18 de maio de 2018

Bem mais ou menos que os meus trinta e poucos

Foto: Karla Vidal


Meus trinta e poucos estão chegando à puberdade 
Um sol que nasce no rastro de outro que ensaia começar a se por 

Hormônios sendo cortados por serras das russas 
Fazem meus olhos lacrimogenar 
E o corretor ortográfico insiste em transmutar outono em primavera 

Meu grande amor tem medo que eu saiba que ele chegou 
E vive se escondendo num futuro que, de tão parecer presente,  
Faz do tempo que passou um simples parágrafo 
Pronto para quebrar nas areias da boa e velha introdução 

A luz do sol fala Português 
Mas muda o temporal todo: 
Ré e fração 

Aprendo a nadar enquanto me afogo 
A faixa preta ao alcance da contramão 
Quanto mais pratico, mais capaz de ser incapaz me torno 
O topo é o princípio de um rolamento ladeira abaixo 
Porque depois dos trinta as asas dos anjos se descobrem paraquedas 
E a diferença entre céu e abismo é uma virada de olhos 

Meus gestos rudes dançam balé 
E os suaves cheiram a krav Magal 

O espelho não tem mais vergonha de ficar nu na minha frente 
Os aviões disputam vaga no meu en gard  
A passagem entre idas e vindas se estreita 
E tu, Che, és agora só mais um na lista dos meus ex 
Página capotada no meu e-grimoire 

Balzac não me representa
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