O canto do Corujão tem sido uma nota destoante na melodia
monótona da programação da TV aberta. E, como é sabido por quem bem o sabe, o
zapear dos canais é o elo perdido entre o acaso e o destino. Embalei a insônia,
assistindo a Front of the class (só
não descobri se quem saiu ganhando com isso foi o acaso ou o destino). Dirigido
por Peter Werner e protagonizado por James Wolk, o filme é baseado na vida de
Brad Cohen, um norte-americano que luta para que sua síndrome de Tourette não
faça adormecer o sonho de ser professor.
Cohen enfrentou muitas humilhações até conseguir uma
oportunidade de fazer a balança da esperança deixar de pender para o lado do
absurdo (outro nome para a esperança reprimida) e passar a pender para o lado
da possibilidade. Antes de ser aceito como professor, Brad foi recusado por 24
escolas. Seu carisma e boa aparência não eram suficientes para driblar o preconceito
contra a síndrome de Tourette.
Certamente, a história é ferida pelo clichê “Eis uma lição
de vida” e, fatalmente, remete a um dos épicos mais populares do You Tube: a
saga de Joseph Climber. Mas, quando se dá espaço para que a ferida cicatrize, percebe-se
algo inusitado: o modo como o personagem além de administra a síndrome de
Tourette, precisa lidar com a síndrome da esperança.
As duas síndromes têm em
comum o fato de trazerem um componente involuntário em sua composição. A Tourette
caracteriza-se por tiques nervosos (em casos mais raros a pessoa xinga e fala
palavrões involuntariamente) e espasmos musculares devidos a descargas
elétricas que, ativam áreas do cérebro contra a vontade do portador da
síndrome.
Para enfrentar o problema, Cohen dedica-se com tamanho
afinco ao trabalho que cativa as crianças para as quais dá aula. Não tem vergonha
de rir de si mesmo e faz de suas limitações uma porta para a criatividade e um
fator do qual brota a credibilidade que o faz ser reconhecido como o melhor
professor do ano.
Dá pra dizer que Cohen é um viciado em esperança. Muitos
insistiam que ele abortasse o sonho, considerando inútil gestá-lo como alguns
consideram inútil a gestação em casos de anencefalia. Mas, o personagem
recusa-se a admitir que a esperança seja abortada sem ter tido direito de nascer.
Ele até se
desespera – desespero que o filme preguiçosamente ilustra com cenas de um
apartamento bagunçado onde Cohen perambula com a barba por fazer... Mas, com o
apoio dos amigos, da mãe, e principalmente da gilete e do creme de barbear, ele
retoma a esperança, que, como é sabido por quem bem o sabe, é uma droga das
mais potentes (Mas, de acordo com um dos pensamentos de Epicuro – Best Seller nas padarias e barzinhos - é
a dosagem que define a fronteira entre remédio e veneno). “A esperança é um
hábito difícil de escapar”, diz Cohen a certa altura da película.
Certamente um vício nunca vem desacompanhado. Quem fuma,
comumente bebe junto café ou coca-cola ou os três juntos (sempre ao lado de um vício
explícito há um vício secreto...). Com a esperança não seria diferente. O
co-vício dela é a impaciência/teimosia.
Dotado de esperança profunda, Cohen é
ferido em cheio pela impaciência. Isso faz com que ele perca oportunidades,
pois a ansiedade nos testes intensifica a Tourette. Sobre isso, o personagem diz: “É difícil ter
paciência quando parece que se está perdendo a última chance”. É verdade! (pelo
menos até que alguém que nunca teve esperança ou impaciência atire a primeira
pedra)...
Mas, certamente a esperança é um vício que não mata. Afinal,
como ela é a última que morre, precisa da plateia pra lhe fazer companhia...
Cena marcante do filme Front of the Class (principalmente a partir de 2:40)
Gostei da reflexão e quando puder vou assistir o filme.
ResponderExcluirVale a pena assistir. E ainda vale a pena assistir o vídeo de Joseph Climber, que é muito engraçado. Brigadão pelo comentário! Segue o link do vídeo de Joseph Climber: http://www.youtube.com/watch?v=3v3hM0x2AAg
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