25 de março de 2025

Etimologia do verbo Reclamar

 



Foto: Cláudio Eufrausino



Quando estava tirando algumas estrelas que esqueci penduradas no firmamento

Lembrei de algo que nunca tinha passado na minha cabeça

Que não tinha passado porque estava repleto de uma tempestade intemporal

E, a esta atura, o futuro nem precisava pertencer a Deus

Porque Deus só se interessava pelo Aqui-e-agora


Tudo se acalmou...

A lembrança entrou no salão de festas e disse ao meu Você:


No verbo Reclamar, mora duas vezes o clamar

E setenta vezes sete o Amar




21 de março de 2025

Teoria dos conjuntos

 


Colagem: Karla Vidal


Se eu pudesse, colocaria aqui todos os corações que

Deixei de colocar nos seus Stories: 

Aprendi a só saber postar meus corações pra você


Eu comprei a batalha de estar com você

E ganhei a descoberta da graça que é lutar por mim mesmo


É importante, quando sentimos que a felicidade está raiando:

Compreendê-la não mais como ré,

Mas, verdadeiramente, como sol


Você me enche de orgulho com suas lutas e luas

Ver você com a camisa na qual bordei uma semente que não cansa de brotar...

Achei você lindo

Os presentes que dou é pra que, em seus futuros, você fique ainda mais lindo 

Por onde for:

Se é que isso é possível



É impensável pra mim expor você a qualquer situação que, mesmo de longe,

Possa se parecer com um vexame

Tenho me afastado de você porque meu entendimento é que

A minha proximidade fez você sentir vontade de me banir, de me expor 

Às vezes, parece que me perder é uma questão de honra pra você



O que você falou me fez sentir um nada diante das pessoas

Meu coração se quebrou pelo avesso

Mas esse sentimento me fez entender

Que, no nada,  as sementes também conseguem germinar

As flores que renascem do nada carregam uma beleza impressionantemente

Destemida


Será que você é tão burro e insensível que não consegue escutar

Quando meu disfarce de silêncio fala com todas as letras

Que meu corpo quer fazer respiração boca a boca com o seu?


Queria que você estivesse comigo, vendo a Lua brilhar sobre o rio Amazonas

Ser abraçado pela cintura por você e seus afluentes

Estou tentando olhar pra outros

Mas eles não conseguem se vestir de você


Se eu tivesse de um lado uma montanha de ouro

E do outro, uma de prata,

Elas juntas não conseguiriam chamar minha atenção

Como você faz, sem precisar ser tesouro nem altitude


Vou colocar esta poesia pra dormir

Tenho sonhado com blocos de palha que não se encaixam...

Fico procurando um quadro que nunca se perdeu: nele está desenhada

A paciência, que o seu método científico  tenta, em vão, decifrar


Um abraço seu curaria tudo

Um abraço que não expulse o eu que está nascendo em mim:

Eu que tem força para enfrentar o nada, o tudo e até o conjunto vazio:

Que não consegue se esconder nem se achar




5 de março de 2025

Poema de Carnaval ardentemente calculado

 

Foto: Clécio Vidal


O Carnaval reforça minha convicção de que existe mais beleza no mundo

Do que os cálculos fazem supor


Em suas raízes, a palavra Cálculo significa Pedra 

E, se não for assim, que o seja nesse poema:

Agridoce margem de erro


O calculismo pode induzir a achar tudo feio,

Com exceção do que é eleito para ser perfeito

Para desfilar no alto da alegoria que não sabe o que é pisar o chão


Talvez seja isso: o carnaval me mostra beleza onde se pisa o chão

E que eu não caia na tentação de elogiar a miséria que desumaniza, 

Reduzindo a beleza ao conformismo: a achar que tudo está onde deve estar


As batidas do Maracatu, do Frevo, do Axé

Sacodem o borralho e desescondem príncipes e princesas

Na passarela-múndi, tem lugar para belezas nunca dantes vistas desfilarem

Belezas que são empurradas para debaixo do tapete da história


A beleza do carnaval mostra leões brotando fora da selvageria

Lanças emergindo fora da guerra, para ferir a tristeza

Ridículos sendo mais sublimes do que sonha a vã prosperidade teológica


Decididamente, não é possível enxergar a beleza que o carnaval desesconde

Quando se está num camarote de marfim instalado no coração de Marte

Por mais próxima e privilegiada que seja a visão,

Ela precisa pisar o chão da folia [alegria, loucura]

Precisa se tornar indigna o bastante pra enxergar a beleza que não é herança 

Nem foro privilegiado

Beleza que prefere um mundo cheio de bijuterias que valem

Por sua criatividade e empenho

A um mundo onde só vale o que é ouro e prata: tristes e poucos


A deusa Atena - do bom e justo combate - prefere as bijuterias

Dizem que ela puniu Aracne, por inveja: Fake News

Ela e Aracne são uma só: e muitas

Porque na Casa do Senhor há muitas moradas, namoradas, namorados e namorades

Namor que durma com uma onça dessas!


Toque de Midas?

Toque de mídias?

Me basta o toque do meu Você

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