16 de março de 2021

Remédio para a impotência gravitacional

 


Foto: Cláudio Eufrausino
Pintura: Leila Ribeiro (Girassol)


A poesia precisou abrir um pouco mão do seu voto de silêncio e cio

Porque o dia de hoje pesou 

Sobre os ombros da minha impotência gravitacional:


Acampei numa contenda

Mas, o conflito se tornou figurante 

Porque a lembrança do olhar do você que me lê

Estava na plateia ouvindo o concerto da minha paz que achou voz


E senti vontade de despir o traje de falsa presa que

Me vinha sendo atribuído há tanto contratempo


Da luta doce e firme do você que me lê,

Colhi energia pra demolir os punhos da desumanização

E consegui acolher

A vitória do meu eu desertor

E pude ser uma grande dose de mim mesmo

Com bônus de amanhecer


Abri a porta e saí pra dentro de mim

E me surpreendi que a roupa de ilha cercada de recreio solitário -

Lavada com intimidação -

Ao tirá-la do varal,

Ela tinha se tornado pradaria deslavada

Desembainhando raios de sol com cheiro de amaciante


Quero compartilhar com o você que me lê

O dia de hoje,

Minha coragem de tremer quando ele chega perto-longe

Minha desnecessidade de aniquilar

O caminho limpo que deságua de mim,

Dividindo o mar do conflito 


A contenda da qual falei

Perdeu o sentido

Porque tudo o que queria fazer

Era me sentir nos braços da proteção do você que me lê

E, como um agiota,

Emprestar aos anjos com os quais desejo que ele durma

Desproteção o bastante e proteção o suficiente


E, quando chegar a hora dos arcanjos pagarem,

Abro mão de juros e promessas

E me contento com o tesouro dos abraços

Que o eu profano dele possa ter guardados pra mim







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