5 de julho de 2018

Sob o signo de Ofiúco ou Sobre o idiota

Ofiuco by rebenke
                                



O verdadeiro idiota não é nada idiota 
Ele tem fortes convicções 

Faz questão de deixar o veneno na soleira da porta, 
Tomando chá de cansaço 

O idiota chega atrasado ao encontro consigo mesmo 
Perde a hora pensando em formas de não desapontar suas convicções  
Íntimas 

Apanha o lixo antes que os outros joguem 
Porque não quer que o sol desfile por uma passarela suja 

O idiota assume que não é mau o suficiente 
Nem bom o bastante 

Os idiotas parecem ser totalmente manipuláveis 
Mas, na verdade, quem pensa manipulá-los é que não consegue enxergar 
Um palmo além do arco-íris 

O idiota foi Virgem  
Até os 25 anos da prorrogação 
Isso não impediu que ele fosse tratado como  
Culpado de ser suspeito de ir pra cama com a maioria de todos 

E depois de ter deixado de ser Virgem, aos 15 do primeiro tempo 
O idiota foi condenado a continuar Virgem, mesmo após o 
Diagnóstico de Câncer terminal 
Com descendente em Ofiúcolua em Libras e rua em braile 

O idiota não teve direito a Iêmen  
Porque o falar da vida alheia 
É uma prece onde o Amém não é em nada complacente 


Independente de signo ou indício, o idiota é culpado por ser suspeito 
É suspeito de ser inocente ao se sentar na mesa dos poderosos 
De fingimento ao repartir o que não tem com os ricos 
De alta traição ao rejeitar as benesses da corte dos miseráveis 

Nunca houve um idiota que fizesse do silêncio resposta 
Ou que trocasse um abraço de um amigo  
Por uma conversa a sete chaves com a chefe dos exércitos franceses. 

A roupa do idiota parece ser de vidro costurada com bolhas de sabão 
Mas sua verdadeira couraça brota quando a armadura é despedaçada 
Não existe proteção maior do que a da convicção nua e de peito aberto 

Os espertos, os tiranos, os convenientes, os espartanos 
Todos tentando camuflar sua falta de convicção 
E se contentando com um reflexo especular que lhes diz: “Ainda bem que não sou como aquele idiota” 

Já os idiotas escrevem livros sem palavras, prefaciados por discursos de mudez 
E os deixam plantados como minas terrestres 
Prontas para explodir convicção e fé 

Os idiotas não se enxergam, graças a Deus 

2 de julho de 2018

O que dar de presente e de futuro a um quase ex-amor


Foto: Cláudio Eufrausino.


Parece mais fácil perdoar a virtude de um demônio
Do que o pecado de um anjo

Serei eu tolo o bastante pra honrar as rosas que desabrocham
de um dos canos de minha espingarda 11 (meu eu traidor preferiu se enforcar a ser fuzilado)?
O outro cano da arma engoliu o choro

Na hora exata, os dois corredores queimaram, ao mesmo tempo, a largada, ao som do tiro
Que me devolveu um estampido vestido de calada da noite

A raiz de uma asa delta plantou-se em mim com suas sapatilhas feridas
E o macho alfa que ainda restava em ti teve medo de me reencontrar

Afinal, se você tivesse me visto, correria o risco de querer me abraçar
Até o despertador se arrepender de seus planos

Confesso que não sou gay o bastante
Nem macho o suficiente
E quero lançar meu sutiã no zero absoluto
Pois meu seios fartos
Não aguentam mais ser malhados todo dia

Prefiro o ósculo aos músculos

Não quero que seja tarde demais pra me convidares a me revelar
À luz de jantares
Conseguirei ser bom o suficiente, mau o bastante e bobo na medida certa:
Como tu (des)esperas?

Não há lugar pra maldições
No meu coração apertadinho
Onde cada página virada é um horizonte que pare um sol indeciso entre nascer ou se opor

Quero te perdoar até ser capaz de te ex-aquecer
Mas não quero ter de gastar energia esculpindo nuncas mais
Ou arrumando nós para Nossa Senhora desatar:
Tudo isso em venérea ação ao Tô nem Aii que me dedicas

Obrigado por tal vez nunca ter sido obrigado a usar as camisas que te dei de presente,
As luzes que te darei de passado
E as nudezes que te dou de futuro
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