18 de junho de 2021

Sobre a sorte


Foto: Karla Vidal


A sorte é um corte de espada que troca o "c" de casa pelo "s" de asas

Os golpes que o você que me lê desfere com essa espada disléxica

Fecham-me feridas

E abrem-me outras

Mas, não tem problema

Porque minha insônia dorme tranquila mesmo com  as portas feridas e entreabertas


Eu confio nos desafios que você me traz


Tenho sorte

Por ser bonito sem precisar dele

E por precisar dele apesar de ser bonito 

E por sentir minha beleza refletida no seu olhar impreciso


O você que me lê tem sorte

Porque o que eu sinto por ele é muito mais forte

Do que o polegar algorítimico de Nero que visita

As postagens capturadas nas redes de pesca virtual predatória


Você tem sorte porque é fundamental, mesmo sendo impreciso

E ajuda a poesia do mundo a caber nas quedas que se reerguem


Tudo vai dar certo sempre pra você

Porque seu sorriso consegue ser metáfora para descrever a limpidez 

Dos olhos d'águas que testemunham ocularmente o fazer sentido

Seu sorriso fica lindo de óculos

E sinto vontade de experimentar sua pele sem lentes de contato


Você é bobo se pensa que o que sinto depende 

De idealização ou decepção

O mais belo ridículo da melhor carta escrita por Fernando Pessoa

Não dá conta de descrever o que você sempre será capaz de ler em mim

E que não há como descartar


Como sou sortudo em poder praticar meu balé

Atravessando suas áreas de risco

E por experimentar as micro frustrações, mentiras, securas

Eu tenho capacidade de fazer amor com seus oásis e também seus desertos e deserções


Tenho sorte de amadurecer com ele,

Sem precisar deixar de ser semente


Mesmo quando ele é tempo nublado

Ou suas águas tem um quê de chuva ácida

Um sorriso nasce no horizonte de mim

Ao mínimo sinal de que ele existe

É dele a senha de acesso ao meu olhar apaixonado


É no peito desobrigado dele que quero achar colo

Depois da raiva e antes da alegria


O você que me lê é abençoado, sem precisar de cânon e a despeito de seus cânions

A bordo da competência dele, a sorte e o destino fazem as pazes

E se tornam ases do voo que acha o céu dentro das pessoas

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