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No dia de Corpus Christi, não posso deixar de pensar que o
corpo de Cristo é corpo das mulheres e dos homens, sem discriminação: “Tomai e
comei todos vós”.
Cristo, sendo homem e pertencendo a uma sociedade em que os
corpos femininos eram considerados propriedade dos homens, oferece a si mesmo
como alimento e mostra que o que faz de um homem um homem é sua humanidade e
não o fato de ele “comer” mulheres.
Ele dignificou uma mulher considerada adúltera, mostrando
que os corpos pertencem exclusivamente a nossas próprias consciências. Também
dignificou uma mulher que era considerada impura e intocável por ter um grave
problema no seu fluxo menstrual. Mostrou que o ser mulher não pode ser reduzido
ao pobre conceito de pureza nutrido pelo machismo absurdo.
A ação de Cristo escancara as raízes podres de um abjeto
ideal de pureza, entendido como senha de acesso ao corpo feminino. A mulher
considerada impura seria, nessa perspectiva, “naturalmente” sujeita à violência
sexual, tanto de ordem física quanto psíquica. Por este motivo, a violência
sexual é comumente acompanhada do gesto ignóbil de expor publicamente a vítima.
Jesus se dá como alimento também aos homens, derrubando, com
a simbologia de seu gesto, a sanha homofóbica que assola a humanidade desde o
princípio. Um homem que penetra outros, na simbologia eucarística, redimindo o
terror sofrido pelos homossexuais, vitimados, na mais branda das hipóteses pelo
nojo, quando não são objeto de pilhéria e tortura, como o foi o próprio Cristo.
Quando Jesus Cristo se dá, na Eucaristia, entregando-se em
corpo, sangue e espírito, ele estabelece a nova e eterna aliança entre os seres
humanos e Deus. E faz não caber nesta nova e eterna aliança os valores
esclerosados relacionados às fronteiras covardes e preconceituosas erguidas
entre o corpo do homem e da mulher, assim como entre o corpo de um homem e
outro, de uma mulher e outra.
A nova e eterna aliança não admite que o corpo feminino seja
invadido pela fronteira de uma sexualidade machista e distorcida. Na hora da
descida do Espírito Santo, estavam reunidos juntos, em pé de equidade, homens e
mulheres, recebendo equitativamente os dons espirituais e a potência de
marcarem sua presença no mundo por meio do discurso. A comunhão não é só
representação da vida em comum, mas um manifesto contrário ao terror de uma
sociedade que relaciona homens e mulheres como se aqueles fossem "o invasor" e estas "a presa". A comunhão representa o êxtase da equidade entre os corpos e a
alforria de seus diferentes enlaces sejam heterossexuais ou homossexuais.
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