Foto: Carolina Pires
Certamente talvez, me chamem de capitalista utópico, pois acredito que a moeda, em 2016, serão os inquantificáveis: gentileza, atenciosidade, comprometimento (que não é igual a
compromisso), Otimismo e Pessimismo autocríticos: coisas que requerem tenacidade e precisam lidar com o risco do fingimento. O não-fingimento, então, será um
insumo raro e preciosíssimo. E será necessário se desvencilhar dos delírios da década, a
exemplo da ideia de que ser não fingido é dizer tudo, desreprimir-se totalmente de uma só vez e de
forma concisa.
Saber quando dizer pouco ou dizer mais um pouco
serão especiarias
E, como é sabido por quem bem o sabe, não se chega à terra das especiarias sem passar pelo cabo das tormentas. Mas, em 2016, é líquido e certo que a taxa de câmbio intercósmica fará cada tormenta valer o sétuplo em esperança. Diferente dos condimentos comercializados no século XVI, o calar e o falar no momento adequado são especiarias que não se poderão trocar por escravos.
Aliás, o lastro da moeda de 2016 serão corações livres e, portanto, complicados
O principal papel do Administrador, em 2016, será
administrar mal-entendidos suscitados pelo Não, pelo Ainda Não. Pelos tirânicos sempres e nuncas que, secretamente se
infiltram em nossos gestos, em nossas Faces, em nossos livros, redes e águas
Poder pensar errado em voz alta será um luxo muito mais
acessível em 2016:
Sem que se corra o risco de reduzir tudo que a pessoa pode ser
ao seu pensamento,
Ou ao que ela escreve o a qualquer tipo de gesto
A reciclagem de atos, palavras e omissões, sem culpa, fará surgirem muitos novos postos de trabalho no mercado porque quem não tem medo de ser jogado fora: só este abre a sela
onde os tabus trancam a criatividade
Será preciso converter em investimento as moedas de 1
centavo dos arrependimentos
Porque a taxa de administração de sentimentos inúteis será
altíssima
Dar o troco será perda de tempo porque a reconciliação ofuscará
o brilho do ouro
Isso não significa que a prosperidade estará atrelada ao
estupro da vontade: falo de reconciliação como quem fala da redescoberta do
humano, do perdão que, em vez de apagar o que foi escrito, transforma os textos
em palimpsestos. O perdão será, em 2016, uma nova e valorosa camada capaz de
aposentar a cal e os sepulcros
A taxa de juros será reduzida a zero porque a sinceridade
voltará a valer mais do que as promessas.
Ficar bem na fita passará a ser bijuteria de quinta. Os
discursos funcionarão como carros a álcool: será possível começar com
contradições, ir aquecendo, adicionando-se poesia e também silêncios, sem ser
necessário vergonha, até o veículo dos afetos pegar.
O abraço ajudará a equilibrar o balanço contábil de
quaisquer empreendimentos
E as crises serão motivo de alta na bolsa de valores porque
estimularão a combinação dos inquantificáveis supracitados, adicionando à lista
um bom papo e um porre mediano de tangirosca.
A antiga linha de produção será uma pálida lembrança diante do caminho de paz e de alegria que está por vir. Mais do que o carro ou o AP, as pessoas, em 2016, desejarão encontrar o seu eixo, o seu mar e reconhecer quando têm diante de si a alegria e a paz. Como afirma a fotógrafa Carolina Pires,
é segurar no leme e ir, reconhecendo nossos mares e amares.
2016 será um ano onde os retalhos costurados com amor revelarão um novo tipo de riqueza: a riqueza caleidoscópica. Como dirá a fotógrafa Karla Vidal, o bom investidor no Ano Novo será simplesmente aquele capaz de descobrir novas formas de olhar. O descondicionamento/reinvenção da visão de mundo será o capital por excelência no ano que está por vir. Confira o esquema abaixo, referente ao investimento rentável no olhar caleidoscópico:
Foto: Karla Vidal
Nenhum comentário:
Postar um comentário