Fonte: Pipoca.blogspot |
Por que Charlie Brown (Peanuts ou Mindoim) ganhou uma pedra?
Nem mesmo Maria de Magdala ou os troianos conseguiram
decifrar o enigma que embrulha este presente. E mais misterioso ainda é o fato
de Peanuts, mesmo com tantas pedras na mão, não fazer da mágoa a primeira opção
ao ser convidado para jantar no restaurante “Da porta pra fora”: logo ele que
tinha escolhido a melhor camisa, considerando que todas as suas camisas eram
iguais. E tinha caprichado no perfume. E até usou Biorene para aprumar sua
franja de um fio só, franja esta que, até hoje, faz o Cebolinha se descabelar
de inveja... Tudo isso para jantar na companhia de seu cupom do Peixe Urbano.
Mas, já estava escrito nas linhas tortas da mão de Deus que um dia Charlie
Brown haveria de dançar com seu grande amor.
Charlie Brown não percebe quando as pessoas lhe dirigem um
Bom dia ou Boa Noite como se estivessem dando uma esmola cravejada de
diamantes. Não é que ele seja ingênuo. Ele só sabe que as pessoas preferem dar e
receber esmolas porque têm medo de dar e receber tesouros. Medo pertinente
porque quem entrega tesouros ao outro, espera receber de volta o mapa da
preciosa esperança.
Segue uma frase feita, uma pequena colaboração para que o bom
e velho hábito de ser piegas não desapareça da face da Terra: a esperança escapa
das nossas mãos ocupadas em tentar catar no vento os males que Pandora derramou
da caixa...
Mindoim ganha pedras porque as pessoas enxergam nele
esperança e ternura suficientes para decifrar nestas pedras os corações que
subsistem, fossilizados por camadas e mais camadas de dores, medos e cansaços.
É grande o fardo de Charlie Brown, mas ele é despretencioso e,
por isso, o fardo se torna até leve.
Nós nem percebemos, mas os personagens de Peanuts usam
armaduras. As armaduras são o caráter. Uns usam armaduras de acanhamento,
outros de raiva, outros de mansidão, outros de romantismo, outros de ceticismo
e armaduras que nenhum sufixo pode nomear. Certamente talvez, todo mundo é
convidado a vestir a armadura da nudez, que não significa a falta de caráter,
mas sim o auto-questionamento.
Certamente talvez, é besteira focar as armaduras em vez de
foca a postura durante o combate. A pessoa pode ter o caráter raivoso ou
pacífico ou tímido ou espalhafatoso e lutar de forma justa e honrada. Quando isso acontece, o pacífico e o raivoso
são vencedores porque conseguiram vencer a dose de injustiça e desonra que
havia em ambos. O bom combate não é destruir o oponente, mas abraçar o que
dele, antes do início da luta, havia em mim.
Charlie Brown ganha pedras porque sua doçura é um convite
para que os adversários se desfaçam das armas e achem espaço nas mãos para que
a esperança pouse.
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