29 de janeiro de 2021

Sobre o acerto e o erro

 




Uma parte de mim queria que eu fosse acerto por inteiro

Pra que o você que me lê não queira-precise achar o endereço da vontade de ir embora


Quando eu erro, com ele estando por longe-perto

O erro se torna semente e diz verdades sobre quem sou

Sem me induzir a acreditar que pra acertar é necessário dar pausa em mim


Por mais que eu trave, quando o acerto não chega no tempo e espaço necessários,

O quem que me lê constrói comigo uma chave que abre a represa do meu potencial


Seu rosto é lindo,

Mas é mais bonito ainda o que consigo ver nele de olhos fechados

Senti-lo vivo, lutando distante-ao-meu-lado

E ajudando os dias em que não nos vemos a se enxergarem

Como preparação: igualmente valiosos


É do você que me lê a primeira dança, a primeira segunda, a primeira terceira, 

A enésima, a última primeira

Na festa do cotidiano, enfeitada de falhas, servindo sonhos

Os tropeços da realidade ganham sabor e luz

E repetir o traje do novo dia, de lírios, de orquídeas,

Tem sido alegria sem precisar ser como nunca nem como sempre

Porque a raiz dessa alegria é saber que, com ele,

Posso praticar como me despir da vergonha



19 de janeiro de 2021

Deixando amanhã pra poesia

Foto: Cláudio Eufrausino

 


A poesia me vê tão sem jeito de dizer o que sinto

Que toma posse do que escrevo

Daquilo que precisa do bater cardíaco do você que me lê

Pra se fazer ouvir em silêncio


Tudo tem sido tão antigo e novo e tão bom

Com ele, minha timidez deixa a veste do embaraço pra trás

Chamá-lo de anjo devolveu voo para as asas que não preciso ter


Um abraço só dele acorda em mim quase todo dia

Quase porque com ele não penso em viver só de beijos,

Mas de olhares e gestos sutis

De estar por perto lá onde as mãos não alcançam

Como um corte balsâmico de espada


E nos dias sem poesia explícita

Os vestígios de mim espalhados nas pegadas do destino-acaso

Possam rimar com o desejo de que o brandir da vida 

Ache nele a medida exata do fio e do desafio


Minha convicção está calma, aprendendo com você a respirar

Sem medo de deixar amanhã para a poesia


9 de janeiro de 2021

Retorno em sol maior

Foto: Cláudio Eufrausino




Depois que conheci o você que me lê,

Não há mais hora marcada no meu pensamento

Embora eu goste de fingir que nas horas com ele

A alegria agenda o renascer do sol

No dia em que ele deixou de vir,

E eu sem querer tinha esquecido o motivo,


O mundo ficou tão sem ele

Que a força da gravidade se levantou preocupada

Cambaleando pra cima


Quando ele volta,

É como se abraço e beijo

Se fundissem pra desconfundir

Os capítulos de Yin e Yang

Que a poesia me escreve

E pra sinfonizar os barcos errantes, dissonantes

Do meu céu-inferno nunca assim navegado d'antes


O você que me lê é um presente

E não precisa me convencer

Nem tem obrigação de sossegar meus quandos e porquês

Ele é livre pra ser dono de mim


1 de janeiro de 2021

Ano Novo secreto, vacina e sina

 



Se nesse Ano Novo,  toda máscara puder ser fora jogada,

Haverá lugar para os rostos?


E se toda ruga ou marca puder ser apagada

Haverá lugar para o tempo?


Fingimos querer a cura,

Mas como aceitar a cura

Sem aceitar do outro a procura?

E sem aceitar da procura

o por do sol, a loucura?


A vacina virá

Mas, o maior legado deixado pra nós

Pelo abnegado ano passado

É entendermos 

Que não cabe a nós vaticinar

Prever o que vai ser do eu, do outro

Do ceú ou do inferno


Que a cura e a vacina

Ativem em nós o desejo de deixar viver

E não a sede de cancelar o que é diferente

De cancelar até que só sobre o eu só

Em seu sobrado sem teto


A mão que vai nos vacinar

Não seja a mão invisível do mercado

E que a cura pra pandemia

Liberte o mundo da sina das grandes fortunas

Pra que seja finalmente libertada dos campos de concentração

a potência dos sonhos

das Áfricas em transe que moram em cada continente


Que os fogos de arte e ofício

Ao brilharem no piscar de olhos dos sinos,

Denunciem o Ano Novo Secreto que mora em todo ano novo

Plantando o solo onde a única fome que existirá

Será a de abraços

Que, independente de va(CS)ina,

Vencem as flores de aço e cansaço


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