonte do peito

Do você que escolho colher, mesmo em suas fases desérticas


Até quando você me chateia, a segunda voz do coral do meu ser

Agradece por você existir

E a primeira voz é amar você em silêncio pra todo mundo ouvir:


Meu desejo por você não precisa de desespero nem de guerra

Porque sinto

Que meus dias são como campos minados de horas marcadas

Pra estar com você, independentemente de a França pedir 

Pra apagar as luzes da cidade ou as reluzes do firmamento


Minha falta de tato não quer desistir de, de alguma forma, tocar você



16 de fevereiro de 2023

Poema sem título novo 1




                                                            Foto: Karla Vidal



Estou trabalhando no projeto de um novo tipo de namoro

Onde a troca de presentes não precise ser mais que perfeita

E o tempo deixe de ser moeda de troca


Nosso empreendimento já sai na frente

Porque conseguimos nos dar as mãos através do olhar

E nos inundar através das mãos


Minha visão periférica faz de conta que não está olhando de frente pra você 

Mas, quando se trata de te admirar sou como ciclopes

Porém, mesmo sendo obrigado a surfar às cegas em vendavais

 Nunca seria capaz de acreditar que você se chama Ninguém


Meu corpo vive cheio do pólen que sai da tua Rosa ciclônica 

E fabricar mel é um jeito de encontrar teu beijo onde não estão seus lábios


Quando te chamo de Você, o pronome vira nome próprio

Minha perspicácia fica quase à vontade pra se sentir idiota

E meus receios ficam prestes a desaguar Via Láctea

Qualquer um dos meus incômodos estará pronto pra você chegar e descansar


9 de janeiro de 2023

Elogio

 


Foto: Karla Vidal



Há quem diga que elogios são

Relógios sem acento, sentados no banco dos réus

Por isso, pensei que fosse melhor talvez coroar você

Mas, deixar o sol sem coroa

Não faria jus ao dia-a-dia 

Que se desesconde no seu sorriso que não ri [não riso que sorri]

Como mãos que, brincando com a luz,

Desenham o coração, ou, quem sabe, o pulsar [que não expulsa sua sombra]

A cor

A ação;

Redesenham a marcialidade;

Redefinem a senha de acesso às sementes

Você acha em mim a chave que  abre

As prisões siberianas com suas guerras [bailes] de segunda [primeira grandeza]






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