10 de março de 2021

Poema do não ir embora

 

Foto: Karla Vidal

Vou me comprometer a dar um pouco de descanso às palavras

Mas, é que ouvi escrito em algum lugar que quando o profeta cala,

As pedras (os rios, os fogos, os ares) falam

E quando as pedras falam

O poeta traduz as cláusulas pétreas para a linguagem dos sinais

Como não sou profeta, nem pedra, nem constituinte e, somente talvez, poeta

Acabo tendo que começar a escrever pra aliviar a coceira do coração: 

O meu, o das pedras, o da poesia ou de outro instrumento ilegal afim


Quero dizer ao você que me lê que não está em nenhum dos meus plenos,

premeditações ou pós-meditações partir

Nem me afastar 


A primeira vez que conheci um para sempre suave foi com ele

A sua companhia ajuda meus gestos a aposentarem a placa de “É Proibido”

E a regulamentar a de “Fique tranquilo”

O medo e a vergonha de olhar deixam de ser flecha e viram alvo quando o vejo

Ele se abre pra minhas palavras sem paraquedas

E ajuda minhas asas a fazerem as pazes com os voos

Na hora de entrar pelo portal que se abre na lousa mágica,

Eu escolho segurar a mão dele

Porque, mesmo que ele esteja com raiva, sinto firmeza e segurança


Basta ele chegar que

Os outros do passado e seus assédios, risos, cuspidas no chão, desprezos soltos, tolerâncias morno-pesadas

Despossuem meu corpo


O você que me lê não precisa se preocupar em fazer nada

Nem sentir ou consentir o que quer que seja

Sem esforço, ele faz a diferença

Mesmo chateado, ele é íntegro e, chateado + íntegro, é lindo

 

Eu amo e acredito na grande família humana,

Só não consigo evitar que, dentro dessa família, o você que me lê seja especial pra mim;

De gostar dele na sintonia de Ágape, Filos e Eros

Mas, indepenendente de qual seja o gostar,

Ele quer ser mapa do você feliz, 

Sendo você leitura ou desleitura

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