2 de março de 2021

Poema do Monte "Não Fugir"

 

Nuvem Gigante - Foto de Karla Vidal


O que acontece, a mais ou a menos, tem a medida certa

Quando estou com o você que me lê


O contorno do cabo das tormentas do meu coração

Se enche de esperança e convicção

Quando ele chega


Só de ele estar perto-longe

Os pontos erógenos do meu corpo

Ganham o poder do sinal de reticências

E os do espírito...


Sei que ele já sabe

Ou está bem perto de (re)descobrir

Como meu olhar se derrete por ele

Sem que ninguém mais perceba

E como meu corpo se desmancha

No seu abraço premonitório


Se perdermos a vergonha um com ou outro,

Depois, seguiremos leves

Porque ele conquista de mim um gostar

Cuja nascente é a crescente lua do gostar de mim mesmo


Nietzsche ficaria confuso e excitado,

Tentando entender como os aquis-e-lás-e-agoras

Que vivo com o você que me lê

São reais e íntegros e despressurizados


Mas, de vez em quando, 

Gosto de imaginar

Que num passado paralelo

Ele foi meu melhor amigo desde sempre e para sempre

E lutou o primeiro beijo comigo

E dançamos juntos a primeira luta



De qualquer modo, esse passado

Não é melhor do que ele existindo na minha vida

De uma forma melhor do que eu jamais teria pensado


Sinto que, caminhando com ele,

Teremos sempre tempo pra um bom combate

Antes do que tiver de ser

E depois de haja o que houver

 

Posso subir no topo do monte "Não Fugir"

Porque já consigo sentir a mão dele me segurando

Mesmo sem a colaboração do tato e do espaço


O que a nudez dele insinua por baixo do calção

Deixa minha mudez de boca aberta e descalça

Eu deixo e ele pode chegar em mim

E decifrar minha pista aérea

E voar comigo e com o meu chão nos seus braços






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