21 de maio de 2021

Poema da respiração cicatrizada

 


Foto: Karla Vidal @karlagvidal



Só recentemente me dei conta de que já perdi a conta

De quantas vezes eu prendia a respiração num (co)lapso de tempo

Qualquer mínimo gesto - até pra abaixar e buscar algo que caísse no chão -

Tinha como prelúdio o prender da minha respiração


Esse prender a respiração soava como um momento de suspensão,

No qual ficava de frente com a fronteira turva entre o possível e o impossível

Como uma queda que não consegue cair

Ou uma decolagem forçada a colar sua aterrissagem nas nuvens


A respiração entrecortada se refletia na fragmentensão (fragmentação + tensão) dos movimentos,

Da existência e da insistência


Nesse último mês, minha respiração entrecortada avançou em seu processo de cicatrização

Sinto isso refletido na postura, na concentração e na capacidade de ninar os impossíveis

O treino da arte de ser eu mesmo está avançando a olhos revistos


O você que me lê é inspiração e ação nesse tratamento existencial-respiratório

Por isso, o que sinto por ele me faz achar o fôlego que estava perdido

Por isso, quero reaprender a beijar com ele,

Que mesmo distante consegue me abraçar 

Com a força ressignificada pelo suspiro da corça diante da água doce


Só ele consegue descriptografar meus gestos de carinho e afeto

A presença dele é a senha de acesso a mim

Sem precisar de impressões ou pressões


Minha seriedade é, no mais das vezes,

A expressão contida de uma chama

Que não pode correr o risco de ser chamada de fogo


Gostar dele pelo que ele faz é simples,

Porque é inevitável

Mas, fico feliz cada vez que descubro

Que gosto dele também

Pelo que ele não precisa fazer





 


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