25 de outubro de 2020

Poema da volta à vida quase normal

 

Foto: Cláudio Eufrausino


Acho que estou pronto pra desejar Feliz Ano Novo 

Por cada ano em que ainda não o conhecia 

E por todos os anos futuros

Em que te reconhecerei


Estar longe-perto de você

Faz muito do peso do passado criar asas de beija-flor


Seu carinho misterioso e prático

É como um chero aliviante

no equador da minha bochecha

Ou um nó de liberdade de amar

Na rendição escondida em meu cangote


Não quero me tornar só mais uma estatística da sua saudade

Ou um algoritmo da sua rede

Mas, assumo o risco de me tornar invisível

Vendo você feliz de volta ao mundo quase normal


Cada hora com você

É uma metáfora despretensiosa do para sempre


E, no abraço desse você que me lê,

Posso dizer à queda que ela não precisa ter pressa de cair

E ao levantar que ele não precisa ser preza do medo de se erguer


E pensar que a luz da imagem que abre essa postagem

É só um decalque da luz que se encontra

No você a quem se quer bem


Não quero ir embora de você nas próximas três eternidades








17 de outubro de 2020

Sobre as gestas sem proeza e com sabor de framboesa


Foto - Cláudio Eufrausino


O sol do nosso sentimento às vezes parece se ausentar, 

Mas, como observa Santa Teresinha, ele continua, na verdade,

Brilhando entre as nuvens


Quando meu eu estiver meio que distante ou frio ou disperso,

Não se canse de esperar pelo eu que chegará sem nunca ter partido

Carregado de carinho,

De abraços e beijos cifrados em gestos cotidianos e gestas sem tanta proeza,

Mas com sabor de framboesa


Os dias de luta selados ao seu lado são um refrigério:

Pela luta e pela arte, mas muito mais pela existência do você que me lê

e pelo fato de essa existência me fazer companhia


Sinto seu calor quando estou descoberto

Pela colcha de atalhos e erros que me envolve tantas vezes

E desejo recostar a cabeça no teu peito

Pra tentar decfrar em quais batidas do seu coração

O motivo de você sentir orgulho de mim

Respira baixinho ou prende a respiração

Enchendo seus pulmões de desprendimento


9 de outubro de 2020

Sobre a lapidação da chama

Foto: Cláudio Eufrausino


Não busco uma metade

Porque o você que acho lindo

Pode ser fração própria, imprópria ou aparente

De qualquer forma, ele é íntegro e inteiro

No que faz e refaz


E me sinto à vontade sendo índice de indeterminação

Na companhia de um você que é doce, sério e transparente incógnita


Ele já faz parte da 

Feliz-turbulenta tentativa de viver nesse mundo

E desejo emprestar-lhe algumas falhas e bloqueios

Pra que ele, artífice, ajude a lapidar minha chama

E minha nudez


Eu não poderia desistir

De quem conserta minhas asas

E desconcerta os impossíveis 

Que fingem fazer parte de mim

Isso o faz importante de forma única

Sem rival


7 de outubro de 2020

Reflexão filosófica sobre o dar e levar um fora




Fote da imagem: Les mots clefs




Tentei ser sutil dando o que se chama de “fora”
Numa pessoa que disse que gostava de mim na rede social que, sem perdão,
Sempre mostra a outra face

O problema é que essa pessoa parecia estar por fora

De que ela não era o você que ajuda

Meu corpo-e-mente a encontrar sua verdadeira postura 


O fora saiu pra dentro de mim

E me olhou como um espelho

Que troca de lugar com o objeto que deveria refletir


Vestido de interrogação,

Pensei se não estaria sendo eu também

Um indiscreto mendigo

Fazendo malabarismos no sinal amarelo-vermelho

Com os ouros da paixão, amor, carinho, atenção, ternura

À espera de receber

Sem declaração ou imposto, a restituição do troco

Numa moeda que não precisa se preocupar em ser a mesma


Tive medo de que meu querido você

Se sinta mal com esse gostar

De que sinta vontade de que eu tenha ido embora

Antes de ele perceber que sente essa vontade

De que queira plantar a nota dó como uma mina

Entre as penas de minhas asas de Pégasus


Tenho medo que ele ache que sou digno

Somente de pena

Quando sou digno de pena e espada

De que ache que sou santo

Quando me quiser devasso

E ache que sou intruso 

Quando ele precisa estar recluso

Ou que sou medroso quando ele precisar da minha coragem


Tenho medo de que ele ache que pode me perder

De que a vontade de ele me abraçar em seu beijo

Se desencontre de mim

Como uma técnica marcial que se atrasa ou adianta

Pra o encontro com o maai (de ais)


Tenho medo porque perto do você que me lê

Não sinto medo

E perder esse não sentir medo

Ou esse estar perto de você

Apavora qualquer coragem


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