30 de setembro de 2020

Não há de quê

Foto: Cláudio Eufrausino

 


A resposta ao agradecimento

Poderia ser simplesmente: Por nada

Mas, de repente,

Minhas mãos tocam uma canção no vácuo

E despem a gratidão pra transformar em abraços e chêros

Toda precaução e reserva do você que me encanta 

Também quando me desencanta

Ou me decanta; banindo de mim

Tanto de não e de impossível

Que a vida deposita em meu subsolo;

Permitindo-me me permitir


Não há de que 

Ter mêdor

Pres(s)a, demora, receio, cobrânsia

Porque o nosso haver é verbo pessoal

O bastante pra flexionar os tempos imperfeitos

Inenarrar os tempos mais que perfeitos

E receber o que o presente tem pra dar

Onde nada em troca a haver é obrigado

 

Espero que a gratidão não seja 

Um modo de se preservar distante

Mas sim uma senha

Cifra do não medo

Da sincera calma

Que é ir fazendo parte da vida do você

Que meu querer não escolhido

Não cansa de colher

Onde quer que meu tato ame



28 de setembro de 2020

Energia potencial de retorno/energia cinética de reencontro

 

Foto - Cláudio Eufrausino


Essa semana, independente de ter havido quarta-feira,

A sexta-feira me revelou sua identidade secreta

E ela se chamava saudade


Em conformidade com o princípio da conservação de energia,

O meu não ter estado com você converteu-se

Em energia potencial de retorno à espera de virar

Cachoeira de reencontro

Respingando nos arrecifes a garoa de uma terra longe-tão-perto


O ridículo que existe em mim como contagem regressiva

Para o lampejo do sétimo sentido

o desengonço que fertiliza as asas de Pégasus

Essas coisas, sinto que, a despeito delas,

O você que lê minha técnica vai continuar

Me tirando pra dançar


O não ter o que dizer 

Com seu e meu cabelo assanhado

Pelo vento da precariedade e do limite

Também faz parte da música

Que acompanha o desencontro entre nossos passos

E o encontro entre nossos descompassos


O você que, sem termos escolha,

Quero junto a mim no perto, no longe, no interdimensional

Na hora que passa em um minuto

Ou no dia fora do tempo

Me esperará (espero) no aeroporto

Porque já voa-aterrissa comigo em meus diferentes tempos


24 de setembro de 2020

O corpo inconsciente e o desafio

 

Forte Orange - Ilha de Itamaracá
Foto: Karla Vidal

Meu corpo se cohecendo 

Um se tocado por quem me lê

Vencendo comigo um inconsciente corporal repressor

Que tenta sequestrar meu peito aberto às tempestades

Minha espinha ereta diante da cachoeira


Escolho quem me desafia

E espero que ele não tenha medo de ser escollhido por mim

Porque quando ele chega o coração do meu coração acelera,

Mas o nome da minha alma passa a ser calma


Tenho vontade de de vez em quando

Descontar em quem me desafia

O desejo de que ele tenha o melhor que existe

Depois do antes e antes do depois de ele ir dormir


No meio do futuro incerto

Poder olhar você que sabe que é o meu você (espero),

Enquanto dorme,

Será como um ipê florescendo no canteiro do talvez

Mais decidido que o Assim Seja abriga


E deitar no abraço de quem me desafia

Será sombra aconchegante para o Faça-se a luz


Falo sobre o que será

Porque o já é é maravilhoso

Mas, o maravilhoso acha tão bom quando

Tem chance de dormir abraçado com o ainda melhor


20 de setembro de 2020

Poema que pode ser lido de cima pra baixo e de baixo pra cima




Obs.: Quem for ler esse poema no celular, deve colocar o celular na horizontal para fazer sentido.


Escrevo-o também pra o libertar nesses versos

O medo que teria potência pra dominar os anversos e universos

Medo de ser visto só como ilustração da placa “Mantenha-se à distância”

O Medo de ser visto só-mente


,Eles não temem o tempo que lhes for necessário 

Como quem se despergunta se deu a viagem perdida a um futuro onde nossos corpos

Corresponderão-se sempre


Gosto de ver a quem quero o melhor bem ter coragem

(Inter)Romper a bolha da neutralidade


Me mostra que sou adulto o suficiente para (res)guardar em segredo a esperança

A impressão digital de sua  acupuntural ofegância 

No pescoço da minha segunda intenção


Intenção que esvazia o inferno ao se descobrir firme e leve seguir em frente

É um farol à deriva no amar

Porque o que sinto e ajo é forte-pleno-sutil


É que quando o sentir é verdadeiro não há nada a desesconder 

Ao único que precisa compreender

O que minha finalidade sem fim tenta dizer

Quando lida também em reverso


17 de setembro de 2020

Teoria dos níveis de presença ou Os diferentes (ul)trajes da presença

 



A presença é feita de camadas

O estar presente de forma total é um limite

Daqueles que a matemática avançada finge entender

A Filosofia Existencial finge alcançar

A Psicologia finge tratar


É como uma clareira inacessível 

(acessível só ao som do pífano ou da epifania), cercada por formações vegetais

De diferentes densidades:

Essas formações vegetais são mais ou menos densas

A depender da combinação entre presença e ausência


O clímax da música está presente quando a música ainda está no começo

Ele está lá, na torcida pra que corra tudo bem

Com o andamento da música

Ansioso por entrar em cena, não para ser reconhecido como ponto alto,

Mas para abraçar forte a música que lutou tanto 

Que no começo era frágil: ninguém dava muito por ela

Mas com esforço ela foi crescendo até atingir o clímax


Depois, o clímax continua presente

Vendo a música desaguar para seu final

E o final também acaba descobrindo

Que não tem fim

Primeiro porque a música pode ser ouvida novamente

De velha e de novo

Segundo porque o fim de uma música

Se torna começo de outra 


O começo, o clímax ou o fim

São em um dado momento inspiração

Em outro expiração

Mas, são de uma forma ou de outra respiração


Tomara que angústia da ausência do toque, do abraço, do wasa, do kata, da dança a dois

Perceba o valor que a presença tem em seus diferentes níveis

Como os livros que continuam presentes em nós quando "paramos" de os ler


Só não pense que esse texto representa um conformismo com a ausência

É que quando a companhia é agradável, a gente quer torná-la presente

Até mesmo quando não é possível vestir o (ul)traje completo da presença









16 de setembro de 2020

Poema sobre a tentativa inútil e bela de ancorar no horizonte

 

Foto: Karla Vidal (@karlagvidal)



Escrever mensagens ou poemas é crer, em alguma desmedida,

Que se pode prever o futuro, ler pensamentos,

Tirar segredos do degredo, descontar raivas,

Perder as contas prestes a chegar no infinito

Chorar o melhor riso, rir o melhor choro

Amar e ser correspondido num acordo incomum

Há mar e ser co-perguntado

Orar por todos os poros, pegando emprestado a fé dos ateus,

A liberdade dos à-toa, numa toada que dedilha as cordas da galáxia do Pequeno Príncipe

E resfolega o acordeão desacordado

 

O poeta busca transformar o satélite natural da terra em fogo de arte e ofício

Tem hora marcada com o desconforto

E treina duramente para afiar suas falhas trágicas

 

Nessa tentativa bela e inútil de ancorar no horizonte, por meio da escrita,

Queria ter o elogio decisivo,

Mas só consigo desapontar os relógios

Em vez de dizer e ser salvo, digo e sou alvo 

 

Nessa tentativa inútil de ancorar no horizonte, por meio da escrita,

Queria ter o elogio decisivo,

Mas só consigo desapontar os relógios

 

Que o mar seja a mesa, a terra o bolo e o farol e os veleiros sejam luz com tons de wabi sabi

 

Ao se repetirem seus gestos,

Venço os cansaços da existência

 

Cada camada de sua presença,

Incluindo a proximidade com seu eu cotidiano,

É um presente

 

Que bom que há destino e acaso o bastante

Pra que nossos universos paralelos encontrem um ponto de intersecção

 

5 de setembro de 2020

TBT da lua de ontem


Foto: Cláudio Eufrausino



O ciberespaço travando

O céu de Recife pensando em trovejar

O céu de um lugar longe tão perto, que não consigo ver, mas pode me ouvir

A lua nos contando que é antônimo da distância

Um mundo que, usando óculos de degraus, 

Desafia a (e)vidência e consegue ser ainda mais bonito

E um eu que entende porque cachorrinhos

preferem a companhia de quem tem visão dos problemas


Ter companhia na hora de desembarcar no novo erro

É especiaria que tempera a luz, a escuridão, o tempo e o milagre

E me faz aguardar que a noite do sexto dia me chame

Pra ser uma alegria cada dia mais feliz

E fazer do verbo continuar o melhor presente


Se os erros antigos escaparem, 

Espero que a lua cheia que me visita no sexto dia

Me abrace em todas as fases do meu eu minguante


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