17 de maio de 2013

O dia em que a Terra parou (por ordem da CODECIR): E o mundo era um Recife submerso

Eu vi o Mundo e o Mundo era um Recife Submerso
Foto de Cleciopegasus


A chuva amanheceu dia e o Recife era uma vesga onda tentando lutar contra um paredão de águas
Enquanto ondas de carros, motos e gentes
Quebravam sem conseguir alcançar a margem
E o sonho meteorológico de que em maio não choveria
Morreu na praia
Já a bênção de São José: esta não conseguiu desintegrar-se na atmosfera
E, como Pernambuco-Brasil acredita que a bênção não tem data de validade ou efeitos colaterais,  deixa às ruas a sina de serem territórios da providência onde minas aquáticas, popularmente conhecidas como bueiros, aguardam como bocas de lobo sedentas os desavisados passos de quem tentava fazer o atraso chegar na hora.
Dificultava a situação o fato de as bocas de lobo não uivarem
Eram como baleias: engoliam a pessoa com tripa e tudo
“Minha mãe uma vez caiu num bueiro inundado e foi salva pelos cabelos”, conta um anônimo amigo feito durante o temporal de tempo perdido. Salva pelos cabelos, à moda da pedra lascada.
E aprendi com um guia turístico , a bordo de um catamarã, que Recife é uma palavra árabe: “calçada do mar”
Hoje, perguntei-me como seria, em árabe, “calçada do alagamento”
Certamente talvez, a culpa dos alagamentos seja das pessoas que caem nas bocas de lobo:
Afinal, elas não olham por onde andam
São José também se sentiu culpado, pois não teve como mandar chuva para o sertão sem
Importar tromba d’água do litoral
A bodo de uma High Lux, Um Zé Mané deu uma de Moisés
E quis dividir o mar de muitas cores e lixos e barro:
Gerou uma onda que quase submergiu o ciclista do qual o Zé Mané tirou um fino. O ciclista ti-
Tubeou, mas conseguiu ficar de pé no meio daquele tubo: irado, mermão!
E pensei:
Em Paris, meu glamour estaria a salvo,
Pois, em caso de alagamento,
A Tour Eiffel me salvaria
Mas, talvez fosse mais simples pedir guarita na Bica de Brennand,
Popularmente conhecida como Torre ou Coluna de Cristal
Estava eu, no Recife: uma releitura chuviscosa das mil e uma
Noites.
Robson Crusoé me emprestava sua companhia invisível. Éramos sócios naquela empresa: chamada Infortúnio
Que vontade de estar no Shopping Rio Mar, o maior da América Latina empatado com o Shopping Recife. Mas, para isso tinha que atravessar a maior avenida da América Latina: a Caxangá, que estava uma obra só: em preparação para a Copa de 2014 que não chega nunca. E, como chegar ao maior shopping da América Latina (doravante AL), se precisava atravessar a maior avenida da AL, que continha a maior obra da AL, o maior alagamento da AL e o saco mais cheio, da AL
Resolvi, então, telefonar para outro amigo invisível: chamei Jó para jogar
E, como não tínhamos saída, ele me deu carta de alforria:
Só não estava assinada
Porque ele era quase tão invisível quanto um funcionário-fantasma
E eu me sentia tão cheio de sanidades
Ali
Ilhado naquela praça,
Vendo o Recife alagado ao ritmo da
Chuva intermi-
Tente:
Uma valsa de mau-gosto
Recife que, àquela altura, tornava-se propriedade, por usucapião, de Afogados.
Foi, quando, de repente, enxerguei:
Robson Crusoé.
E pensei: será que estou ficando rouco?
Mas, meu juízo permanecia perfeito,
Pois conversei com Jó e
Ele me disse que continuava invisível: eu

Quando Chove - Patrícia Marx

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