Cena do vídeo premiado do gato que atua como filósofo existencialista |
O fenômeno do gato que ganhou um prêmio por sua performance como filósofo existencialista aponta para uma reflexão sobre o zoocentrismo. Uma parcela da humanidade parece fatigada de engolir um mundo em que o “Homem” é o centro das atenções. E apostam suas fichas nos animais, projetando neles a nostalgia pelo bom selvagem. Mas, como é sabido por quem bem o sabe, a procura pelo bom selvagem tem, historicamente, se mostrado uma procura por alguém que possa nos fazer acreditar sermos capazes de suprir as carências que a civilização nos impõe.
O animal é amado por ser fofinho, como um bebezinho. Por trás desse
discurso, ama-se menos o animal e mais o que ele representa: um bebê que, ao
fazer 18 anos, não gritará: “Independência ou morte!”.
O animal é amado por ser um amigo fiel, como jamais nenhum ser
humano conseguiria... Por trás desse discurso, ama-se no animal a presença de
um confidente humano capaz de nos ouvir sem oferecer contestação ou
resistência.
Providencial é querer amar os animais como quem procura neles a parcela da
presença humana que não gera desconforto, que não nos oferece resistência ou
contradição, que vive para ser refém de nossos cuidados, sem que das minas de
sua alma corra o risco de brotar um veio de inconfidência. Vide o filme O Planeta dos Macacos e pensai se os
animais continuariam sendo considerados fofinhos se almejassem estar em pé de
igualdade com os seres humanos.
O gato filósofo nos faz rir porque sintetiza alguns de nossos
desejos mais contraditórios como a busca por alguém que compreenda a fundo nossos
temores, dúvidas e terrores sem que haja o risco de ele olhar para nós e nos
questionar: “Tens certeza do que falas?” ou pior ainda: “Tens certeza do que
és?”. Rimos do gato porque ele representa o desejo secreto humano de ter à disposição um Sócrates preso à coleira e que não faça sujeira fora do montinho de terra "que lhe cabe nesse latifúndio".
O amor aos animais existe, sem dúvida. Mas, como todo amor
verdadeiro enfrenta ilusões. Uma delas a de que se corre o risco de amar menos
o animal e mais as metáforas que ele catalisa, a exemplo da força, da inocência
e, particularmente, da rendição voluntária e da amabilidade incondicional.
Esta postagem é dedicada Anuska Vaz, que me providencia pautas para muitas das discussões de cunho científico deste blog. É dedicada também, com sentimento, a Ana Carolina Morais.
P.S.: O gato existencialista é mesmo fofinho.
Vídeo premiado do Gato Existencialista
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