6 de maio de 2016

Poema de antes do aterrissar do ônibus

Foto: Karla Vidal


Retrovisor

Antes do aterrissar do ônibus,
Desembarcou naquela parada a saudade de algo que até então não havia experimentado
Você deixou o clássico do futebol em casa de castigo
E preferiu assistir comigo à espera pela chegada da mudança do destino

Que bom poder recostar minha ansiedade no teu paulatinamente
Desatando alguns nós do meu desatino
Teu olhar parecia dizer que continuaria a esperar por mim inteiro
Depois que eu partisse

O medo de estragar tudo fez com que eu te olhasse de soslaio
A partitura do teu rosto, escrita em sol maior, tocava-me:
Desejo de que tuas mãos me jardinassem
Até os desertos se renderem

Ante o teu magnetismo, as miragens perdem a graça
Teu abraço está, aos poucos, cassando o título de posse do abandono
O que quero de presente?
Um monte de agoras como foi o anteontem

Enquanto te ouvia falar, quis fazer um acordo contigo
De, no meu aniversário, ou antes, quem sabe
Poder estar por perto quando o acordar vier buscar um dos teus sonos
E quando, acordado, começares a sonhar 

O ônibus pára defronte as águas tranquilas do nosso até logo
Agradeci ao meu retrovisor por ter se quebrado 
Fazendo-me perceber que era chegado o momento de olhar adiante

Antes de passar pela borboleta, minha psique me alertou que
Eu era alguém que partia a bordo de um coração não mais partido

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