27 de dezembro de 2016

À primeira vista pela centésima vez ou o que significa daguerreotípico


Fonte da imagem: Freepik


“Será que com paciência ou por força do hábito, você me amaria?”
“Eu já te amo”

Eu já te amo e quero te esperar quando voltares da noitada
Pra contar ao meu abraço como teu ser feliz com os amigos
Adquiriu o hábito de continuar a ser feliz comigo

O teu Eu te amo de hoje será no meu apartamento ou no seu?
Acho que vou gastar a maior parte da mega da virada em Diesel (o combustível e não o ator cafajeste)
Para abastecer meus voos ao teu encontro

Quando vi mencionado teu sorriso adolescente por trás de um relógio de pulso
Meu coração achou motivo pra me apaixonar à primeira vista pela centésima vez
Você não precisa convencer os fotogramas de que é hermoso
Porque até tua charmosa indecisão daguerreotípica
É prova mais do que suficiente: da fiança e do crime

¿ Se um dia estivermos num lugar com um grupo de pessoas que diga que
Não tenho ninguém pra amar,
Você vai ter coragem de dizer: “Ele tem a mim”?

Faz amor comigo até meu nome correto brotar

Do teu silêncio

25 de dezembro de 2016

Considerações sobre a pequenez de Jesus


Foto: Cláudio Clécio


O Menino Jesus representa o poder do pequeno, do frágil, do desamparado
E que ainda assim é capaz de fazer a estrela mais brilhante se tornar coadjuvante
O ouro mais precioso, o incenso mais sensato e o perfume de maior valor
Não cabem a grandeza do pequeno Amor que teima em nascer
Onde não haveria lugar para

Jesus Menino visita nossos não-lugares
As portas fechadas em nossa cara
Nossos gestos pequenos, seja pela humildade ou pela mesquinhez

Um rei temeu um bebê desarmado
Porque ele trazia uma luz mais forte que qualquer derivado do núcleo dos átomos
Uma luz gerada da intersecção entre o vibrante não-lugar da esperança e o sempre-lugar do Amor

Esse ano, eu te trouxe, de presente, muita diplomacia cautelar, muito estar no fio da navalha, entre a radiante verdade e a tal da pós verdade e também muita birra misturada com Aliás...

Meu amiguinho, tudo que é pequeno e frágil e sangra e ensurdece diante dos mísseis
Tudo que é deserto e anseia pela força milagrosa de uma gota de água
Te exalta

Os brotos de sempre-viva elogiam teu sono
E as pradarias se deliciam com teus sonhos
Pouco importa se você nasceu três anos antes ou depois
E, sendo Maria, virgem ou não,
Todas as mães, que dão à luz com o coração,
Te ninam

Rebobina a Estrela Guia
Porque o reencontro não é inimigo da saudade
Prazer em conhecê-lo

Feliz o Natal que mora no teu nome.

24 de dezembro de 2016

Mensagem de Natal de Santa Bárbara e São Januário a Vladimir Putin e Donald Trump





(Des)prezados,

Sou Bárbara, chamada de Iansã pelos cultos iorubanos. Vivi no século III, na Nicomédia, onde hoje fica İzmit, cidade turca próxima à divisa entre Instambul e Ancara.

Fui martirizada por me recusar a renegar a fé cristã.

Contudo, escrevo não para tratar de questões religiosas, mas sim pela necessidade de rememorar como forma de manter acesa a chama da razão ameaçada pelos fantasmas que saem dos abismos da mente humana para lhe roubar o oxigênio.

Meu pai foi obrigado a me matar, pouco antes da execução da pena à qual fora condenada, que seria a decapitação (por isso sou retratada segurando uma espada. É costume cristão retratar os mártires apresentando pistas do seu martírio.). Se não houvesse feito isso, meu pai teria de assistir à filha ser estuprada por soldados romanos.

Dezoito séculos depois, as mulheres do Oriente continuam conhecendo o terror vivido por mim, como exemplifica Alepo, onde elas se suicidam para não serem estupradas em meio à guerra civil.

Sou Januário, da Itália,  e também fui martirizado, no século III, por resistir à perseguição romana. 

Sangue meu foi guardado num receptáculo e, segundo a tradição católica, liquefaz-se três vezes por ano. Quando isso não acontece, é prenúncio de grandes catástrofes, a exemplo da peste negra no século XVI e da Segunda Guerra, em 1939.

No último dia 16, meu sangue, contido na relíquia, não se liquefez.

Eu, no Oriente.  e eu, no Ocidente. Ambos vítimas do poder que tenta colonizar o espírito, ignorando as fronteiras da dignidade humana. 

A violência e a guerra são o estertor desse esforço brutal de colonizar o incolonizável.

O momento atual conhece refugiados que batem à porta do Ocidente e os refugiados que começam a sentir necessidade de se trancar nas celas em que o pânico está tentando transformar os países europeus...

Refugiados que fogem para fora e aqueles que fogem para dentro... E as redes sociais fingindo o milagre da multiplicação de peixes no deserto.

Há pelo menos 500 anos, como lembra Renato Janini Ribeiro, a imagem do Oriente vem sendo demonizada pelos países ocidentais. Isso sem falar nas intervenções que reconfiguram fronteiras e realocam etnias, gerando conflitos que, neste momento, valem-se do terrorismo para reivindicar direito de voz aos fantasmas.

O fanatismo dos extremistas orientais tenta se vingar desses séculos de publicidade negativa imposto pelo Ocidente, empregando o Terrorismo como "direito" de resposta . E o Ocidente insiste em combater o Terror dando continuidade à propaganda de deturpação da imagem do Oriente.

Se amor com amor se paga, terror com terror não se apaga. Enquanto o Ocidente achar que suas vítimas são mártires e que as vítimas do Oriente são estatísticas, esse circuito vicioso e maldito não terá fim.

Eu, Bárbara e eu, Januário, ambos continuamos sendo martirizados pelo poder que ignora a individualidade e a dignidade em nome dessa oposição mesquinha e miserável entre Ocidente e Oriente, replicando a falida divisão forjada pela Antiguidade Clássica entre Cultos e Bárbaros.


Enquanto o espelho do Ocidente não dignificar os habitantes do Oriente, o fantasma da guerra não achará descanso para seus ossos patifes.

Feliz Natal!


Pátria Celeste, 24-12-2016

Bárbara de Nicomédia e Januário de Benevento




9 de dezembro de 2016

Prece (pressa) a Nossa Senhora da Conceição e da Boa Viagem


Morro da Conceição - Recife
Foto: Clécio Vidal


Nossa Senhora, que tiveste as portas trancadas prestes a dar à luz,
Ilumina as portas que se abrirão para quem, desengonçadamente,
Entrou no meu coração com a precisão de um Miss you

Conversa com ele para que seus ouvidos não fiquem ruborizados quando
Ele se permitir ser, por mim, chamado de Amor

Nossa Senhora dos Desabrigados, que haja vaga pra mim na hospedaria dele,
Quando o meu desterro me permitir dar um pulo nos seus verdes prados e campinas

Pede a Jesus para encurtar a distância entre o nordeste e o sudeste
Lembra a quem amo, mãe, de me convidar a visitá-lo e não esquecê-lo

Nossa Senhora do Retorno, compõe a partitura de uma vitória
Capaz de trazê-lo de volta o mais breve possível
Mesmo ganhando um pouco menos

Nossa Senhora do Aeroporto, que ele queira que meu coração partido esteja presente para buscá-lo nas suas idas
E meu coração inenarrável nas suas chegadas

Que antes de ir, ele possa estar a sós comigo
E tenha coragem de me chamar de Amor
Plantando um segredo que fincará raízes na minha saudade e na dele

Nossa Senhora das Dores, consola essa esquina do meu coração
Onde uma espada insiste em fazer ponto, caftinizada pela distância

Nossa Senhora da Boa Viagem, que a contagem regressiva para o Ano Novo,
Possamos ele e eu fazê-la em japonês, em segredo, embebedados com vinho do milagre

Nossa Senhora da Conceição, que os amores não tenham medo nem vergonha de nascer
Que venham à luz, ofuscando os olhares tacanhas e mesquinhos
E vencendo as trevas das preconcepções

Nossa Senhora da Liberdade, que haja, na independência dele,
Horário disponível para se render ao meu abraço

Nossa Senhora dos Desígnios,
Não seja a minha vontade, mas a do amor e da felicidade

5 de dezembro de 2016

A um Labrador meio vira-lata



Fonte da imagem: Fotos Wiki


Teu sono é lindo e, horas atrás, ficou ainda mais
Com a franja de sonho caindo sobre tua testa

Uma pipa ou, quem sabe, um catavento, airou um sentimento grande, porém sutil, dentro de mim
Uma bomba cuja explosão quer ser capaz de aleijar os gatilhos, descair aviões
Ressuscitar poetas

De mãos dadas contigo teria força e coragem de sobrevoar a linha do tempo, transformando em jardins de azaléias/cerejeiras
Os campos de extermínio, as galés, os tumbeiros, as senzalas, as trincheiras,,,

Você é mesmo um cachorro, um labrador bobão e fofo
E como uma corrente de ar faz meu coração sentir vontade de ser pulmão, 
Uma destemida Amazônia, que prefere a insônia a perder a chance única de te assistir
enquanto Orfeu toca Luar do Sertão

O desejo de você ficar somente é vencido pelo desejo que sejas feliz onde quer que o vento te leve
Se mentes, acho que um pouco
Porém, és mais semente que transforma meus tato, olhar e os etc em terra fértil para germinar sentido

Esses dias, fui feliz sem entender direito por que (o melhor modo de ser feliz, parece-me)
O teu jeito tímido de se convidar a transformar meu deserto em festa
E me dar cartaz: talvez tenha sido por causa disso

Queria ter convencido meu sonambulismo a me teletransportar para teu abraço fetal
Ou meu dom telecinético a arrancar do teu corpo a toalha de banho e a túnica de pudor besta

No teu desembarque, fiquei sem entender
Teu carinho telefônico visitava outra pessoa
E colocava meu coração em queda presa
O paraquedas do desamparo brotou
E o cair em mim recebeu o aplauso cortante de ondas sonoras disfarçadas de nunca mais
De não estar nem aí

Mas, você havia sido tão real e presente
Corajoso e inteligente por ter escolhido minha companhia
Porque eu valho a pena
Valho mais do que o  medo, vergonha ou nojo, talvez
Que as opiniões hipócritas de outrem

Onde está a  nova chance de
Descansares no meu colo acolchoado com amanhã doce?
É necessário reciprocidade a gosto, pero sem pirangagem, pra ensinar o sentimento
A jogar fora a receita e se entregar ao sabor

Espero ser bonito o suficiente: não pra você, mas pra mim
Tá bom! Pra mim e pra você

Você sabia que a letra de Borbulhas de amor é de Ferreira Gullar?
Aprenda com o poeta sobre como o eu que se esconde em você
Pode  me dar uma cantada sem perder o ritmo


Só não consigo evitar que sua tentativa desnecessária de me desiludir me excite
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