21 de abril de 2021

Poema do Falo e do Escuto


Foto: Cláudio Eufrausino



No meio do meio que impossível caminho chamado "Acreditar no ser humano",

O você que me lê me deixou sem chão

E meus pés finalmente acharam uma base firme


Os que vieram antes eram meros arrombadores

De cofres

Não sabiam (porque não se importavam)

Nada sobre preliminares das preliminares

E minha poesia terminava se vendo obrigada a se ver

Como um experimento sob tediosas e controladas

Condições de temperatura e repressão


Quando a chuva do meu sonho sem eira

Encosta sua travessia no travesseiro,

Meus dedos ficam treinando caligrafia

Na fronteira interna entre o tríceps e o bíceps

Do você que me lê

E ao caminhar nesse desfiladeiro,

Olho pra baixo e vejo o seu Falo

Se erigir

E quando ele fala,

O mastro se acende e transforma as velas

Em braços abertos para acolher minhas tempestades de calmaria


E basta meu silêncio começar a ser escutado pelo dele,

Pra meus aperreios rirem

Ele sabe montar em mim sem arreios

Me voar sem escalas

Reunir tantos arroios dispersos na confusão de mim

E desaguá-los em "Voilás"

Sem prestar contas a cupidez, flechas, arcos nem trunfos


Sei que, no fundo, por mais excitados que estejamos,

Não somos grande coisa,

Somos triviais, comuns, banais,

Mas, debaixo dessa couraça

Existe um grande herói desprotegido:

O que também não importa

Porque eu escolho gostar do herói

Que o você que me lê é

E escolho trai-lo com sua identidade secreta

Quero dividir com os dois-em-um o leito onde o rio

Da vida ri da própria tentativa de encontrar socorro

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