25 de dezembro de 2020

Poema de Natal para os despossuídos


 



O que tenho pra dar dou

O que tenho pra sentir sinto

O que tenho pra ser sou


Tenho sem ter e o que não tenho me transborda


O que tenho não é chave

Nem busca fechadura

Nem porta

Mas, tendo ou não,importa


Porque se não houver céu

E o amor precisar de um lugar pra ir

Meu coração está a postos:

Motel de uma única estrela-guia

Motel, sim,

Porque é lugar onde o amor se faz


A traição, ao contrário do que dizem por aí,

É feita nos cartórios de registro de bens

Onde o amor se torna imóvel


Peço desculpas ao Menino-Deus

Por não ser tão prático quanto 

As doutrinas e as convenções desejam

Meu signo é de ar e não de terra

Mas não peço desculpas ao meu anjo

Nem ao você que me lê

Sou o que tem pra hoje

De graça

E não precisa agradecer

Feliz Natal!


19 de dezembro de 2020

Poema do Tomara

 

Foto: Cláudio Eufrausino



Quero compartilhar erros novos com o você que me lê

Até que o horizonte desista de ser ponto de fuga

E me encontre no seu colo


Tomara que, de sempre em sempre,

Você aceite os olhares apaixonadiscretos

Que te escrevo quando não há mais ninguém olhando


Ontem era sexta

Hoje, a temperatura é de 28º

E o planeta diário quer por que quer que 

Eu conjugue o verbo amar


Você esquecer de dizer o meu nome:

Tomara que tenha sido uma chateação passageira:

Só o tempo de tomar ar

(e devo dizer que foi muito importante pra mim

ter sido convidado pra festa

de inauguração da sua chatice)

Tomara que não seja vontade

De me ver indo embora antes de eu não ter chegado

Cogitar isso meio que faz

A tristeza apagar a coreografia dos meus passos


Se eu chegar a mandar você se danar,

É só uma forma de não deixar tão evidente

Que você sabe como ser mais único pra mim

Do que ninguém jamais foi


Os momentos felizes me fazem sentir saudade

Da sua presença: seja de qual tipo for,

Incluindo os novos tipos de presença

Que inventaremos juntos


Até a  internet às vezes precisa cair

Pra ficar um pouco sozinha

Quando você precisar ficar sozinho, 

Mas, como quem não quer nada,

Me quiser por longe-perto

Saiba que tenho coragem

De voar na sua zona de turbulência








 

8 de dezembro de 2020

A firme concepção de Nossa Senhora sobre a pureza da mácula

Foto: Cláudio Eufrausino



Nossa Senhora, a distância infinita é tão próxima com você

Meus segredos de amor, só você os sabe

Só a você os conto sem diminuir pontos

Só a você, nem adeus


?O que importa, Maria, se o chamo de amigo ou de amor, 

Se a verdade é que o amo?


Me deixa roubar teu manto e estendê-lo na Terra ferida,

Transformá-lo num tato que ame

Pra que, sobre ele, o Aikido possa praticar todas as pessoas


Visita o sono dos mundos e lembra que a verdade

É um sonhar acordado sem pedras nas mãos

Uma espada que des-fere o golpe de misericórdia

Pra que o outro ressuscite


Lembra a quem amo que sou grato

Por não precisar obrigá-lo a nada

Que ele ser deixa pra eu pensar no amor

É insuficiência crônica que me plenifica


Nossa Senhora, Virgem ou não

Você se mantém firme em sua concepção

De que o ser humano tem direito a renascer

De que a concentração e os campos

Não foram feitos um para o outro


Obrigado, por você se permitir

Perder a virgindade

Pra lembrar que o encontro entre os corpos não é sujeira

Que o sexo não é pecado, mas sim recado

Desde que as duas pessoas que o façam digam: Eis-me aqui

Que os corpos corrompidos pelo mundo

Podem resgatar sua dignidade

Que a mácula também é capaz de dignificar


Quando você chora

Os corações e os vasos Ming ficam despartidos


Obrigado por ter levado um carão de Cristo

pra antecipar o milagre segundo:

O de salvar a festa

Porque o primeiro milagre já tinha sido feito

O amor que, sem ser vinho,

Mata a sede

Sem ser bebido, inebria

Que des-mata, simplesmente




 


Visita quem amo 

5 de dezembro de 2020

O manto da invisibilidade

Fonte: Pinterest
 


Manter a coluna ereta: fácil-difícil

Achar-se digno de manter a coluna ereta: difícil-fácil


Manter a coluna da alma ereta: difícil-difícil


Respirar: fácil que pode se tornar difícil

Inspirar: difícil que pode se tornar dificil

Expirar: uma questão de tempo


Não permanecer invisível: fácil-difícil

Acreditar que se é digno de permanecer visível: difícil-fácil


Manter-se visível e com alma: difícil-difícil


Ser invisível à vista: lembrança de infância

Ser invisível à prazo: infância da lembrança


Sheila, da Caverna do Dragão

Ou Harry Potter?: eis a questão!


Continuar: fá-sol

Continuar: si-lá

Continuar: au-delà

Continuar: sem réus, sem dó

2 de dezembro de 2020

Poema de fim de férias

 

                       Foto: Karla Vidal


O hoje me lembrou de como fui feliz

Nos últimos quinze ontens

E não tem como me lembrar de ser feliz 

sem precisar cantar isso ao você que me lê


Quando escrevo pra ele, 

Entendo que os poemas são esculturas de amor diário,

Espadas que ajudam a amenizar a distância entre

Os dias em que ele me é dado de presente pela saudade

E os dias em que torna a saudade passado


E se ele quiser, estarei sempre esperando por ele

À porta dos dois meses do ano

Que seu sorriso rebatiza com sonho e chama

De feliz cidade


Não posso deixar de sentir

Vontade de fazer amor com ele

Dentro das catedrais

No meio das praças

Consagrados pelo profano

Segredo que a

Deixa escapar pelas frestas de seu dejá vu

E que a fé desconta na passagem

Já comprada para nosso próximo estarmos juntos


(Des)culpo a Deus por não ter permitido a Prometeu

Cumprir o juramento de nos dar a chama do teletransporte

Mas, agradeço a Ele por ter inventado as idas e vindas

Onde se escrevem os reencontros com o você que me lê





Para ajudar a revestir de paz e entusiasmo

Sua rosa dos ventos

Me arrisco a furar o dedo

Em qualquer fuso horário


Desde amanhã e até ontem,

Caber no teu abraço

Quer ser a melhor técnica secreta


Tua alegria, firmeza e determinação

Ou dúvida, hesitação e reerguimento

São a medida exata da minha admiração

E quando você me agradece

É preliminar doce e sincera do orgasmo 


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