30 de abril de 2024

O "se" como estratégia de xadrez mental

 


Foto: Karla Vidal


Diante de tantas mudanças, vou me permitir jogar um pouco de xadrez mental


Se for muito difícil pra você dançar comigo, mesmo que eu esteja numa galáxia distante,

Me desconvide do baile

Quebre o sapato de cristal antes mesmo que a fada madrinha o fabrique

Eu não tenho o costume de obrigar ninguém a dançar comigo


Se minha poesia incomoda, não precisa me dizer

Basta voltar no tempo e me desconhecer

Porque pra eu dessentir o que sinto por você

Não há como porque eu já escrevia pensando em você

Antes de sonhar que você existisse.


Se estiver arrependido ou preocupado com a opinião de algum mestre do universo,

Ou com o que tenha sido dito sobre mim,

Adiante o relógio ou inicie o baile à meia-noite pra que eu não possa comparecer: 

Pode aproveitar e convidar os falantes para amenizar o azedume,

Comendo doce feito com a abóbora que não teve chance de virar carruagem


Se sua opinião sobre mim for como a de Graciliano Ramos

Sobre o carcereiro que o ajudava quando ele foi preso político,

Me desescreva de sua biografia


Eu não acho mais que eu seja capaz de causar nojo,

Então, este "se" está fora de questão


Se meu olhar ou qualquer outro sentido meu incomodar você,

Eu aviso a eles

Pra irem embora na frente e mandarem a passagem pra meu coração ir embora

Um dia; depois

Porque, mesmo que nada mais faça sentido,

Meu coração ainda assim vai querer ficar com você quanto tempo for possível ou impossível


Se você tem dúvida de que é você quem escolho,

Não tenha

Mesmo que eu dê algo de presente a alguém

Meu presente-futuro é com você


Quando eu olho pra trás  ou para frente e lembro da hora do recreio...

Só você pra fazer meus recreios fazerem sentido

Só você pra me buscar na saída do colégio

E andar de mãos dadas comigo, mesmo que estejamos anos-luz distantes

É você que gosto de encontrar nas esquinas do meu pensamento

E que desejo ver se perdendo e se achando nas ruas do meu corpo


Sei lá que bexiga lixa é isso: você me chateia e, muitas vezes me desencanta,

Mas não quero que nenhum outro seja meu príncipe

Depois de saber disso, você pode se permitir desistir de mim


Se não for nada disso

Se você apenas se sente à vontade pra, dia sim dia não, 

Mostrar seu lado mais chato pra mim,

Saiba que eu acho você muito fofo quando está chateado

23 de abril de 2024

Sobre a programação neurolinguística

 





Me propuseram utilizar a programação neurolinguística para desgostar de você

Pensei nos programas que poderíamos fazer juntos

Pensei em você chegando junto da minha cintura, pedindo guarita no meu cobertor

Pensei em você chegando, permanecendo, se despedindo, voltando, se revoltando

Até quando eu me chateio, meu olhar que finge evitar você acha você lindo


A programação neurolinguística não conseguiu me tirar do seu colo

Não conseguiu impedir que o vento esculpisse sua lembrança em mim

Nem teve coragem de pedir ao meu sorriso bobo e discreto

Ou a minha cara de abuso que deixassem de emoldurar

O desejo que sinto; o desejo que tenho de ver você vencendo não como quem é capaz de derrotar,

Mas sim como quem conhece a rota que conduz à paz inquieta da alegria

O orgulho que sinto de você entrelaça meus dedos nos seus e deita meu rosto no seu peito


Você sempre poderá roubar da minha finitude instantes de eternidade 

Esse roubo não será crime porque parte de mim é inteiramente sua

Ser ouvido por você é realidade que vira sonho

Aceito namorar com você seja qual for a distância ou a proximidade

É muito gostoso o ter remoto e tremer quando você está por perto

Meus sonhos adoram ter como prefácio você me carregando nos braços


Não tenho nada contra a gratidão

Só tenho um pouco de medo que ela seja um pedido para eu deixar de gostar de você

Seu Sim faz meu espírito de luta revoar



9 de abril de 2024

Escolha


 Colagem de Karla Vidal


Quando o baile de ontem começou,

Estava receoso de que você dissesse que não ia me tirar mais pra dançar

No final, você só me desejou Bom Descanso

E, talvez, eu tenha ficado chateado e tenha dito: "Pra ti também."

Mas, foi coisa de momento: era pra eu ter dito: 


Pra você também

Você que escolhi e escolho

Que me colhe

A quem desejo e quero

Acolher


Não quero chamar outro de Você: que não seja você.

Se você é um nome próprio ou impróprio, não importa

Gostou da escolha que fiz?

Eu aceito você e espero que você me aceite também

Nossa cumplicidade possa seguir dispensando testemunhas


Receba-me com minha dança

O ardor de quando chamo você 

Não tem como ser por favor o que é por comovente fervor

Meu corpo de delito é a favor de que as próximas contradanças

Sejam com você


Espero você vir me buscar na hora do recreio e na saída do colégio

Espero por você na chegada e na partida

Com meu espírito de luta e meu corpo de delito


É provável que você, com um olho nas costas, tenha anotado meu sorriso secreto 

Sentiu o cheiro remoto do perfume que se passou por mim?: foi a Roma e pegou uma conexão no vento

Pra chegar até você


Parece que já estou invadindo o próximo poema...

Até o próximo baile


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