8 de dezembro de 2018

Nossa Senhora da Santa Defesa, roga por Olavo de Carvalho e por nós

Nossa Senhora da Santa Defesa
A Glauco Cazé dedico este texto.

Doce e ardente Maria, que tiveste a ousadia de antecipar o primeiro milagre de Cristo, 
Os anjos se inspiraram no teu rosto capaz de fazer os soldados caírem por terra,  
Antes de irem remover a pedra do sepulcro 

Uma de tuas denominações é Senhora da Santa Defesa: espada erguida 
Pronta para desafiar e tirar o fio de todas as armas de fogo 
Parte da dor que aflige os corações humanos é absorvida pelas espadas que ferem o teu: Não preciso de certeza para crer nisso, Mãe. 

Escuto alguéns chamando outros alguéns de abençoado e abençoada 
E condenando quem diz que Maria é bendita 
Mas, se é pelos frutos que se conhece a árvore 
Como não seria bendita a mãe do Puro Amor 

Visita a ignorância de quem acha que Deus é senhor dos exércitos que promovem a guerra 
Afim de fazer o mundo se chamar imundo 

Deus é senhor dos exércitos celestes 
E não é necessário decreto ou apertar de botão para que galáxias explodam 
Não é intenção da força gravitacional estilhaçar famílias 
Galileu já sabia que a gravidade não faz distinção entre ricos, pobres, gays, negros, heteronormativos 

Nossa Senhora, que fizeste a luz resplandecer na lama do Paraíba, 
E segues mostrando que a escravidão é atroz 

Maria que, em silêncio, desdiz Olavo de Carvalho e diz Papa Francisco 
Nossa Senhora, que orvalhou os ramos e flores brotados no coração de Frida Kahlo 

Tu és anfitriã na festa do reencontro entre mães e filhos 
Amém. Amemos. 

18 de novembro de 2018

Procura-se (profere-se)


Casal de corujas sobre a cruz da igreja
Foto: Karla Vidal


E agora que os resíduos de ti, que ficaram em meu olhar,
Querem renascer como fênix: renascer sem sequer terem morrido:
E sem serem cinza, tendo em vista, que tua luz trouxe cores nunca navegadas por Dante
Ao arco-íris deste jovem velho peito?

Como queria que você visse um de meus vídeos e se lembrasse que eu serei o amor de sua vida
Aquele que se tivesse um pouco mais de coragem se convidaria a te dessozinhar naquela pizzaria

Você nem se incomodou com meu olhar insistente
Tua timidez até sorriu e faz quase três dias ressuscito, andar por andar,
Desta minha psquê da qual se enleva a dor

Nenhuma ordem ou progresso me impediria de te beijar em público
Até que a conveniência ficasse louca
E a hipocrisia cruzasse o Bojador

Calvino, por acaso, Deus não poderia predestinar-me aquele moço
Só um pouquinho?

Durante mais uns 60 anos ou até que coubéssemos
Num dos hiatos interdimensionais esculpidos pelo Dr. Estranho

Você, cujo nome não sei ainda, é culpado por essas belistres palavras
Cinzeladas pela madrugada

Minha esperança deverá passar um tempo
dormindo vestida com tua camisa
Tentando imaginar como convencer o vento a tocar a partitura do teu cheiro
Visto que tua visagem reinaugurou a partitura do meu coração
Em clave de pôr-de-sol

Por favor, algum Google Innovator aconselhe o Google
a inventar um filtro de busca baseado na memória
Ou o Facebook permita acharmos amores à primeira vista,
Sem precisar de chaves ou palavras:
Apenas com orações
Ou tão-somente a verdade incrustada em epifanias


14 de novembro de 2018

Stan Lee, o último filósofo do Iluminismo?


Uncanny X-men #251
Autores: Chris Claremon e Marc Silvestri
Stan Lee - publisher


Stan Lee foi, provavelmente, o principal “culpado” por uma hipótese que me persegue desde que elaborei o TCC e, se tudo correr bem, renascerá das cinzas na minha pesquisa de pós-doutorado 

Criador e recriador de mitos, no universo Marvel, iniciado nas HQs e consagrado no cinema, o americano traduziu, em formato de histórias de super-heróis, a dialética do Iluminismo, objeto de reflexão dos teóricos da Escola (de pensamento) de Frankfurt na primeira metade do século XX 

Correndo enorme risco, podemos resumir a noção de dialética do Iluminismo –  em alusão ao movimento iniciado no século XVIII - como o conflito entre a emancipação e o terror no coração da história 
contemporânea. História mesma que apostou na ideia da evolução contínua, mas, em nome de nobres ideais (razão, igualdade, liberdade e fraternidade, ordem e progresso) foi capaz de produzir horrores como os fascismos e as guerras mundiais 

A figura do super-herói passeia ao longo da história, tomando emprestado luzes e sombras de heróis greco-latinos, escandinavos, dos cavaleiros medievais e principalmente do herói romântico, no qual habita a inusitada promessa de combinar o demasiadamente humano à centelha de divindade vinda até nós trazida por uma tempestade emanada do paraíso perdido 

A obra de Stan Lee, em particular os X-men, expõe a fratura entre luz e trevas na alma dos super-heróis, revelando o quão desgraçados podem ser os pré-requisitos para se ser alguém divino: a onisciência, a onipotência e a onipresença 

Os mutantes, criados por Stan Lee, não têm controle sobre os poderes como costumavam ter os heróis tradicionais a exemplo do Super-Homem, expressão ultra-idealizada do homem iluminista 
Os mutantes telepatas como Jean Grey são atormentados pelo dom de ter acesso indiscriminado ao que as pessoas pensam 

A personagem Vampira poderia se vangloriar de sua habilidade de, ao toque, extrair dos outros memórias, poderes e energia. Contudo, esta versão do toque de Midas, assim como no mito, aponta a frágil fronteira entre bênção e maldição. Vampira é condenada a não poder ter nenhum tipo de contato corporal com os outros sem fazê-los correr o risco de morrer. Além disso, ao absorver a energia vital alheia, ela vê mente, corpo e espírito ameaçados por ondas de esquizofrenia 

Os mutantes, ao contrário do herói clássico greco-latino, não representam a fusão entre o bom, o belo e o justo

Alguns, na aparência, poderiam ser encarados como representantes da normalidade institucionalizada, mas são perseguidos pelo que os faz extra-ordinários. Nesse contexto, não há mais muita diferença entre ser extra-ordinário e ser anormal, anômalo, amaldiçoado

Outros que, sob a égide dos padrões, seriam considerados corporalmente limitados têm habilidades prodigiosas. Esta surpreendente combinação terminam por mostrar como nossos juízos a respeito do que é prodigioso e do que é anômalo são assombrados pela ignorância, pelo fanatismo e pela hipocrisia 

Stan Lee foi um dos grandes responsáveis por ampliar a capacidade discursiva dos mitos e alegorias, que deixam de ser, prioritariamente, espelhos da autoimagem de um povo (os gregos, por exemplo)  ou ferramenta de doutrinação, a exemplo das alegorias medievais, e tornam-se plataformas de crítica e debate filosófico, desafiando, em tempo real, as certezas que tentam tomar conta das consciências e contribuindo para evitar que os fascismos e outros fantasmas ameacem as melhores invenções do Iluminismo: a liberdade e o direito humano de ser digno de existir 

Quem admira Stan Lee não pode deixar de ler a história X-men: Dias de um futuro esquecido, na qual o autor faz um paralelo entre os campos de concentração nazistas e campos de concentração de um futuro distópico no qual os mutantes são igualmente vítimas 

13 de outubro de 2018

Último debate entre os candidatos Messias e Cristo antes das eleições


Ecce homo by Antonio Ciseri



Último debate dos presidenciáveis

Mediador: Candidato Messias, é sua vez de perguntar. 

Candidato (s) Messias: 

Candidato Cristo... Mateus, um de seus seguidores, era cobrador de impostos do império romano. Como alguém supostamente idôneo admite a presença de um corrupto desses no seu partido? 

Candidato Cristo, o senhor nunca se casou e vivia cercado de homens, além de ser conhecido como um um homem doce e manso. Como o senhor, assim sem macheza,pode ser capaz de lutar pelos valores da sagrada família brasileira? 

Cadidato Cristo, o senhor é conhecido por se sentar à mesa com prostitutas, adúlteros e toda sorte de amaldiçoados, a exemplo de cegos, leprosos, ateus, macumbeiros, heterossexuais, mulçumanos, católicos, samaritanos, LGBTs, nordestinos, negros, sem-terra, sem-teto, beneficiários do Bolsa Família. Onde ficam os valores morais e conservadores da sagrada família brasileira diante da ameaça representada por sua postura? 

Candidato Cristo, o senhor deu água viva a uma mulher, samaritana, que se envolveu com cinco homens casados. E, mesmo morando no nordeste, ela anda espalhando que nunca mais teve sede. Após salvar uma pessoa desse nível, como o senhor continuará digno de se dar como alimento na sagrada Eucaristia? 

Candidato Cristo, o senhor por diversas vezes desrespeitou as leis judaicas, deixando de guardar o sábado. Como uma pessoa que não respeita a lei e a ordem se acha capaz de governar a nação brasileira, baseada nos princípios cristãos e onde Deus está acima de todos? 

Candidato Cristo, o senhor desrespeitou as leis romanas negando-se a pagar tributos a César. Como o senhor garante que não vai contrariar também os interesses do empresariado? 

Candidato Cristo, o senhor aconselhou um jovem a vender tudo o que tinha, distribuindo tudo aos pobres. O senhor vai continuar negando que é comunista e que quer fazer da presidência do Brasil trampolim para espalhar o comunismo por toda a América, instaurando a URSAL? 

Candidato Cristo, ao ver um de seus seguidores cortar a orelha de um soldado com uma espada, o senhor o censurou, devolveu a orelha ao soldado e ainda disse: “Não faça isso, Pedro. Quem com ferro fere com ferro será ferido”. O senhor é contra o direito sagrado de se ter uma arma e utilizá-la em legítima defesa? 

Candidato Cristo, o que o senhor tem a dizer sobre o vídeo que anda circulando nas redes sociais, mostrando o senhor quebrando as tábuas da Lei e proferindo insultos contra Moisés? 

Candidato Cristo, o senhor, ao ser interrogado pelo Governador Pilatos sobre o que seria a verdade, nada respondeu. Esta não é mais uma prova cabal de sua incapacidade de se defender de acusações de corrupção que há milênios são desferidas contra o senhor nas redes sociais? 

Candidato Cristo, o senhor é acusado de curar pessoas que deveriam permanecer doentes, tendo em vista que a doença é o castigo de quem merece ser castigado. Como o senhor explica esta blasfêmia? 

Candidato Cristo, como o senhor explica a delação premiada de um de seus seguidores que, por não aguentar a pressão, cometeu suicídio 

Candidato Cristo, o senhor foi preso, torturado, morto e ressuscitou e, mesmo assim, insiste em se candidatar, tentando seduzir eleitores indecisos. Quando o senhor vai se dar por vencido? 

Candidato Cristo, se o seu reino não é desse mundo, por que o senhor insiste em ser o Eleito? 


Mediador: Candidato Cristo, é a sua vez de responder. Tempo esgotado... 
Mediador: Candidato Messias, o senhor tem quatro anos para réplica: 
Candidato Messias: Se eu for eleito, ninguém terá direito a réplica ou tréplica. 
Mediador: Candidato Cristo, o senhor tem cinco segundos para suas considerações finais: 
Candidato Cristo: Não sou candidato. Meu partido é a liberdade, meu programa é a dignidade humana, minha constituição é a vida 
Mediador: tempo esgotado 

(Ouve-se o silêncio de um tiro)
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