Fonte: Labcriativo |
Cantada
Por Cerevenise Stür
Passeando pela beira de um abismo, encontrei uma camisa gola
polo e puxei conversa
- É lindo esse rapaz dentro de você. Sim, esse mesmo que não vai ter chance contra o meu beijo.
Acanhada, a camisa quis se deixar abotoar até a garganta de seu
hospedeiro
Insistente como sou, perguntei:
- Você não poderia dar uma saidinha com esse Jeans
antipático
E me deixar a sós com seu refém? Aproveita e desliga também
o samba-canção
Pois nos bastarão os silêncios destemidos, de gemidos, os
silêncios gêmeos.
A camisa, a calça e o samba-canção estavam apreensivos, pois
à beira do precipício
Havia muitos perigos, dentre os quais o frio, a paixão e o
principal: o perigo de alçar voo.
Um par de tênis alados fincou pé e não quis nos deixar a sós
de jeito nenhum
Não tive saída a não ser colonizar o corpo nu daquele homem
semi-precipitado
Isso porque com um breve piscar de olhos, ele revelou que eu
era o donatário dos seus sonhos
E que só alguém como eu teria moral para capitanear sua
hereditariedade nesta encarnação e na próxima
Aquele moço nu e calçado me disse ter receio de eu não saber
O momento de rezar a prece do ir embora e
E o de cantar a blasfêmia do retornar
Pense num cabra idiota:
Tinha asas nos pés
Um amor à sua frente
E ficava se preocupando com as roupas que partiram
E com os olhares vigilantes do céu e do abismo
Tudo que eu queria era armar uma cama flutuante
Mandar minhas roupas irem ver se a esquina estava lá em mim
E ficar nu em solidariedade à safadeza daquele par de tênis
Nisso, algumas questões me atormentavam:
- Será que dá trabalho transar voando?
- Será que fazia perigo de o orgasmo nos lançar na estratosfera?
- Será que estávamos sendo justos em desligar o abismo com o
nosso fazer amor?
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