5 de março de 2025

Poema de Carnaval ardentemente calculado

 

Foto: Clécio Vidal


O Carnaval reforça minha convicção de que existe mais beleza no mundo

Do que os cálculos fazem supor


Em suas raízes, a palavra Cálculo significa Pedra 

E, se não for assim, que o seja nesse poema:

Agridoce margem de erro


O calculismo pode induzir a achar tudo feio,

Com exceção do que é eleito para ser perfeito

Para desfilar no alto da alegoria que não sabe o que é pisar o chão


Talvez seja isso: o carnaval me mostra beleza onde se pisa o chão

E que eu não caia na tentação de elogiar a miséria que desumaniza, 

Reduzindo a beleza ao conformismo: a achar que tudo está onde deve estar


As batidas do Maracatu, do Frevo, do Axé

Sacodem o borralho e desescondem príncipes e princesas

Na passarela-múndi, tem lugar para belezas nunca dantes vistas desfilarem

Belezas que são empurradas para debaixo do tapete da história


A beleza do carnaval mostra leões brotando fora da selvageria

Lanças emergindo fora da guerra, para ferir a tristeza

Ridículos sendo mais sublimes do que sonha a vã prosperidade teológica


Decididamente, não é possível enxergar a beleza que o carnaval desesconde

Quando se está num camarote de marfim instalado no coração de Marte

Por mais próxima e privilegiada que seja a visão,

Ela precisa pisar o chão da folia [alegria, loucura]

Precisa se tornar indigna o bastante pra enxergar a beleza que não é herança 

Nem foro privilegiado

Beleza que prefere um mundo cheio de bijuterias que valem

Por sua criatividade e empenho

A um mundo onde só vale o que é ouro e prata: tristes e poucos


A deusa Atena - do bom e justo combate - prefere as bijuterias

Dizem que ela puniu Aracne, por inveja: Fake News

Ela e Aracne são uma só: e muitas

Porque na Casa do Senhor há muitas moradas, namoradas, namorados e namorades

Namor que durma com uma onça dessas!


Toque de Midas?

Toque de mídias?

Me basta o toque do meu Você

20 de fevereiro de 2025

Caligrafia



Imagem gerada por Karla Vidal


Como se tudo que eu calar pudesse ser usado contra mim

Como se o lugar reprovasse minha matéria

Me regurgitasse antes de me provar


Não consego aprender a técnica de estar aí como se eu não existisse

Estou com saudade


Será que a perfeição do chão encerado (encarcerado?)

Conseguiu se recuperar das marcas das pontas dos meus dedos?,

O que teria acontecido se você não tivesse achado a paciência?


O nome de alguém não vale mais que qualquer caligrafia?


Estou com saudade

Tem momentos que olho pra lembrança das peças de palha...

Elas se encaixam perfeitamente no tabuleiro [no tabu]

Mas, dentro de mim, ainda seguem desencaixadas


Será que eu amar você é (foi?) o que fez você não achar

A Paciência que estava caligrafada bem diante de você?

Estou com saudade


A saudade é uma caligrafia que o tempo reescreve sem conseguir apagar









29 de dezembro de 2024

Feliz Oceano Novo!

 

                                         Foto: Cláudio Clécio 



O tempo....

Que alguns chamam de Ano

Podia se chamar oceano 

Com letra minúscula mesmo 

Porque os nomes maís bonitos 

São impróprios e não carecem de registro 


O Oceano não é, propriamente, novo nem velho 

Ele tem o mesmo sal das lágrimas (da terra)

E acolhe (colhe) (recolhe) a luz das rochas, dos faróis, dos sinais, dos satélites, da Lua, que brilha sem precisar competir com as estrelas e sem se envergonhar de absorver e redirecionar a luz do sol...


A Lua é a primeira praticante de Aikido 

E, em todas as suas fases,, treina, com as marés o cair no levantar


Plena ou minguante, a lua é a rua onde os sonhos moram (demoram) (comemoram) (oram)


A Lua é rua e seu  endereço é o sonhar que não é dela

O que falei até aqui não deve ter ajudado ninguém a chegar a lugar algum 



Paciência: a estação lunar não sabe ser ponto - nem de partida nem de chegada... É ciclo e reticências..


Peço que as esperanças sigam cantando nas soleiras das janelas dos Quartos crescentes e dos Quartos minguantes...


Obrigado, luar, por ser Quarto onde repousa o despertar 



Feliz Oceano Novo e Antigo 

Que tudo que seja mágoa mingue 

Feliz Lua (rua) Nova, Antiga 

Saudações a todos os tempos que se (rê)encontram no Oceano 


Não achei a droga dos colchetes no teclado virtual. Tive de abrir parênteses [poderia ter aberto chaves]


Bem, acho que isso é o que menos importa ✨

17 de dezembro de 2024

Poema de alguém que não é robô para alguém que não é um deus



Fonte da imagem: คอเกาหลี by Korseries 




Quando você disse que se eu decidisse partir, não poderia voltar,

Quase fui partido ao inteiro

Fiquei como uma semente que chega atrasada nas quatro estações

E, plantada na ausência de chão, vê o trem partir para lugar algum


Chegou, então, a segunda parte da sua declaração:

- Se você partir, não vai poder voltar, embora não seja o que eu quero: nem de longe nem de perto


Uma luz de fim de túnel embarcou na estação da consolação

Senti vontade de usar seu abraço como paraquedas,

De escalar seu corpo com o meu


Quando você disse que não queria que eu fosse embora sem me tirar o direito de ir, o ano de 2024 virou oceano pacífico

E desafogou uma chama serena capaz de transplantar céu entre você e mim: céu que não precisa abrir mão de seus acidentes de percurso


A paciência foi reescrita de uma forma ainda mais bonita quando percebi que, ao perdê-la, você não abriu mão de me reencontrar


Aquele aqui-e-agora rasgou tantas âncoras e desengasgou tantos farois

No outro dia, quando você me procurou pra saber se o descanso tinha me achado,

Eu tentei disfarçar, na neutralidade de um Bom Dia um Amo Você


Minhas noites esperam sua nudez me chamar, me acordar e 

Unir seu corpo ao meu, formando ideogramas que só o encontro entre respirações traduz

Espero que chegue o momento em que a língua que inventarmos brinque de ser brisa

E descubra em nós os pontos de encontro entre o prazer e a poesia.


Que alegria saber que você não quer que eu seja um robô

E que eu não quero que você seja um deus

E que não queremos entre nós o adeus


Eu gosto quando a saudade me faz lembrar que você está seguindo em frente

Escrevo porque sou teimoso, mas sei que não sou capaz de fazer as palavras

Expressarem o quanto torço pra que tudo de melhor aconteça a você


Espero que chegue logo o dia em que possamos assistir juntos A Culpa é das Estrelas

Nem que seja pra que você tenha a desculpa de cair no sono junto de mim,

Deixando-me treinar, no mapa dos seus corpos - o físico e o astral -, como ler, em braile, o sentido presente [passado-futuro] nas entrelinhas

Ok?



19 de outubro de 2024

Feliz aniversário, Vinícius de Morais!: cavaleiro de Pégasus

 

Arte: Masami Kurumada



O mapa astral me diz que sou 50% homem e 50% mulher

O amor me diz que 100% de cada uma dessas metades é inteira pra você

E como pensar em Geometria e não lembrar que o inteiro também é fração: fragmento, cicatriz

No dia de hoje, quero brincar de não me deixar vencer pelo espelho


Fico feliz em perceber que não é o seu órgão vital muito menos o tamanho dele que importam

Afinal, é o seu órgão vital que faz parte de você e não você que faz parte do seu órgão vital


Mesmo assim, a ideia de você e seu órgão vital pulsando dentro de mim me atrai bastante

Atrai porque pra você estar pulsando dentro de mim,

Necessariamente preciso estar abraçando você e ouvindo o roçar do seu batimento cardíaco

Ativando meu ser inteiro, poro por poro. E cada poro

É uma mina que explode pra gerar vida e reduzir danos


Quando digo  que quero você pulsando em mim, não falo de qualquer

você mas do Você que conhece o nosso segredo, que sabe que minha seriedade

E minha distância são só o traje bem comportado da estrela de afeto, desejo

E tudo o mais que arde e brilha e que é anti-bomba atômica 


Não tem luta nem descanso em que eu não me lembre de você


Todo este preâmbulo é pra dizer o quanto admiro a mim por

Ser capaz de sentir verdadeiramente coisas tão bonitas

Mas quero admirar a mim somente o suficiente para continuar lutando o bom combate

E tendo sede de justiça


Quero sentir raiva somente o suficiente para continuar lutando o bom combate

E tendo sede de justiça

Quero ter ilusão somente o suficiente para continuar

Lutando o bom combate e tendo sede de justiça

Topo o desafio de ajudar o mundo a se entender como um mundo em que, por menor que

Pareça o dia, tem espaço para que todos brilhem seu valor

Quero aprender com o Céu, que não cansa de acreditar que há lugar para que, infinitas

vezes, infinitas estrelas brilhem


Quando eu estiver dirigindo, e alguém me fizer raiva, no trânsito, quero que meu espírito

Continue capaz de se chatear só o suficiente para xingar internamente um insulto moderado.

Não quero ultrapassar a fronteira da raiva pontual e ingressar no terreno da manipulação do outro,

Do questionamento da dignidade do outro: não é pra isso que quero estar em trânsito

Estou cada vez mais convencido de que existem muitos tipos de beleza e que a beleza

Precisa de você para ser bela e não você precisa da beleza para ser belo

Senti falta de voar em direção a você e pegar carona pra irmos conversando: de

Lutarmos e quem sabe um dia nos amarmos

Hoje é dia do meu aniversário e devo estar desapontando meus terapeutas

Devo estar desapontando muitos e Você, em particular


Mas sempre que retorno pra casa do ser e Você está lá - de alguma forma -

Viajo sem sair do lugar por lugares de mágica realidade

Agradeço a Deus porque minhas lutas de hoje são mais luas: despreocupadas em ser sol e

Corajosas para enfrentar suas diferentes fases. Agradeço pela luz imprópria que habita em mim.

Afinal, a noção de propriedade está se tornando cada vez mais questionável


Seja bem-vindo: tempo de vida que me resta. Quero agradecer a mim por me aceitar

E não desistir do Eu Sou que habita em mim. Obrigado a todas as flores que me ajudam

A perceber que não sou somente a solidão dos narcisos e

Que meus ecos têm força pra se fazer voz


Vinícius de Morais nasceu no mesmo dia que eu e, nesse momento,

O verso dele me parece o mais contundente.

Como ele, quero que as anti-rosas atômicas, estúpidas - que tudo o que faz guerra - desapareça.

O único arrebatamento que desejo para o mundo é o das armas de guerra:

Lixo de estimação da espécie desumana


Minhas palavras estão começando a suspirar fundo. Em 2024,

Aprendi a nadar um novo estilo: o nado Peito, que achei que nunca conseguiria aprender. 

Senti saudades do Corcel 1

Feliz aniversário, Pégasus, cavaleiro da constelação de Cláudio e Clécio


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